Há alguns dias,
procurando obras do doutrinador mais autorizado do trabalhismo
brasileiro, sr. Alberto Pasqualini, ocorreu um fato inusitado, o qual
gostaria de compartilhar com os leitores do Correio do Povo.
Procurando nas livrarias - sebos do centro de Porto Alegre – ,
solicitei uma obra de Pasqualini. A resposta, num primeiro momento
foi negativa e, quando já estava saindo, fui avisado que sim, havia
uma única obra na livraria, encontrada no fundo do depósito do
estabelecimento.
O vendedor estão
trouxe-me o Clássico “Bases e Sugestões para uma Política
Social”. No mesmo instante percebi que o livro era um exemplar
bastante antigo. Páginas amareladas pelo tempo, porém, muito bem
conservado. Feito o negócio, ao chegar em casa, naturalmente
dediquei detalhadamente maior atenção ao livro, fonte obrigatória
de leitura do trabalhismo, ontem, hoje e sempre. Qual foi a minha
surpresa quando percebi que nele tinha uma dedicatória. Lá estava
escrito: “ao caro amigo Breno, com o meu afetuoso abraço”. Data
de 16/10/1948. E o mais incrível: a assinatura é do próprio
Alberto Pasqualini, e “Breno”, ao que tudo indica, é o sr. Breno
Caldas, jornalista que dirigiu por 49 anos o Correio do Povo.
Impossível
não ser tomado por um sentimento de privilégio, considerando
principalmente minha ligação direta com a história do trabalhismo.
Pasqualini, um pensador muito além do seu tempo, por isso
recomendado sempre, escreveu artigos de altíssimo nível durante
muitos anos nas páginas do CP, de Breno Caldas, do Rio Grande
do Sul. Razão pela qual ter a honra de narrar agora este encontro de
tempos de histórias e de gerações aumenta minha noção de
compromisso, sempre de acordo com a minha capacidade.
São
acontecimentos como este que reforçam minha convicção que vem do
positivismo de Alberto Comte, que ensina que “os vivos são sempre
cada vez mais, necessariamente, governado pelos mortos”. Nunca
acreditei em meras “coincidências”. Acredito sim em sinais, pois
não é compreensível viver uma vida, imaginando não existir nada
além do simples ato de vivermos sem nenhuma razão especial no
mundo. Firmar referências de valores nos legados de nossos
ancestrais, cientes de que a experiência pretérita fundamentada a
caminhada que segue para frente.
Concluo
prestando minhas homenagens a Breno Caldas e Alberto Pasqualini, com
um trecho do pensamento de Pasqualini no discurso de sua campanha ao
governo gaúcho em 1954: “A história dos povos se escreve com a
biografia e às vezes com sangue dos seus grandes homens, daqueles
que conduzem os acontecimentos, daqueles que contribuem com o seu
pensamento e ação, para aperfeiçoar as instituições humanas,
para aliviar os sofrimentos e as aflições do povo, para
quebrar-lhes os grilhões da servidão social e econômica”.
Obrigado Breno Caldas, obrigado Alberto Pasqualini.
Fonte: Correio do Povo,
página 2 de 2 de junho de 2015.