Aliás só com muito
boa vontade podia-se chamar de “exército” aquelas guarnições
que o jovem general encontrou no sul da França quando assumiu-lhes o
comando. Era um amontoado de gente trôpega, semi descalça,
parcamente uniformizada e mal-armada, que fazia três anos que se
esparramava, enregelada, pela fronteira totruosa do Piemonte. Um
quarto deles estava fora de combate, vegetando em enfermarias e
hospitais de campanha, os restantes viviam com o que seus soldos
miseráveis permitissem, sendo que a sua disciplina era duvidosa.
Massena, um dos seus mais destacados generais de divisão,
envolvia-se em práticas de contrabando para esforçar os magros
vencimentos, o que não impediu que, mais tarde, em seguida à tomada
de la Favorita, Napoleão o chamasse de “o filho querido da
vitória”.
O Contraste
Imagine-se o espanto
dos seus comandados ao se depararem com ele... pequeno, franzino, com
uma tez amarelecida, que se alterava para uma palidez esbranquiçada,
e, ainda por cima, com apenas 26 anos! Napoleão gostava de vestir um
casacão cinzento, sem nenhuma condecoração ou adorno, com a
sobriedade e discrição de um capitão de uma falange espartana. Ao
seu lado, de guarda, por apreciar o efeito do contraste, ele postava
dois imensos granadeiros, cercando-se igualmente de generais
amedalhados e com penachos, tais como os usados por Murat, o seu
chefe da cavalaria.
O Pequeno Caporal
Apreciava o impacto
que causava a sua simplicidade frente aos uniformes vistosos do seu
Estado-maior. Os soldados também. Napoleão apesar da extrema
mocidade tinha o dom do comando, conseguindo de imediato o respeito
de todos que o seguiam, como bem testemunhou o pintor paisagista
Biogi, que lhe frequentava o acampamento naquela época. Os soldados
logo o apelidaram carinhosamente de Petit Caporal, o pequeno
cabo, por demonstrar uma incansável energia em campo de batalha. Era
um verdadeiro azougue.