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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

C) O RIO EM 2015! TERCEIRA ENTREVISTA DE FIM DE ANO DO EX-BLOG, COM CESAR MAIA!

1. Ex-Blog: O Rio será o Estado com mais problemas em 2015? Cesar Maia: Eu não diria isso. Melhor seria dizer que o Rio será o Estado com mais desafios a enfrentar em 2015. / Ex-Blog: A recessão que se projeta não afetaria todos os Estados igualmente? Cesar Maia: O Rio é o Estado mais metropolitano do país, com 75% da população concentrada em torno da capital e mais de 80% do PIB. Importante lembrar que a contabilização da extração do petróleo na plataforma continental, no Rio, é virtual. Só é real quando as atividades reais ocorrem no Estado, como no Rio, Macaé, etc. Nesses casos, são contabilizadas independente da extração. É isso o que afeta a vida das pessoas. Por esse e outros problemas, a recessão projetada pode nos afetar mais.
           
2. Ex-Blog: Poderia destacar outros problemas específicos que o Rio terá que enfrentar? Cesar Maia: O primeiro deles que, aliás, o Ex-Blog já comentou dias atrás, é o valor das transferências federais por causa dos Royalties do Petróleo, cujo barril já está abaixo de US$ 60, com queda de 40% e mais. O governo estadual pode perder uns R$ 3 bilhões de reais e municípios como Campos, Macaé, Rio das Ostras, Quiçamã, etc., poderão ter problemas graves.
           
3. Ex-Blog: Alguns outros problemas específicos do Rio? Cesar Maia: Provavelmente com obras em execução por empreiteiras englobadas no caso “Petrolão”. Elas terão problemas de captação, no sistema financeiro, para aporte próprio. Por isso, devemos dividir as obras –aqui e no Brasil todo- em dois tipos. Primeiro, obras em PPP, onde a empreiteira aporta uma porcentagem de capital próprio. Na cidade do Rio dois casos preocupam mais, porque envolvem a OAS, que vive constrangimentos, sem querer entrar no mérito deles.
       
4. Cesar Maia: A chamada “Transolímpica”, uma obra em que a prefeitura do Rio aporta R$ 1 bilhão e o consórcio Olímpico (OAS, Odebrecht e CCR) aporta o restante. Não se conhece o valor projetado para o restante. Foi informado que alcançaria R$ 1 bilhão. Não creio. Suponha que são R$ 600 milhões. O capital do consórcio é divido em 3, e a OAS aporta R$ 200 milhões. Se ela tiver esses recursos contratados previamente, avançará. Mas se não tiver, terá problemas. E o Metrô Barra-Zona Sul, de consórcio controlado pela OAS. O consórcio tem compromisso de aportar quase 30% dos investimentos. Mesmo sem informações atualizadas, seriam R$ 9 bilhões, com o consórcio aportando R$ 2,5 bilhões. Outra vez: se esses recursos não estiverem contratados, as dificuldades de captação serão muito grandes. A linha 4 do Metrô é mais grave por não poder ser interrompida pela vinculação alegada com os JJ00-2016. Isso sem falar em dificuldades de captação por grande empreiteiras mesmo ainda não incluídas no caso Petrolão e adjacências.
       
5. Cesar Maia: O segundo grupo é de obras de contratação direta. Aí a questão depende dos recursos próprios ou aportes federais. As empreiteiras contratadas não adiantarão capital de giro nessa conjuntura, pelos riscos econômicos e políticos. Lembro que as facilidades que ocorreram desde 2010, com aportes flexíveis federais, alardeados no Brasil todo como parcerias, não ocorrerão da mesma maneira, e desde já não ocorrerão nos mesmos prazos, antes que uma auditoria técnica comprove o tamanho da necessidade. Os ministros-gestores destas transferências são outros –nomeados pela Presidente-, exatamente para tomar decisões fiscais, liberando-a do desgaste dos compromissos verbais ou formais assumidos.
       
6. Ex-Blog: E, claro, os efeitos da recessão. Cesar Maia: Isso mesmo. Nesse caso, os Estados onde a importância dos bens de consumo de maior valor agregado é superior, tendem a receber um impacto maior. Os Estados agroexportadores são os que terão o impacto menor. O Rio, por exemplo, não está entre eles. Aliás, o Natal já antecipou aqueles problemas.
       
7. Ex-Blog: E os fatores políticos? Cesar Maia: Há que se dividir em 2 tipos. Um deles é a propensão maior de mobilizações populares, nos Estados de maior população metropolitana e maior conexão a internet, como Rio e S.Paulo. Outro são efeitos ainda não projetáveis do Petrolão sobre políticos regionais e decisões que ajudaram a tomar incorporando desvios de recursos.
       
8. Ex-Blog: O que fazer? Cesar Maia: Enfrentarão de forma mais adequada estes, e outros desafios, aqueles em que o governo estadual assuma um papel líder e coordenador. No caso do Rio, começando já e urgentemente pela avaliação das perdas com a queda do preço do barril do petróleo, dimensionando junto a ANAP, e reunindo regionalmente os prefeitos, para essas avaliações e projeções. Da mesma forma, junto às prefeituras com maiores valores de obras contratadas e especialmente aquelas com PPP, e a capital é um exemplo destacado, analisando o que fazer para garantir a continuidade, mesmo com ritmo menor, no caso de empreiteiras que não possam fazer os aportes próprios.
       
9. Cesar Maia: E finalmente uma projeção geral dos efeitos da recessão e da inflação no primeiro semestre, para se decidir que medidas compensatórias podem ser tomadas. As finanças estaduais, como a imprensa tem divulgado, não estão nos melhores dias. Basta verificar que déficit primário terão em 2014.

Ex-Blog do Cesar Maia