por CLAUDIA ROLLI
Com a recessão mais prolongada, a piora do desemprego e a contínua deterioração dos indicadores da economia, a inadimplência deve continuar em alta e só ceder a partir de 2017.
A tendência é apontada pela ANBC (Associação Nacional de Birôs de Créditos), entidade recém-criada e que reúne as maiores empresas desse segmento, e economistas de entidades do setor de crédito e financiamento.
São 59 milhões de consumidores (CPFs) impedidos de obter crédito até o fim de outubro deste ano, de acordo com estimativa da associação. Juntos, eles somam
R$ 255 bilhões em dívidas em atraso (30 a 60 dias) com bancos (financiamento de carros, imóveis etc.) ou contas de luz, água, telefonia, além de débitos com o varejo.
No final de agosto, eram 57,2 milhões de pessoas incluídas no cadastro de inadimplentes, com R$ 246 bilhões de dívidas.
O total de devedores em outubro foi projetado pela Serasa Experian, uma das empresas da ANBC. Ainda é uma estimativa porque desde setembro voltou a vigorar em São Paulo uma lei estadual que obriga o envio de carta registrada (AR, ou com aviso de recebimento) para o devedor, antes de incluir seu nome em cadastros de inadimplência (as listas sujas).
Como parte dos devedores se recusa a assinar a carta AR e parcela das empresas deixou de enviá-las (porque elas têm custo maior que as cartas simples), uma fração das dívidas não está sendo negativada (entrando no cadastro), segundo as empresas de proteção de crédito.
O assunto está sendo avaliado pela Justiça, após as empresas do segmento e a ANBC questionarem a lei, e deve ser julgado na quarta-feira (9).
DESCONTROLE
Luiz Rabi, economista-chefe da Serasa Experian, afirma que um dos fatores que vão manter a inadimplência em alta é o desemprego.
A perda do posto de trabalho é vista como a principal razão para o descontrole das dívidas, aponta pesquisa feita pela empresa com 8.288 consumidores. "Se a recessão estancar em 2016, as empresas ainda vão demorar para voltar a contratar. Na melhor das hipóteses, a inadimplência cede em 2017."
A taxa de desemprego subiu para 8,9% no terceiro trimestre deste ano, segundo dados do IBGE (Pnad contínua). No mesmo trimestre de 2014, foi de 6,8%.
Sinal da tendência de alta da inadimplência, diz Rabi, é que os cinco maiores bancos do país já aumentaram suas provisões para perdas com calotes (de pessoas físicas e jurídicas), segundo consta nos balanços divulgados.
Cálculo do economista mostra que o percentual de provisão passou para 5,8% no terceiro trimestre, ante 5,1% em igual período de 2014. Ou seja: de todo o crédito emprestado pelas cinco instituições, 5,8% serão perdidos.
No crédito consignado, a inadimplência teve alta de 10% na comparação de dezembro de 2014 com outubro deste ano, entre os trabalhadores do setor privado que recorreram a esse tipo de empréstimo, segundo dados mais recentes do Banco Central. Nesse mesmo período, o volume de crédito dessa carteira aumentou 0,9% (passou de R$ 19,2 bilhões para
R$ 19,3 bilhões em outubro).
O economista Flávio Calife, da Boa Vista SCPC, estima que a taxa de inadimplência chegue a 6,5% no fim de 2016, com inflação, desemprego e juros em alta. "Deve fechar neste ano a 5,9%. No próximo, deve continuar subindo de formal lenta e gradual." Em janeiro, estava em 5,3%.
Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil, chama a atenção para o endividamento no setor de serviços. "Bancos e comércio conseguem de uma forma mais rápida ajustar o crédito à situação da economia. Na área de serviços, não é assim."
Outro fator que ela destaca é a menor contratação de temporários neste fim de ano, que eleva a tendência de alta da inadimplência por causa da ausência de renda extra.
No ano passado, por exemplo, a inadimplência recuou em dezembro 0,9% ante novembro.
"Neste ano, nove em cada dez empresários não vão contratar temporários no varejo e em serviços. Além disso, o 13º salário será mais ′magrinho′ porque muita gente perdeu o emprego e receberá valor menor. A inadimplência não deve cair no final do ano."
José Cláudio Securato, presidente do Ibef (Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças de São Paulo), também prevê alta da inadimplência. "Até as mudanças nas regras do seguro-desemprego devem contribuir para a alta. Mas muita gente vai deixar de acessá-lo com as novas regras."
Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi, diz que a inadimplência não deve crescer somente entre as pessoas físicas mas também entre as empresas.
"O fechamento de micro e pequena empresas tem sido enorme. Quem falava no país crescer 1% em 2016 já fala em queda de 3%. Sem investimento e com setores paralisados na economia, como óleo e gás, construção pesada, construção civil, as empresas estão em dificuldade para honrar compromissos."
