Pela
primeira vez na história do Estado, servidores públicos de 43
categorias estão unidos na paralisação até sexta-feira
Milhares
de servidores públicos estaduais foram para as ruas da Capital ontem
e aprovaram uma greve histórica de três dias, a primeira a unificar
todas as categorias do serviço público estadual. A paralisação
começa hoje e se estende até sexta-feira. Caso o pagamento dos
salários dos servidores não ocorra até o dia 31 deste mês, eles
paralisam novamente até 3 de setembro, quando um novo ato deve ser
realizado. A categoria vai permanecer em estado de greve enquanto
aguarda o pagamento dos salários. A Federação Sindical dos
Servidores Públicos do Rio Grande do Sul (Fessergs) estimou que 50
mil pessoas participaram da assembleia que acabou em ato em frente ao
Palácio Piratini e à Assembleia Legislativa do Estado. A Brigada
Militar contabilizou 30 mil.
Desde
o começo da terça-feira, 43 entidades sindicais realizaram reuniões
isoladas para decidir se iriam aderir ou não à greve. Durante a
tarde, a partir das 14h, o Largo Glênio Peres foi tomado por uma
multidão com faixas, cartazes e rostos pintados para ouvir a decisão
oficial na assembleia unificada, que vinha sendo anunciada havia
semanas com caravanas feitas pelo interior do Estado.
A
coordenação da mobilização, composta por seis sindicatos,
anunciou a decisão ao microfone. 'A nossa unidade é a nossa força.
Vamos sair daqui hoje em greve”, declarou o presidente da Fessergs,
Sérgio Arnoud. A decisão atinge policiais civis, brigadianos,
professores, bancários, servidores da saúde, dos presídios e
dezenas de outros profissionais que prestam serviços ao Estado.
“Pelo desrespeito deste governo com os servidores nós precisamos
tomar as ruas para cobrar os nossos direitos”, afirmou Helenir
Aguiar Schürer, presidente do Cpers/Sindicato.
Após
a assembleia, os servidores seguiram em caminhada até o Palácio
Piratini. A multdão tomou conta da Praça da Matriz e ocupou parte
do prédio da Assembleia Legislativa, onde os coordenadores da
mobilização entregaram um ofício ao presidente da Casa.
50 mil
pessoas participaram do ato segundo a Fessergs. A BM confirma 30 mil.
Trânsito
ainda mais complicado
O
trânsito da Capital ficou complicado do final da manhã até o
início da noite de ontem devido às manifestações dos servidores.
A avenida Padre Cacique chegou a ter as pistas bloqueadas nos dois
sentidos por causa da caminhada do Cpers, que seguiu pela Borges de
Medeiros até o Centro. Os policiais civis usaram a João Pessoa e a
Ipiranga, que ficou lenta no sentido bairro-Centro.
Linhas
de ônibus sofrem atrasos
Na
região Central da cidade, o fluxo nas proximidades das ruas Siqueira
Campos, dos Andradas e Júlio de Castilhos também foi intenso devido
à manifestação dos policiais militares e concentração de todas
as categorias no Largo Glênio Peres. Diversas linhas de ônibus
sofreram atrasos. Até as 18h, ainda havia concentração de
manifestantes na avenida Duque de Caxias e arredores.
Manifestantes
ocuparam as galerias da AL
O
vice-presidente da Assembleia deputado Ronaldo Santini (PTB),
declarou ontem ao receber os manifestantes na sede do Legislativo,
que a mobilização do funcionalismo é “um ato importante para a
democracia”. Além de entregarem um documento contendo sua pauta de
reivindicações, os servidores ocuparam a totalidade das galerias
durante a sessão planária, que se tornou conturbada e esteve os
ameaça de suspensão.
Santini,
contudo, optou por manter a sessão, mesmo diante de, ao menos, dois
perdidos feitos por representantes da base de governista para que
encerrasse a sessão por alegado tumulto.
