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domingo, 15 de março de 2015

Catadores de lixo podem aproveitar resíduos de prédios públicos de Brasília


Cercada por papéis e materiais plásticos de todos os tipos, Edvania Barbosa separa os resíduos descartados em diversos prédios de Brasília para reciclagem(Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
Cercada por papéis e materiais plásticos de todos os tipos, Edvania Barbosa separa os resíduos descartados em diversos prédios de Brasília para reciclagemMarcello Casal Jr./Agência Brasil
Cercada por papéis e materiais plásticos de todos os tipos, Edvania Barbosa separa os resíduos descartados em diversos prédios de Brasília para reciclagem. Ela é uma das pessoas que poderão ser beneficiadas com uma medidada adotada esta semana pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), que lançou chamada pública para selecionar quatro entidades para fazer o trabalho em prédios do ministério e de outros órgãos em Brasília, por pelo menos seis meses.
O edital é regulado por um decreto de 2006, estabelecendo que a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos da administração federal devem ser destinados às associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis. Catadora há cinco anos, Edvania sustenta sozinha os quatro filhos com o dinheiro que ganha no trabalho de triagem do lixo.
“As pessoas jogam muita coisa fora. Para uns isso não vale nada, mas para nós é o sustento da família. E ainda estou cuidando do meio ambiente, do futuro dos meus filhos e netos”, diz a catadora.  Edvania e outras 15 pessoas fazem parte da cooperativa de catadores Renascer. A entidade recolhe lixo descartado em locais como Câmara dos Deputados, ministérios e prédios privados, leva para um espaço a aproximadamente 30 quilômetros do centro de Brasília, na região administrativa Sobradinho, e separa o material.
“Isso é justamente para trazer um impacto de geração de renda, uma vez que o governo federal tem um volume muito grande de produção de material e no mercado da reciclagem o papel possui alto valor agregado”, diz Sílvia Gonçalves, responsável pelo projeto no MDS sobre coleta do lixo para reciclagem.
O presidente da cooperativa Renascer, Bernardino Bispo da Silva, diz que a vida de todos os cooperados mudou, depois que eles passaram a separar os resíduos de prédios de Brasília(Marcello Casal Jr./Agência Brasil)
O presidente da cooperativa Renascer, Bernardino Bispo da Silva, diz que a vida de todos os cooperados mudou, depois que eles passaram a separar os resíduos de prédios de Brasília Marcello Casal Jr./Agência Brasil
Os documentos devem ser entregues até 20 de março. Para participar deste e de outros processos seletivos semelhantes, é preciso que as associações ou cooperativas sejam formadas exclusivamente por trabalhadores que tenham a catação como única fonte de renda. Também devem ser entidades sem fins lucrativos, que tenham infraestrutura para realizar a triagem e a classificação dos resíduos descartados.
O presidente da cooperativa Renascer, Bernardino Bispo da Silva, que já participou do projeto no MDS e vai tentar mais uma vez trabalhar com o ministério, diz que a vida de todos os cooperados mudou, depois que eles se juntaram e deixaram de procurar lixo na rua, para separar os resíduos de prédios públicos e privados de Brasília.
“A gente pega o lixo em vários prédios, separa e revende o que é possível para uma empresa de reciclagem. Todo o dinheiro fruto do nosso trabalho é dividido igualmente entre os cooperados, que sustentam suas famílias com esse trabalho”, explica Silva.
Fábio de Jesus Silva, também integrante da cooperativa Renascer, entretanto, cobra mais respeito com os catadores. “Todo mundo sabe o que é coleta seletiva, mas ninguém separa o lixo - uma coisa tão fácil. Misturam orgânico com papel, jogam vidro quebrado no meio do material para reciclagem. É uma falta de respeito que às vezes entristece. Mas tenho orgulho do meu trabalho”, afirma.

Agência Brasil

Em defesa da reforma agrária, marcha do MST na Bahia percorreu 90 quilômetros


Ivan Richard - Repórter da Agência Brasil Edição: Lílian Beraldo
Em caminhada desde a última segunda-feira (9), um grupo de 6 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) da Bahia já percorreu cerca de 90 quilômetros em marcha iniciada em Feira de Santana com destino a Salvador. O ato dos camponeses quer chamar a atenção do Poder Público para a violência no campo, o avanço do agronegócio na região e a necessidade de reforma agrária.
De acordo com a coordenação do MST na Bahia, os manifestantes chegaram hoje (14) ao município de Simões Filho, depois de passarem pelas cidades de Amélia Rodrigues e Candeias. A previsão é que eles percorram os 31 quilômetros restantes e cheguem à capital baiana na próxima segunda-feira (16).
A marcha faz parte das ações relacionada à Jornada Nacional de Lutas pela Reforma Agrária, iniciada na semana passada. Segundo o MST na Bahia e a articulação dos movimentos sociais de Feira de Santana, a caminhada também tem como objetivo denunciar a falta de atenção das autoridades municipais com a estruturação do Centro de Referência e da Casa Abrigo de Feira de Santana, a redução do orçamento referente à agricultura familiar e reivindica a construção de creches pelo Programa Brasil Carinhoso.