FINANÇAS SOB CONTROLE
Veja dicas para renegociar suas dívidas
1) Faça as contas
Entenda seus ganhos líquidos e despesas fixas e variáveis e o quanto pode ser disponibilizado para quitar a dívida atrasada
Existe renda extra (bens ou bonificação salarial) que permita fazer uma proposta à vista para quitar a dívida?
2) Proposta
Negocie diretamente
com o credor, sem contratar intermediários, que cobram taxas adicionais pelo serviço
Se não estiver de acordo com a proposta do credor, faça uma contraproposta, considerando as contas feitas previamente. Não assuma um compromisso que não será cumprido
3) Pós-negociação
Evite assumir uma nova despesa com a qual você
não poderá arcar
Tenha certeza de que pode contar com dinheiro de terceiros ou com a venda de bens ainda não comercializados
Cumpra os novos prazos
de pagamento até o final
Fonte: Folha Online - 07/12/2015 e Endividado
Chiquinho Scarpa faz saldão de objetos e põe a casa à venda por R$ 80 milhões
por CHICO FELITTI e MARINA ESTARQUE
O número 9 da praça Nicolau Scarpa, no Jardim América, pode em breve deixar de ser habitado por pessoas com o mesmo sobrenome do logradouro: depois de fazer um saldão de móveis e bricabraques em esquema "família vende tudo", até o domingo passado, Chiquinho Scarpa já tem interessados em pagar R$ 80 milhões pela mansão.
A propriedade, com 8 salas, 24 vagas para carros, 4 dormitórios (sendo 3 deles suítes) e 10 banheiros, está à venda pela internet.
O anúncio mostra dezenas de fotos do local, piscina, campo de futebol e até do quarto do conde Scarpa, 64.
Procurado, ele confirmou o anúncio, mas disse que não comentaria a proposta. Imobiliárias travam uma disputa para ver quem consegue vender a casa e levar a comissão, de cerca de 10% do valor.
"Já tem um interessado. Não posso falar, mas afirmo que eu vou vender essa casa", diz Charles Hanry Calfat Salem, dono de uma corretora de luxo e filho de um dos melhores amigos de Chiquinho. O imóvel é onde Chiquinho fez a famosa ação de marketing do enterro do Bentley.
No ano passado, Chiquinho apareceu em um programa da TV francesa mostrando sua casa e anunciando que ela estaria à venda por US$ 100 milhões (à época, R$ 266 milhões). Procurado pela Folha, ele disse: "Não está à venda no mercado. É só se houver uma proposta".
Não houve. O valor baixou para um terço do inicial e a família começou a se desfazer dos pertences. O bazar ofereceu artigos como lençóis, uniforme de empregados, vasos e até uma TV, vendida por R$ 100. Toalhas saíram por R$ 5. "Comprei um jogo de lençóis de linho com as iniciais dele bordadas só para fazer foto para o Instagram", diz o publicitário Ricardo Marn, fã de Chiquinho.
Já itens de luxo da decoração, como um lustre de cristal, estão à venda há dois anos pelo antiquarista Luiz Mello.
"O objetivo era esvaziar a casa. Havia um quarto com 231 vasos", diz Chiquinho.
Ele diz que não sabe o valor arrecadado, porque o dinheiro foi para as irmãs, mas considera que deva ser entre R$ 200 mil e R$ 300 mil. "Ah, foi porcaria, pouca coisa."
SOBRENOME FALIDO
"Pooobre, pobre ele nunca vai ser", diz um empresário que frequenta a casa, "mas foram-se os tempos de conseguir manter um estilo de vida nababesco. Sobrenomes vão à falência." O avô de Chiquinho, que nomeia a praça, foi dono de diversos casarões na avenida Paulista e um dos maiores acionistas do Grupo Votorantim. Amigos do conde relatam que, dos imóveis, só restaram alguns andares do prédio que leva o nome da família, na Paulista, e a casa que agora está à venda.
O conde minimiza os boatos de que estaria mal das pernas. "Eu estou bem, obrigado. O que me preocupa é a situação do país", diz o economista por formação, que comemora nas redes sociais o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Após a venda, Chiquinho se mudaria para poucos quarteirões de distância. Iria morar no apartamento de 500 m² de Marlene Nicolau, 50, uma das donas da rede de escolas Microcamp -os dois estão noivos há mais de um ano.
Irmã de Chiquinho e coproprietária do imóvel, Renata McClelland Scarpa, 56, afirma desconhecer a venda da casa. "Por favor, coloque que não tenho nada a ver com isso. Nenhum de nós está sabendo nada disso."
Terceirizaram a liquidação de bens da família? "Sim, terceirizamos."
