Nova Ponte do Guaíba: obra levará o mesmo tempo da antiga
Reassentamentos e exigências ambientais justificam demora na construção, que ficará pronta só em 2017
Cíntia Marchi
Sessenta anos separam a construção da primeira ponte do Guaíba e os atuais trabalhos para concretizar a segunda travessia. Apesar de épocas diferentes, os dois projetos terão o mesmo tempo de duração para saírem do papel. A expectativa do Departamento Nacional de infraestrutura de Transporte (Dnit) é executar, até o final do ano, 30% da infraestrutura. Os outros 70% deverão ser concluídos até setembro de 2017.
Quem circula pela BR 290 tem acompanhado o avanço da obra, que terá uma extensão total de 7,3 quilômetros, incluindo acessos e viadutos. A ponte, sozinha, terá 2,9 quilômetros. A cravação da primeira estaca em solo completa um ano neste mês.
A história da construção da primeira ponte e do conjunto de outras obras que possibilitaram a ligação da Região Metropolitana com o Sul do Estado começou em 1955 e se estendeu até 1958. No dia 28 de dezembro daquele ano, autoridades inauguraram o trajeto de 15 quilômetros, conforme noticiou o jornal Correio do Povo.
Para justificar por que a segunda ponte demorará tanto quanto a primeira para ser concluída, o Dnit alega que as atuais exigências ambientais são empecilhos para a celeridade. Na época da construção da atual ponte não existia o Parque Delta do Jacuí nem os cuidados ambientais exigidos atualmente pelos órgãos de controle, como a Fepam, argumenta o departamento. Também, com a nova ponte, será preciso reassentar 998 famílias e realocar 33 comércios e instituições.
O Dnit informa que haverá necessidade ainda de realizar mais 5 quilômetros de aterro. Na avaliação do órgão, o empreendimento vai restabelecer um nível de serviço adequado na chegada e na saída de Porto Alegre com o Sul do Estado, conectando rodovias de integração nacional. A ponte existente revela uma situação precária e esgotamento da capacidade de escoamento. Esse cenário é agravado pelos constantes içamentos do vão móvel, alega o Dnit.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção de Estradas. Pavimentação e Obras de Terraplenagem em Geral (Sicepot/RS), Nelson Sperb Neto, diz que muitas vezes o impedimento para encurtar o tempo dos trabalhos está n liberação dos recursos por parte do governo federal. Para ele, se o Dnit concedesse à iniciativa privada a realização integral da obra, haveria mais agilidade. “A decisão do governo em fazer com recursos próprios atrasou dez anos a construção da segunda ponte. Agora, com a falta de recursos, vai atrasar mais ainda.”
O Dnit não cogita carência de orçamento – o investimento será de R$ 649,6 milhões nessa ponte. 'Embora pareça cruel as nossas rodovias terem concessionárias e pedágios, acho que é a forma mais salutar para obras e manutenção das estradas”, complementa Sperb Neto. A Queiroz Galvão, que responde pelo consórcio executor da obra, diz que por impedimento contratual, não comenta aspectos da obra.
COMPARAÇÃO
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PONTE ATUAL
Período de construção: De 1955 a dezembro de 1958.
Tráfego: Passam pela ponte móvel entre 48 e 50 mil veículos por dia.
Extensão: A ponte tem 1,1 quilômetro e duas faixas em cada sentido. O conjunto de obras realizadas na época somou 15 quilômetros.
Inovação: A ponte contém o vão móvel, único na América Latina que eleva um trecho de pista de 58 metros e uma altura de 34 metros do do nível da água. O vão pesa 400 toneladas. O projeto foi elaborado na Alemanha e aperfeiçoado na França. As quatro torres têm o total de 43 metros até a base, sob a água.
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NOVA PONTE
Período de construção: De 2014 a setembro de 2017 (previsão).
Tráfego: Dnit estima que 50 mil veículos devam utilizar a nova travessia por dia.
Extensão: 2,9 quilômetros da ponte, com extensão total de 7,3 quilômetros, somados os acessos e os viadutos.
Estrutura: Cada pista contará com duas faixas de rolamento com acostamento e refúgio central. O vão navegável terá 40 metros de altura do nível da água. A obra abrirá uma entrada ao bairro Humaitá com ligação direta com a Terceira Perimetral.
Investimento: R$ 649,6 milhões.
