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quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Dividido, Banco Central mantém taxa básica de juros em 14,25% ao ano

O Banco Central manteve nesta quarta-feira (25) a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano. Foi o terceiro encontro seguido em que a taxa foi mantida.

A manutenção era esperada por 49 dos 50 economistas ouvidos pela agência internacional Bloomberg. Apenas um, do CIBC World Markets, previa aumento de 0,25 ponto percentual, até 14,5%.

A decisão não foi unânime. Tony Volpon, diretor de assuntos internacionais, e Sidnei Corrêa Marques, diretor de organização do sistema financeiro, votaram pela elevação da taxa em 0,50 ponto percentual, até 14,75%. No final, seis diretores votaram pela manutenção.



A última votação dividida foi em outubro de 2014, quando os juros voltaram a subir depois do período eleitoral. Em setembro deste ano, o BC já havia afirmado que poderia ajustar a taxa de juro para garantir que a inflação feche o ano que vem abaixo de 6,5% e recue para 4,5% em dezembro de 2017.

Na reunião anterior, o BC havia dito que a sua estratégia era manter a Selic nesse patamar "por período suficientemente prolongado" . Essa frase não foi repetida no comunicado desta quarta-feira, que citou apenas ter havido uma avaliação da conjuntura econômica e das perspectivas para a inflação.

A decisão foi anunciada poucos dias depois de a prévia da inflação oficial, o IPCA-15, superar 10% no acumulado em 12 meses.

O mais recente boletim Focus, divulgado na última segunda-feira (23), também mostra uma inflação pressionada, estimando o IPCA em 10,33% até o fim do ano. A pesquisa é realizada semanalmente pelo Banco Central com economistas e instituições financeiras. Para 2016, a expectativa foi ampliada para 6,64%, ante 6,50% na semana anterior.

A pesquisa mostra ainda que o mercado prevê que os juros se mantenham em 14,25% até o final do ano, enquanto a expectativa é que a Selic encerre 2016 no patamar de 13,75%.



Na avaliação de analistas, a decisão de manter a Selic se baseia na desaceleração da atividade econômica pela qual passa o país.

A instituição tem dito que precisa manter os juros elevados para que a alta da inflação causada pelo dólar e pelo reajuste de tarifas e preços controlados não se espalhe por toda a economia. O desemprego causado pelo aperto na taxa, por exemplo, evita o repasse de toda a inflação para os salários.

Os juros, por outro lado, não têm efeito sobre o câmbio neste momento e nem sobre decisões em relação a preços de combustíveis, por exemplo. E são esses os fatores, segundo o governo, que levaram à piora nas projeções para o índice de preços neste e no próximo ano.

QUEDA DO PIB

A decisão de manter os juros também é amparada pela fraqueza econômica do país. Até setembro, a economia brasileira registrou quatro trimestres seguidos de retração, de acordo com o indicador de atividade do Banco Central, o IBC-Br.

No 3º trimestre deste ano, a queda foi de 1,41% em relação ao trimestre anterior. Números revisados pelo BC mostram queda de 2,09% no 2º trimestre, 1,05% no 1º e 0,50% nos últimos três meses de 2014.

A expectativa do mercado é de dois anos de queda no PIB (Produto Interno Bruto), neste e no próximo ano.

O boletim Focus prevê queda de 3,15% do PIB neste ano e retração de 2,01% da atividade econômica em 2016.

Os juros estão hoje no maior patamar em nove anos. A próxima reunião do Copom ocorrerá nos dias 19 e 20 de janeiro.

O QUE É SELIC E COMO AFETA A ECONOMIA

A taxa de juros é o instrumento utilizado pelo BC (Banco Central) para manter a inflação sob controle ou para estimular a economia.

Se os juros caem muito, a população tem maior acesso ao crédito e, assim, pode consumir mais. Esse aumento da demanda pode pressionar os preços caso a indústria não esteja preparada para atender um consumo maior.

Por outro lado, se os juros sobem, a autoridade monetária inibe consumo e investimento —que ficam mais caros—, a economia desacelera e evita-se que os preços subam, ou seja, que haja inflação.

Com a alta da taxa básica de juros (Selic), o BC aumenta a atratividade das aplicações em títulos da dívida pública. Assim, começa a "faltar" dinheiro no mercado financeiro para viabilizar investimentos que tenham retorno maior que o pago pelo governo. Se a taxa cai, ocorre o inverso.

É por isso que os empresários pedem cortes nas taxas: para viabilizar investimentos, ainda mais em tempos de economia fraca, como agora. Nos mercados, reduções da taxa de juros viabilizam normalmente migração de recursos da renda fixa para a Bolsa de Valores.

Em um cenário normal, é também por esse motivo que as Bolsas sobem nos Estados Unidos ao menor sinal do Federal Reserve (BC dos EUA) de que os juros possam cair.

Quando o juro sobe, acontece o inverso. O investimento em dívida absorve o dinheiro que serviria para financiar o setor produtivo.
Fonte: Folha Online - 25/11/2015 e Endividado