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domingo, 5 de julho de 2015

Casa dos Contos, por Cristina Assmann

Instituída por d. João I, em 1389, Casa dos Contos foi o nome da instituição portuguesa encarregada do controle das contas públicas e de regrar os gastos da burocracia estatal. Apesar da forma simplificada do serviço, impressiona a existência de sofisticado mecanismo de controle das finanças em um tempo em que nem sequer a noção de “espaço público” estava instituída. Os portugueses aperfeiçoam seus métodos de controle e seus registros com várias mudanças, até a criação do Erário Régio, em 1761, uma nova instituição que surgiu com as reformas do Marquês de Pombal. Inspirado pelos ideais Iluministas, Pombal centralizou as finanças do reino, modernizou o sistema de contabilidade e aperfeiçoou a fiscalização sobre a administração do dinheiro público na metrópole e nos chamados “domínios do Ultramar”.
Nos registros contábeis do Erário Régio, passou a ser empregado o método das “partidas dobradas”, já usado pelas cidades de Veneza e Gênova, desde o século IX. Em tal sistema, receitas e despesas eram lançadas, lado a lado, o que permitia o acompanhamento diário do saldo. Este mesmo Erário Régio e o Conselho da Fazenda viriam a ser instalados no Rio de Janeiro, no momento em que a família real se estabelecida nos trópicos em 1808.
Os ventos da ampla reforma política e cultura produzidas pelo Iluminismo animaram a edição da Constituição portuguesa de 1822, de caráter liberal, na qual os bens da Coroa foram convertidos em bens nacionais, afirmando o princípio da publicidade dos recursos financeiros. Assim, o avanço dos ideais republicanos na Europa e o fim do absolutismo tornaram possível a emergência dos tribunais de Contas O primeiro deles, a Cour dês Comptes, instalou-se na França, em 1807, estando voltado para o controle a posteriori dos gastos públicos. O modelo, apesar de sua influência, não se universalizou. A Corte dei Conti italiana (1862), por exemplo, examinava as pretensões de gastos dos gestores e possuía poder de veto. Já a Corte belga, Rekenhof (1830), tinha um poder de veto relativo. Como regra, os tribunais de Contas modernos se organizam, em todas as nações democráticas, sob influência desses três modelos.
No Brasil, durante o período da Regência, foi criado o Tesouro Público Nacional, que permitiu o avanço no controle das contas públicas, mas que ainda estava subordinando ao Executivo, o que implicava muitas limitações e constrangimentos. O Tribunal de Contas brasileiro, concebido como instituição autônoma, foi criado por Rui Barbosa, somente em 1890, com a edição do decreto 966-A. No âmbito estadual, o Tribunal de Contas foi instituído por José Antônio Flores da Cunha, em 26 de junho de 1935.
Essas e outras interessantes informações estão na exposição “Casa dos Contos”, instalada no 4º andar do prédio-sede do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS). Ela oferece ao público a oportunidade de contato com documentos dos primórdios do Brasil como nação e provoca perguntas e reflexões sobre o papel das instituições nas relações mantidas entre a sociedade e o Estado.

Auditora pública externa do TCE-RS


Fonte: Correio do Povo, edição de 3 de julho de 2015, página 2.