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quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Governo, centrais e empresários começam a discutir reforma da Previdência

Com a promessa de ouvir diferentes posições antes de definir uma proposta, o governo começa hoje (17) a discutir a reforma da Previdência. A intenção é ouvir as sugestões das centrais sindicais e dos representantes dos empresários, para enviar, até o fim do primeiro semestre, proposta ao Congresso Nacional para apreciação dos parlamentares.
De acordo com integrantes do governo que participam dos debates, o tema será inserido no contexto de uma “agenda de crescimento”, a ser apresentada aos integrantes do Fórum de Debates sobre Políticas de Emprego, Trabalho e Renda e de Previdência Social. Será a terceira vez que o fórum vai se reunir e desta vez o objetivo do governo é dar respostas à pauta apresentada pelos trabalhadores e o setor empresarial em dezembro, quando divulgaram o documento Compromisso pelo Desenvolvimento, sugerindo propostas como a retomada de investimentos e o aumento da produção.

Além disso, será criado um cronograma e definidas as metodologias para os debates sobre a Previdência. O governo quer mostrar que ainda não há uma proposta finalizada e, por isso, todas as alternativas serão colocadas na mesa, inclusive a possibilidade do aumento da idade mínima para aposentadoria. As novas regras sancionadas em novembro, que somam o tempo de contribuição e a idade, estão sendo definidas como “ponto de partida” para as discussões. Além dos empresários, trabalhadores e representantes do governo, a participação de alguns deputados ligados ao tema também é esperada.
Não estão descartadas análises de soluções polêmicas, como convergência das idades de aposentadoria entre homens e mulheres, entre trabalhadores rurais e urbanos. Hoje, a faixa etária varia para trabalhadores do sexo masculino (65) e feminino (60) e quem trabalha no campo se aposenta por idade na condição de segurado especial. Com as novas regras, os homens que se aposentarem até 2018 poderão receber 100% do benefício quando a soma da idade e do tempo de contribuição for 95. No caso das mulheres, a soma tem que chegar a 85.

Para José Wilson Gonçalves, que vai participar do fórum representando a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, a entidade está preparada para “enfrentar” medidas que podem vir como “ameaça às conquistas dos trabalhadores”. “Ficaria muito ruim o governo apresentar uma proposta construída sem um cronograma com a participação das organizações. Entendemos que idade diferenciada para homens e mulheres no campo é uma conquista da Constituição Federal de 1988 e não podemos retroceder”, afirmou Gonçalves, ressaltando peculiaridades dos moradores de zonas rurais que começam a trabalhar mais cedo e passam por “várias adversidades”.
Em janeiro, a presidenta Dilma Rousseff disse que o país terá que “encarar a reforma da Previdência” e que “não é possível que a idade média de aposentadoria no Brasil seja 55 anos”, já que a expectativa de vida dos brasileiros está aumentando.
Com base nesse argumento e nos dados que apontam aumento das despesas obrigatórias vinculadas à Previdência, o Palácio do Planalto quer convencer a sociedade da importância de discutir o assunto. A estratégia também passa pela necessidade de ressaltar que as mudanças terão um período de transição e que os direitos adquiridos não serão desrespeitados. Foi assim que o governo apresentou a ideia, no mês passado, aos integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. O intuito é debatê-la no fórum e também no chamado Conselhão.

O primeiro teste de convergência, porém, se dará no âmbito do próprio governo. Enquanto técnicos do Ministério da Fazenda apostam no aumento da idade mínima como solução, a equipe ligada à pasta do Trabalho e Previdência discorda, sob a alegação de que estabelecer idade igual para todos prejudicaria os cidadãos que começam a trabalhar mais cedo. Além disso, as próprias centrais já se manifestaram contra o aumento da idade.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Governo, demagogos e ostracismo, por Sebastião Melo

Os gregos, que inventaram a democracia, também desenvolveram mecanismos para protegê-la dos tiranos e demagogos. Por prevenção aos primeiros, instituíram o “ostracismo”.
Todo ano, a Assembleia – Ecclesia – se reunia e recebia a tarefa de elaborar uma lista com os nomes daqueles que poderiam vir a ameaçar a democracia com a sombra da tirania. Passados dois meses cada cidadão apresentava sua lista e quem recebesse mais de 6 mil votos – gravados numa ostra – era afastado da pólis por dez longos anos.
Contra os demagogos, os atenienses foram outra vez engenhosos. Calejados contra decisões desastrosas, arrancadas da Ecclesia na base da eloquência e das promessas que muitas vezes violavam as leis em nome do poder soberano do ovo, decidiram que eram responsáveis pelas decisões não só os demagogos, mas igualmente aqueles que os seguiam através dos votos, que passaram a ser colhidos de casa em casa.
Com essas providências, imaginaram os atenienses, a democracia passaria a ser o regime da “moderação”.
Passados tantos séculos, a cidadania brasileira como de resto de todo o mundo, sai às ruas, debate nas “Ecclesias” e nos Legislativos, nos cafés e nos bares, nos encontros de amigos e em reuniões de família, quais os instrumentos para recuperar o sentido original e singelo da política, que é associar as pessoas em torno de ações que melhores a vida nas comunidades. E nesse diálogo que se faz “juntos”, fazer da verdade e da responsabilidade pelos atos dos políticos as referências para o juízo coletivo.
Tomemos a realidade dos estados e municípios brasileiros. Diante da histórica centralização dos recursos no poder central, do aprofundamento dos problemas e desafios no campo e na cidade – especialmente em segurança, saúde e educação – , muitos candidatos continuam prometendo o que não poderão entregar quando governantes. Entre estes, alguns premidos pelas pressões que exigem o cumprimento das promessas, levam à falência as contas públicas e transferem a seus sucessores a responsabilidade pelos seus atos. Vejam como os atenienses eram sábios.
No caso do RS, o governador José Ivo Sartori fez uma opção clara, na campanha e no governo, pela moderação, traçando uma fronteira clara entre a sua responsabilidade como governante e a irresponsabilidade dos demagogos. Na situação em que as contas públicas do Estado se encontram tem, de fato, duas opções de curto prazo: ou busca o aplauso prometendo o que não pode entregar ou diz a verdade e toma as medidas amargas que podem, no médio e longo prazo, recolocar o RS no caminho do desenvolvimento sustentável.
Na primeira opção, os atenienses reservariam o ostracismo. Na segunda, o Panteão.

Vice-prefeito de Porto Alegre


Fonte: Correio do Povo, página 2 de 6 de junho de 2015.