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sábado, 6 de junho de 2015

A reunificação Sui-Tang

Durante o período de desunião, a falta de ortodoxia central permitiu que as Seis Dinastias do Sul, a maior parte com capital em Nanjing, e os Dezesseis Reinos do Norte se diferenciassem e inovassem. O budismo e o daoísmo inspiravam artistas, filósofos e escritores. Muitas histórias dinásticas referem-se às efêmeras pequenas dinastias dessa era.
Os três séculos das dinastias Sui-Tang (589-907) finalmente restabeleceram o ideal chinês de unidade desenvolvido sob os Han. O Norte da China fora devastado pelas invasões nômades, enquanto o Sul do país ao longo do Yangzi tinha prosperado de forma relativamente pacífica. Os sessenta milhões de pessoas estimados sob a dinastia Han no ano 2 d.C. (principalmente no Norte da China) tinham sido reduzidos em números, mas a migração de famílias Han para o Sul começara a mudar o centro da gravidade da China. Na época moderna, o Sul da China abrigaria dois terços da população chinesa. Porém, do século VI ao X a grande massa popular da China ainda habitava a planície do Norte, facilmente unificada, onde foi constatada uma grande quantidade de prefeituras, cada uma com cem mil moradias (digamos, quinhentas mil pessoas). Conforme assinalado por Mark Elvin (Bluden e Elvin, 1983), ao Império Romano “faltou uma região dominante e consolidada que se comparasse”. A centralidade do Norte da China e a enorme população eram um fator de união. Quem quer que a controlasse poderia facilmente subjugar as demais áreas, incluindo o Sul da China.
Os fundadores das dinastias Sul e Tang tinham se casado com famílias de tribos nômades achinesadas. Agora eram as famílias aristocráticas do Noroeste da China, localizando-se especialmente na atual província de Shanxi e na região da antiga capital que ia do vale Wei, passando pelo lado sul do rio Amarelo, até a planície do Norte da China. Assim como os Zhous e os Qin, essa área ao noroeste obtinha sua força militar dos povos nômades. Dos pastores das pradarias, os chineses compravam cavalos para batalhas de cavalarias, calças para montar com as pernas separadas, selas e, depois, estribos, além de arreios e, por fim, a coleira, que seria cópia do Ocidente. As relações desses clãs com a Ásia Central no comércio e na dilomacia eram próximas e influentes muito antes da reunificação Sui-Tang dentro da China.
O fundador dos Sui permanecia a uma família Yang parcialmente nômade com a residência a meio caminho entre as duas antigas capitais dos Zhou e dosHan, Chang'an e Luoyang. O fundador da dinastia Tang era, da mesma forma, um descendente de uma família Li de origens militares turcas e status aristocrático. Esses aristocratas militares tinham se casado tanto com os chineses como com familiares um do outro, formando um grande grupo homogêneo de hindus à altura das empreitadas dispendiosas de conquistas e administração. Os reis nômades do Norte da China adotaram de forma tão zelosa maneiras chinesas, incluindo idioma, vestimentas e métodos de governo, que seus estados híbridos pareciam ser, nos registros históricos, propriamente chineses.
O último dos Dezesseis Reinos já haviam unificado o Norte da China quando o fundador dos Sui Tomou o poder em 581. Elaborou rapidamente um novo código judicial com quinhentos artigos, impôs a ordem do governo local e deu continuidade a diversas instituições iniciadas por reinos anteriores. Entre estas estava o sistema de “Campo igualitário” que deveria, a cada ano, reservar vários acres de terra cultivável a cada homem adulto. Ele também continuou com o sistema de responsabilidade coletiva por grupos de residências, as milícias com administração territorial e as colônias agrícolas militares na fronteira. A burocracia unificada resultou no recebimento de impostos; silos de ajuste de preços compravam grãos nos tempos de fatura e os vendiam barato em tempos de carestia. Nesse ínterim, os monastérios budistas tornavam-se grandes latifundiários de influência crescente. A devotada patronagem do imperador criou (nas palavras de Arthur Wright) um “budismo imperial”.
A conquista do Sul pelos Sui ao longo do Yangzi não foi muito destrutiva, e o segundo imperador, Sui Yangdi, conseguiu mobilizar os recursos do império para grandes projetos. Um foi a ampliação do Grande Canal desde o norte de Hangzhou, e então até o noroeste na região Luoyang. Em 609, ele foi estendido em direção ao nordeste, para a região de Tiajin e Beijing, Utilizando os riachos e lagos locais, o transporte de balsa podia levar mantimentos e mercadorias do baixo Yangzi até o Norte da China para fortalecer a fronteira norte, além de alimentar a área da capital. Foram construídos grandes silos (cada um podia armazenar 33 milhões de alqueires).
Essa desordenada explosão de energia sob um imperador com visões de grandeza já inspirou comparações entre os reinos de vida efêmera de Sui Yngdi e Qin Shihuang, dois que excederam. A tentativa de conquista da Coreia por Yangdi esgotou seus recursos, e essa derrota contribuiu para desanimar a rebelião e ocasionar sua perda do mandato.
Os fundadores da dinastia Tang foram mais prudentes. Herdaram as conquistas dos Sui, incluindo a enorme capital de oito por nove quilômetros. Chang'an, e a capital secundária, Luoyang. Enquanto os departamentos administrativos da dinastia Han tinham coordenado os assuntos palacianos e dinásticos familiares lado a lado com os assuntos de interesse geral da nação, os Sui e os Tang estabeleceram seis ministérios – administração pessoal, fazenda, ritos, exércitos, justiça e obras públicas – que formariam as principais divisões do governo chinês até 1900. Outros órgãos incluíam a censura, que analisava relatórios sobre a conduta oficial e até mesmo a imperial, e uma versão primitiva do sistema de exames oficiais.
No governo do segundo imperador, os exércitos Tang espelharam-se pelo exterior em todas as direções, derrotando os coreanos, expandindo-se ao sul pelo norte do Vietnã e, principalmente, forçando seu domínio na Ásia Central até que houvesse prefeituras chinesas funcionando a oeste dos Pamirs. Essa expansão dos Tang pelas cidades comerciais dos Oásis da Rota da Seda abriu caminho para um maior contato com a Ásia Ocidental. A capital dos Tang em Chang'an tornou-se uma grande metrópole internacional, um marco do mundo eurasiano. Entre 600 e 900, nenhuma capital ocidental ganhava dela em tamanho e esplendor.
A destreza militar dos Tang equiparava-se às conquistas nas belas-artes e na literatura. A poesia Tang tornou-se modelo para períodos posteriores o vigor criativo dos Tang permitiu-lhes ser uma sociedade mais aberta, aceitando estrangeiros do Japão, Coreia e Vietnã em sua vida urbana, bem como da Pérsia e da Ásia Ocidental. O budismo tinha acrescentado uma outra dimensão à herança Tang dos Han. Os estados mais recentes que emergiram na Ásia Central baseavam suas instituições nos Tang.


Fonte: China – Uma Nova História, páginas 85, 86 e 87.