Fonte: Folha Online - 06/12/2015 e Endividado
Banco fecha e atrapalha cliente
Primeiro dia de paralisação recebeu adesão de 70% da categoria, diz o comando do SindBancários
O primeiro dia de greve nacional dos bancários prejudicou ontem o atendimento de clientes nas agências de Porto Alegre e da Região Metropolitana, onde a adesão superou os 70%, segundo o presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre (SindBancários), Everton Gilmenis. A paralisação fez com que as pessoas procurassem o setor de autoatendimento, formando longas filas. A greve teve adesão em 20 estados e no Distrito Federal. A reivindicação dos bancários é de 16% de reajuste salarial, enquanto a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) oferece 5,5%.
Para marcar o início da paralisação, os bancários realizaram um ato público na Praça da Alfândega, no Centro. A categoria promoveu um “salsipão” para quem aderiu ao movimento.
Nas agências do Banco do Brasil, Santander e Banrisul na rua Sete de Setembro e da Caixa Econômica Federal localizada na Rua dos Andradas, formaram-se longas filas de clientes tentando pagar contas ou sacar dinheiro nos caixas eletrônicos.
As agências do Santander da avenida Borges de Medeiros, Itaú da Praça da Alfândega, Banrisul da avenida João Pessoa e Caixa da Praça da Alfândega ficaram fechadas. Na entrada dos prédios, funcionários informavam aos clientes sobre a paralisação da categoria.
A proposta patronal inclui além do reajuste (5,5%), vales e um abono de R$ 2,5 mil, não incorporado ao salário. Entretanto, entre outras reivindicações os bancários pedem reajuste salarial de 16%, o que significa reposição da inflação e mais 5,7% de aumento real. Conforme analisou Gimenis, 'a proposta da Fenaban é indecente e vai servir de combustível para a mobilização”. A categoria deverá realizar amanhã uma assembleia de avaliação do movimento no Clube do Comércio, na Praça da Alfândega, na Capital.
Fonte: Correio do Povo, página 6 de 7 de outubro de 2015.
Banco Mundial apoia projetos gaúchos
Um conjunto de editais voltados aos setores de inovação e desenvolvimento no valor de R$ 14 milhões, foi anunciado ontem no Palácio Piratini. Os recursos são do Banco Mundial (Bird) e destinados e apoiar projetos de parques e polos tecnológicos, incubadoras e indústria criativa.
Durante a cerimônia, foi formalizada a consolidação do Polo de Inovação Tecnológica Metropolitana Delta do Jacuí. O secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, Fábio Blanco, afirmou que aposta no modelo de descentralização do desenvolvimento tecnológico do Estado. Serão destinados R$ 8 milhões para projetos dos parques tecnológicos. O RS Incubadoras foi contemplado com R$ 850 mil; a indústria criativa terá R$ 850 mil; polos tecnológicos R$ 5,335 mil. As entidades têm prazo de até 45 dias para se qualificar aos projetos.
Fonte: Correio do Povo, página 4 de 18 de setembro de 2015.
Professora renegocia dívida de R$ 1,1 milhão
por CLAUDIA ROLLI
Uma dívida de R$ 1,1 milhão levou a professora universitária Maria (o nome é fictício, a pedido da consumidora) ao núcleo de tratamento do superendividamento da Fundação Procon-SP.
Os superendividados são consumidores com prestações maiores do que o seu salário (comprometeram muito mais do que os 30% da renda, percentual recomendado pelos especialistas). Eles conseguem ajuda gratuita dos técnicos do órgão para renegociar débitos e colocar o orçamento em dia.
O pedido de ajuda de Maria foi feito em maio deste ano ao órgão após ver a dívida de cerca de R$ 300 mil saltar para o patamar de milhão.
Os gastos foram feitos desde 2013, logo após perder o marido, em 2012, ocasião em que montou um pequeno negócio de varejo alimentar.
Mas despesas extraordinárias começaram a entrar no orçamento da professora, com a doença de um familiar. "Foram demandas com internações, R$ 25 mil em medicamentos, muitos gastos", diz.
Com três fontes de renda garantidas, a professora afirma que era "fácil" conseguir aportes do gerente.
"Nunca deixei de pagar o banco em que tomei o empréstimo. Mas fiz uma coisa muito errada. Pegava dinheiro mais caro, com linhas para clientes especiais de alta renda, em troca de ganhar tempo para pagar ao banco. Mas eles nunca quiseram renegociar nada porque eu pagava em dia. Fazia empréstimos no crédito pessoal, no consignado, em tudo."
Após três meses de negociação com apoio do Procon, ela firmou um acordo. Sem revelar o valor, afirma que obteve prazo para pagar a conta em dez anos.
Fonte: Folha Online - 07/12/2015 e Endividado