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Audiência avalia impacto social
Em novembro, deve ocorrer audiência pública para debater o impacto socioambiental da nova ponte. A proposta é da Comissão de Saúde e Meio Ambiente (Cosmam) da Câmara de Porto Alegre. A Cosmam também vai acionar a Agência Nacional deTRansportes Terrestres para que reavalie o trajeto da atual ponte a fim de contemplar o trânsito de pedestres, ciclistas e carrinheiros que usam a via para o trabalho d reciclagem, comum na região das ilhas.
Quase mil famílias afetadas
No início do ano, o Dnit sinalizou a fachada da casa de Andréia Cruz, 42 anos, cm o número 198. Trata-se de um selo para identificar as casas que serão demolidas com o avanço das obras. A família de Andréia, moradora da Ilha Grande dos Marinheiros, é uma entre as 998 que terão que deixar suas casas. Comércios e instituições também vão sair.
Andréia diz que ainda não se acostumou com a ideia. “Para alguns, tenho certeza de que a vida vai melhorar. Mas eu não estou contente. Vou ter que deixar meu terreno, meu pátio que é grande, e o lugar que eu moro desde quando nasci.” O maior transtorno, segundo ela, será deixar a residência que é toda adaptada para oc cuidados da filha com deficiência. Para o Dnit, a construção das moradias deve iniciar entre o final deste ano e o início de 2016. A remoção dos assentados começa no ano que vem.
Mês passado, o Dnit recebeu a licença prévia da Fepam que autoriza o uso de área na Ilha dos Marinheiros para a construção de loteamento. Agora, o órgão. Trabalha no projeto de infraestrutura para implantar serviços, assim que receber a licença de instalação. Em paralelo, o Ministério das Cidades e a Caixa Econômica Federal devem preparar a licitação da construção dos imóveis. A remoção atinge ainda comunidades das vilas Tio Zeca e Areia e Ilha das Flores.
Fonte: Correio do Povo, página 10 de 11 de outubro de 2015.
Nova liminar proíbe parcelamento
Os desembargadores do Órgão Especial do Tribunal de Justiça do RS concederam mandado de segurança para que os vencimentos dos servidores aposentados e pensionistas do Estado não sejam parcelados. A liminar foi deferida em março deste ano beneficiando o Sindicato dos Servidores Públicos Aposentados e Pensionistas. O julgamento do mérito ocorreu no último dia 21 de setembro.
Fonte: Correio do Povo, página 3 de 25 de setembro de 2015.
Nico e Nelson, por Moisés Mendes
Nunca tinha ouvido falar de Cristiano Araújo, o cantor morreu em acidente nesta semana e comoveu o país. Cristiano era famoso e alguns nem sabiam. Dizem que Fátima Bernardes comentou a morte em seu programa, mas o chamou de Cristiano Ronaldo. E um bom pedaço do Brasil havia parado por causa do trauma com a morte do cantor.
Quando fez sucesso de crítica e de público com a peça Vestido de Noiva, Nelson Rodrigues escreveu sobre o espanto de ter ficado famoso sem que muita gente soubesse. Mas isso aconteceu em 1943.
A peça, diziam, revolucionou o teatro no Brasil. Nelson escreveu que caminhava flutuando pelo centro do Rio, certo de que havia chegado à fama. Mas os que caminhavam em volta o ignoravam como famoso. Nelson era famoso no restrito círculo dos que iam ao teatro e liam notas culturais nos jornais.
A fama de Cristiano reproduziu entre nós 70 anos depois, o assombro de Nelson, mas de outra forma. Como era possível que eu, você e a Fátima Bernardes não conhecêssemos Cristiano? O cantor era aclamado em seu nicho, e que nicho, da música sertaneja. E nós, os que circulamos por outros mundos, não sabíamos de nada.
Só que Cristiano era um artista de massa, dos grandes públicos, e Nelson era, então como autor de teatro, uma figura de redutos. Cristiano tinha fama mesmo. Nelson tinha reputação.
E agora, trazendo essa questão um pouco mais para perto, vamos falar de Antônio Augusto da Silva Fagundes. Nico era, claro, muito famoso. E também tinha muita reputação.
Mas Nico foi candidato a vereador de Porto Alegre em 2012. Fez 1.164 votos e não se elegeu. A democracia oferece explicações variadas para o reinado de um Eduardo Cunha e até a relevância de um Zé Agripino para as liberdades.
Mas como explica que Nico, com fama e reputação, com as raízes do nativismo, com seu esforço e talento para interpretar o Rio Grande, não tenha sido eleito vereador?
Que mistério da política negou ao autor (com o irmão Bagre Fagundes) do Canto Alegretense a chance de ser vereador? Por que o próprio nativismo esnobou Nico? Ou nativista não vota em nativista?
Fonte: Zero Hora, página 30 de 26 de junho de 2015.