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quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Aprovada greve inédita de 3 dias

Pela primeira vez na história do Estado, servidores públicos de 43 categorias estão unidos na paralisação até sexta-feira

Milhares de servidores públicos estaduais foram para as ruas da Capital ontem e aprovaram uma greve histórica de três dias, a primeira a unificar todas as categorias do serviço público estadual. A paralisação começa hoje e se estende até sexta-feira. Caso o pagamento dos salários dos servidores não ocorra até o dia 31 deste mês, eles paralisam novamente até 3 de setembro, quando um novo ato deve ser realizado. A categoria vai permanecer em estado de greve enquanto aguarda o pagamento dos salários. A Federação Sindical dos Servidores Públicos do Rio Grande do Sul (Fessergs) estimou que 50 mil pessoas participaram da assembleia que acabou em ato em frente ao Palácio Piratini e à Assembleia Legislativa do Estado. A Brigada Militar contabilizou 30 mil.
Desde o começo da terça-feira, 43 entidades sindicais realizaram reuniões isoladas para decidir se iriam aderir ou não à greve. Durante a tarde, a partir das 14h, o Largo Glênio Peres foi tomado por uma multidão com faixas, cartazes e rostos pintados para ouvir a decisão oficial na assembleia unificada, que vinha sendo anunciada havia semanas com caravanas feitas pelo interior do Estado.
A coordenação da mobilização, composta por seis sindicatos, anunciou a decisão ao microfone. 'A nossa unidade é a nossa força. Vamos sair daqui hoje em greve”, declarou o presidente da Fessergs, Sérgio Arnoud. A decisão atinge policiais civis, brigadianos, professores, bancários, servidores da saúde, dos presídios e dezenas de outros profissionais que prestam serviços ao Estado. “Pelo desrespeito deste governo com os servidores nós precisamos tomar as ruas para cobrar os nossos direitos”, afirmou Helenir Aguiar Schürer, presidente do Cpers/Sindicato.
Após a assembleia, os servidores seguiram em caminhada até o Palácio Piratini. A multdão tomou conta da Praça da Matriz e ocupou parte do prédio da Assembleia Legislativa, onde os coordenadores da mobilização entregaram um ofício ao presidente da Casa.




50 mil pessoas participaram do ato segundo a Fessergs. A BM confirma 30 mil.


Trânsito ainda mais complicado

O trânsito da Capital ficou complicado do final da manhã até o início da noite de ontem devido às manifestações dos servidores. A avenida Padre Cacique chegou a ter as pistas bloqueadas nos dois sentidos por causa da caminhada do Cpers, que seguiu pela Borges de Medeiros até o Centro. Os policiais civis usaram a João Pessoa e a Ipiranga, que ficou lenta no sentido bairro-Centro.


Linhas de ônibus sofrem atrasos

Na região Central da cidade, o fluxo nas proximidades das ruas Siqueira Campos, dos Andradas e Júlio de Castilhos também foi intenso devido à manifestação dos policiais militares e concentração de todas as categorias no Largo Glênio Peres. Diversas linhas de ônibus sofreram atrasos. Até as 18h, ainda havia concentração de manifestantes na avenida Duque de Caxias e arredores.


Manifestantes ocuparam as galerias da AL

O vice-presidente da Assembleia deputado Ronaldo Santini (PTB), declarou ontem ao receber os manifestantes na sede do Legislativo, que a mobilização do funcionalismo é “um ato importante para a democracia”. Além de entregarem um documento contendo sua pauta de reivindicações, os servidores ocuparam a totalidade das galerias durante a sessão planária, que se tornou conturbada e esteve os ameaça de suspensão.
Santini, contudo, optou por manter a sessão, mesmo diante de, ao menos, dois perdidos feitos por representantes da base de governista para que encerrasse a sessão por alegado tumulto.
Oposicionistas dispararam críticas contra o governo. “Vamos pedir ao governador Sartori que reúna a bancada federal gaúcha para negociar com a União os termos da dívida e vamos exigir que retire os projetos que atingem o funcionalismo”, afirmou o deputado Jualiano Roso (PCdoB). “A postura do governo de congelar o chamado aos aprovados em concursos para a segurança pública é uma contradição à aprovação de contratos emergenciais para a Metroplan nesta sessão”, considerou Pedro Ruas (Psol).
Único representante da base a pronunciar-se diante dos manifestantes, Enio Bacci (PDT), declarou que “a redução do contingente da Brigada Militar nas ruas aumenta a sensação de insegurança entre cidadãos”, cobrou o pedetista.
Bacci afirmou que havia 19 mil brigadianos na ativa no início deste ano. “Este número já se reduziu a cerca de 17,5 mil por conta do arrocho e chegará a 14 mil ou 13 mil até o final do governo. Não será possível corrigir os problemas do Estado sem fazer nenhum investimento nas áreas essenciais”, analisou o parlamentar.
O pedetista disse que será inadmissível que o governo encaminhe projeto para postergar o calendário de reajustes salariais definidos em lei, como é intenção de Sartori.


Serviços afetados

Escolas: A orientação do Cpers é que todas as escolas estaduais fechem entre hoje e sexta-feira. A entidade não soube prever qual será a adesão dos professores. As instituições privadas funcionam normalmente.
Bancos: O Sindicato dos Bancários de Porto Alegre vai estudar se ingressa com pedido na Justiça para fechamento das agências bancárias. A avaliação será feita a partir do impacto da operação padrão dos servidores da Brigada Militar.
Brigada Militar: Os servidores da BM e bombeiros vão trabalhar dentro da operação padrão, que está sendo chamada de “Operação Dignidade”, segundo a Abamf e ASSTBM. Já avisaram que não irão para as ruas com viaturas com documentação irregular ou sem condições de rodar. Além disso, vão evidenciar a falta de condições de trabalho, por meio da falta de fardas e do armamento sem condições de uso. Se o governo atrasar ou parcelar o próximo salário, dia 31 terá aquartelamento.
Polícia Civil: Pelo Sinpol só serão atendidos serviços de emergência com flagrantes, homicídios, delitos envolvendo crianças e adolescentes, mantendo apenas 30% de servidores em atividades. A Asdep apoia a manifestação, mas não aderiu à greve. A entidade orienta que os delegados deem suporte, dentro dos limites da legalidade, às medidas adotadas pelos agentes da PC, mantendo o atendimento aos casos graves e urgentes, a critério de cada delegado de Polícia.
Serviços Penitenciários: A Amapergs aponta que vão ser suspensos atendimentos administrativos, transferência de presos e audiências serão canceladas. Será mantida a alimentação dos apenados, a segurança e atendimento médico de urgência para os prisioneiros. Só será permitida a visita de uma pessoa por preso, sem pertences.
Transportes: O sindicato dos Rodoviários informou que não deve ser afetado o transporte coletivo em Porto Alegre. Se algum caso mais grave ocorrer, devem se reunir e tomar alguma medida. Já a Trensurb acredita que a paralisação não deve afetar os serviços do trem metropolitano.
Saúde: Serviços de farmácia e hospitais do Estado podem ser prejudicados, com a adesão de parte dos servidores.
Comércio: O Sindilojas Porto Alegre orienta os lojistas a abrirem seus estabelecimentos e trabalharem normalmente nos próximos dias. Segundo o sindicato, a paralisação dos servidores no dia 3 de agosto gerou queda de quase 70% nas vendas do comércio da Capital.


Fonte: Correio do Povo, página 12 de 19 de agosto de 2015.