Agência Brasil




Primeiro centro municipal de referência para mulheres em SP completa 25 anos


Camila Maciel - Repórter da Agência Brasil Edição: Lílian Beraldo
A doméstica Benedita de Melo, 53 anos, diz que sua vida recomeçou em 28 de fevereiro de 2010. Data em que ela decidiu dar um basta às violências sofridas pelo marido durante 30 anos. “Eu tinha vergonha, medo. Mas nesse dia, meu esposo quis me matar e matar meu filho. O teto caiu sobre a minha cabeça. Fiquei perdida”, relatou à Agência Brasil. Depois de ter sido desestimulada a fazer a denúncia em uma delegacia, ela soube de um serviço especializado no atendimento de mulheres vítimas de agressões. Na Casa Eliane de Grammont, equipamento da prefeitura de São Paulo que completa 25 anos neste mês, Benedita encontrou o suporte e as orientações necessárias para enfrentar as ameaças sofridas e superar seus traumas.
A casa, criada em 1990 na gestão da prefeita Luiza Erundina, foi o primeiro serviço municipal do país a oferecer o atendimento às mulheres em casos de violência doméstica e sexual. Passadas mais de duas décadas, a ampliação da rede de atendimento ainda é um desafio. Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), divulgado no último dia 4, mostra que o país tem 77 casas de abrigo em 70 municípios e 214 centros especializados da mulher em 191 cidades, a maioria localizados nas regiões Sudeste e Nordeste. Além disso, as instituições do sistema de Justiça especializadas nesse tema estão presentes em cerca de 1% dos municípios brasileiros.
A prefeitura de São Paulo, por exemplo, conta com três centros de referência, além do Eliane de Grammont, na zona sul. A psicóloga Branca Paperetti, coordenadora da casa, explica que o atendimento na unidade é multiprofissional e os primeiros atendimentos servem para desenhar o tipo de suporte que será oferecido à mulher. “A gente avalia se é uma situação jurídica, social, psicológica, ou tudo isso junto, se é problema de habitação, risco de morte, abrigamento. No processo, a gente entende a complexidade do caso e as estratégias necessárias para a superação da violência”, explicou.
Branca destaca que o acompanhamento é processual e não há um prazo definido para que a mulher deixe de passar pelo atendimento. “Pode levar meses ou anos. Até porque há muita complexidade nesses casos, o tempo da superação é grande, o tempo da Justiça é demorado. Enquanto isso, ela vai sofrendo outras violências e outras situações que a gente acompanha”, complementou. A diminuição do corpo funcional da unidade, no entanto, tem reduzido o número de mulheres atendidas ao longo dos anos. “Já trabalhamos com oito profissionais, agora temos duas, uma psicóloga e uma assistente social”, informou a coordenadora.
A capacidade atual de atendimento na casa é 100 mulheres por mês, mas esse número já chegou a 300, informou Branca. Ela destaca, no entanto, que isso não tem deixado mulheres sem atendimento, pois a equipe, mesmo que enxuta, se esforça para garantir um acompanhamento, no mínimo, quinzenal. É o que ocorre com uma educadora, de 37 anos, que preferiu não se identificar. Ela passa por atendimento a cada 15 dias e conta que decidiu buscar ajuda depois de ter sido agredida pelo pai e ficado com o nariz e uma costela quebrados. Depois de registrar o caso na polícia, as agressões físicas pararam, mas as psicológicas permaneciam. “Eu me sentia culpada por aquela violência. Hoje, eu aprendi a me defender”, declarou.
A coordenadora da unidade avalia que, atualmente, as vítimas de violências já estão mais informadas em relação aos seus direitos, especialmente depois da Lei Maria da Penha, mas ainda é preciso avançar na transversalidade das políticas públicas. “É muito importante que isso se efetive. Com a habitação, para que as mulheres tenham, por exemplo, condições de sair da situação em que estão e ir para outra casa; com inserção no mercado de trabalho; com a existência de creches para que elas possam deixar seus filhos e trabalhar; que na educação se trabalhe com as questões de gênero; em relação à segurança, que a polícia faça seu papel nas políticas protetivas”, enumerou.
Benedita ainda teme receber ameaças do ex-marido. “Ele fala para as pessoas que quer me ver pedindo esmola, na sarjeta, então, eu tenho medo”, apontou. A educadora que preferiu não se identificar também se esforça para superar as dificuldades no relacionamento familiar. “Sou uma pessoa responsável pelos meus atos, porém menos culpada”, declarou. Apesar dos traumas, elas dizem ter refeito parte de suas vidas e que a maior prova disso é serem capazes de falar com certa tranquilidade sobre as violências sofridas.

Agência Brasil