Datas
comemorativas servem, entre outras coisas, para cultivar a memória e
também pensar o presente e o futuro. O 20 de Setembro, que marca o
início da Revolução Farroupilha em 1835, é uma oportunidade para
fazer uma reflexão sobre a atual situação do Rio Grande do Sul e
pensar sobre o futuro. Mais do que meramente celebrar um passado
idílico, esse exercício de reflexão desafia a nossa imaginação a
projetar possíveis novos caminhos. Mergulhado em uma crise
financeira estrutural que se arrasta há décadas, o nosso estado
vive um período de incertezas. Estamos condenados a permanecer
eternamente acorrentados a essa situação? A ousadia, que marca
diversos momentos da nossa história, indica que não.
O potencial de desenvolvimento do Rio
Grande do Sul é enorme. Temos estruturas produtivas e tecnológicas
e um povo com conhecimento e um experiência acumulada de capazes de
impulsionar um salto na nossa capacidade de produção e de
desenvolvimento social, por conta de sua imensa capacidade de
trabalho e de inovação. Essa é a nossa principal riqueza
estratégica.
O espírito republicano que embalou o
processo de modernização do Estado no início do século XX foi
exemplo para todo o país. A realidade histórica é outra, os
problemas e possíveis soluções também. Cada tempo tem o seu
desafio. Mas sempre é bom relembrar quais são os valores mais caros
a essa tradição que remonta à Revolução Francesa e que seguem
atuais. A ideia moderna da República traz como uma de suas marcas de
batismo os princípios da liberdade, da igualdade e da fraternidade.
Precisamos avançar muito para que esses princípios sejam traduzidos
em práticas sociais e políticas públicas mais permanentes no
Estado, no país e no mundo. Mas eles seguem aí, a iluminar o nosso
caminho em períodos de incerteza e insegurança.
Não há receita mágica para superar
a crise atual do Estado, mas a nossa memória republicana nos informa
algumas coisas. A crise não será superada com menos democracia e
menos igualdade, mas com mais democracia e mais igualdade. Tampouco
será superada desvalorizando os nossos melhores talentos e
capacidades na economia, na cultura e na vida social. E também não
será superada sem desafiarmos a nossa imaginação, sem termos a
ousadia de desbravar novos caminhos quando parece que estamos num
beco sem saída. Isso já foi feito antes na história, na nossa
inclusive. E a história serve não para nos aprisionar a passados
mais ou menos míticos, mas sim para provocar o nosso pensamento a
refletir sobre o presente e projetar um futuro melhor, mais criativo,
ousado e justo.
Ministro da Secretaria-Geral da
Presidência da República
Fonte: Correio do Povo, página 2 da
edição de 19 de setembro de 2015.