Um dos
mais brutais ataques à imprensa, dois policiais e dez profissionais
do jornal satírico Charli Hebdo forma mortos nesta quarta-feira por
três homens armados, na sede da publicação, situada no coração
da capital francesa.
Nos
irmanamos no pranto por mais estas perdas para a comunicação
social. Lamentamos entre outras, as mortes do diretor Stephane
Charbonnier, conhecido como Charb, e os membros do grupo de
fundadores, Georges Wolinski e Jean Cabut, que assinava como Cabu,
além o economista Bernard Maris, que colaborava com o jornal.
Poderemos ter outras vítimas fatais, pois há dezenas de feridos,
alguns em estado grave.
Esta
bárbaro ato dá início a uma macabra contagem que penaliza os
comunicadores a cada ano. Só em 2014, a Federação Internacional de
Jornalistas (FIJ) registra 118 jornalistas e profissionais de mídia
mortos em incidentes relacionados com o trabalho. O relatório da
entidade contabiliza que mais 17 profissionais morreram em acidentes
rodoviários e desastres naturais enquanto exerciam suas atribuições,
contabilizando 135 vítimas fatais.
O maior
perigo para o trabalho dos repórteres, pelo segundo ano consecutivo,
se concentra na região da Ásia-Pacífico, que teve o maior número
de óbitos, 35, seguida pelo Oriente Médio, com 31 mortes. As
Américas, com 26 perdas, a África, 17 e a Europa com nove mortes
violentas, fecham o ranking cruento da FIJ.
Mas o
atentado em Paris ganha destaque pela violência, onde o número de
mortes de profissionais supera, num único ataque, o quantitativo de
perdas em todo o ano passado no continente europeu. Afora o evidente
risco de exercer a profissão em áreas de conflito como Síria,
Iraque, Ucrânia, Paquistão e Afeganistão, muito preocupam as
entidades de classe as mortes ocorridas em regiões menos inóspitas
como a América Latina.
Na lista
ponteada pelo Paquistão, com 14 assassinatos de profissionais da
mídia, figuram também as seis mortes ocorridas em Honduras e as
cinco perdas mexicanas, decorrentes dos conflitos entre imprensa e o
narcotráfico.
O Brasil
não fica de fora. Perdemos no exercício da profissão, ao longo do
ano passado, Santiago Ilídio Andrade, repórter cinematográfico da
TV Bandeirantes, Pedro Palma, editor do Panorama Regional (Rio de
Janeiro), e Geolino Lopes Xavier, apresentador da N3 TV, de Teixeira
de Freitas (BA).
Enquanto
medidas, as mais diversas, são tentadas em diversas nações
buscando preservar a integridade física e a vida dos jornalistas, no
Brasil medidas mais incisivas têm sido infrutiferamente
reivindicadas.
Iniciativas
como a federalização dos crimes contra a imprensa ou a instituição
de um observatório que auxilie no combate à impunidade não
avançam.
A
revolta dos profissionais cresce e a impunidade também. Tá difícil
informar à população! O brutal ataque à Charlie Abdo é prova
disto! Repudiemos esta insanidade.
Jornalista, diretor da
Associação Riograndense de Imprensa
Fonte: Correio do Povo,
edição de 8 de janeiro de 2015.