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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Islamofobia, por Jurandir Soares


Estaria a ação dos terroristas contra o jornal Charlie Abdo inserida naquilo que Samuel Huntington chamada de “o choque de civilizações”? Afinal, o que se presencia hoje na Europa é uma crescente aversão aos integrantes. E, em especial, anos de religião muçulmana. A Alemanha fora palco há alguns dias de manifestações nesse sentido. Na contrapartida, no entanto, aconteceram passeatas de repúdio a essas marchas. Afinal, os alemães não querem reviver o fantasma da intolerância que vigorou durante o regime nazistas.
A França sempre se destacou por ser o país da tolerância e da liberdade de expressão. Foi com base nisso que abriu suas fronteiras aos enormes contingentes de refugiados das guerras que proliferam-se pelo mundo árabe e pela África. Um contingente que hoje forma um percentual significativo da população, a ponto de o escritor Michel Houellebecq estar prevendo no seu romance “Submissão”, que em 2022 a França será governada por um muçulmano. Tal previsão aguça a Islamofobia. Justo num momento em que o país se depara com mais um ato de terror – ato este praticado por fundamentalistas islâmicos. Porém, aí é que vem a confusão, porque os sentimentos se misturam. E aquilo que é praticado por alguns fanáticos é atribuído aos adeptos em geral da religião. E aí é que vem mais um desafio para a França: fazer essa separação. O presidente François Hollande procurou ser claro ao dizer que “a guerra é contra o terrorismo e não contra uma religião”.
E o terror, se quis provocar a divisão entre a população francesa, o que viu foi uma união maior dessa população e das autoridades em defesa dos princípios que regem o país: liberdade, igualdade, fraternidade. E esse mesmo terror, que pensou ter destruído o jornal Charlie Hebdo, verá o semanário sair na próxima quarta-feira com uma tiragem de 1 milhão de exemplares.
No entanto, é preciso considerar que o terror segue ativo. E, mais do que nunca, o Ocidente não pode descuidar. O grupo Estado Islâmico toma territórios do Iraque e da Síria, e a Al-Qaeda sedimenta sua base no Iêmen, onde aliás, foi treinado um dos atacantes do jornal francês. Assim, ao mesmo tempo em que tem que administrar os conflitos internos entre a população local e a que veio de fora, o país terá que se reestruturar para enfrentar a ameaça de fanáticos.


Fonte: Correio do Povo, página 5 de 11 de janeiro de 2015.