Oposicionistas
dispararam críticas contra o governo. “Vamos pedir ao governador
Sartori que reúna a bancada federal gaúcha para negociar com a
União os termos da dívida e vamos exigir que retire os projetos que
atingem o funcionalismo”, afirmou o deputado Jualiano Roso (PCdoB).
“A postura do governo de congelar o chamado aos aprovados em
concursos para a segurança pública é uma contradição à
aprovação de contratos emergenciais para a Metroplan nesta sessão”,
considerou Pedro Ruas (Psol).
Único
representante da base a pronunciar-se diante dos manifestantes, Enio
Bacci (PDT), declarou que “a redução do contingente da Brigada
Militar nas ruas aumenta a sensação de insegurança entre
cidadãos”, cobrou o pedetista.
Bacci
afirmou que havia 19 mil brigadianos na ativa no início deste ano.
“Este número já se reduziu a cerca de 17,5 mil por conta do
arrocho e chegará a 14 mil ou 13 mil até o final do governo. Não
será possível corrigir os problemas do Estado sem fazer nenhum
investimento nas áreas essenciais”, analisou o parlamentar.
O
pedetista disse que será inadmissível que o governo encaminhe
projeto para postergar o calendário de reajustes salariais definidos
em lei, como é intenção de Sartori.
Serviços
afetados
Escolas:
A orientação do Cpers é que todas as escolas estaduais fechem
entre hoje e sexta-feira. A entidade não soube prever qual será a
adesão dos professores. As instituições privadas funcionam
normalmente.
Bancos:
O Sindicato dos Bancários de
Porto Alegre vai estudar se ingressa com pedido na Justiça para
fechamento das agências bancárias. A avaliação será feita a
partir do impacto da operação padrão dos servidores da Brigada
Militar.
Brigada
Militar: Os servidores da BM e
bombeiros vão trabalhar dentro da operação padrão, que está
sendo chamada de “Operação Dignidade”, segundo a Abamf e
ASSTBM. Já avisaram que não irão para as ruas com viaturas com
documentação irregular ou sem condições de rodar. Além disso,
vão evidenciar a falta de condições de trabalho, por meio da falta
de fardas e do armamento sem condições de uso. Se o governo atrasar
ou parcelar o próximo salário, dia 31 terá aquartelamento.
Polícia
Civil: Pelo Sinpol só serão
atendidos serviços de emergência com flagrantes, homicídios,
delitos envolvendo crianças e adolescentes, mantendo apenas 30% de
servidores em atividades. A Asdep apoia a manifestação, mas não
aderiu à greve. A entidade orienta que os delegados deem suporte,
dentro dos limites da legalidade, às medidas adotadas pelos agentes
da PC, mantendo o atendimento aos casos graves e urgentes, a critério
de cada delegado de Polícia.
Serviços
Penitenciários: A Amapergs
aponta que vão ser suspensos atendimentos administrativos,
transferência de presos e audiências serão canceladas. Será
mantida a alimentação dos apenados, a segurança e atendimento
médico de urgência para os prisioneiros. Só será permitida a
visita de uma pessoa por preso, sem pertences.
Transportes:
O sindicato dos Rodoviários
informou que não deve ser afetado o transporte coletivo em Porto
Alegre. Se algum caso mais grave ocorrer, devem se reunir e tomar
alguma medida. Já a Trensurb acredita que a paralisação não deve
afetar os serviços do trem metropolitano.
Saúde:
Serviços de farmácia e
hospitais do Estado podem ser prejudicados, com a adesão de parte
dos servidores.
Comércio:
O Sindilojas Porto Alegre
orienta os lojistas a abrirem seus estabelecimentos e trabalharem
normalmente nos próximos dias. Segundo o sindicato, a paralisação
dos servidores no dia 3 de agosto gerou queda de quase 70% nas vendas
do comércio da Capital.
Fonte: Correio do Povo, página 12 de
19 de agosto de 2015.