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sábado, 6 de junho de 2015

A pátria em perigo

 A Assembleia Legislativa da França – eleita após a dissolução da Assembleia Nacional Constituinte – organizou a defesa, apelando para a mobilização das forças populares. Por todo o país ecoou o grito La patrie em danger!, “a Pátria em Perigo!” A proclamação encaminhada por Brissot dizia: “Tropas numerosas avançam as nossas fronteiras. Todos os que têm horror à liberdade se armam contra a nossa Constituição. Cidadão! A pátria está em perigo.”
Milhares de voluntários se apresentaram para formar os regimentos patrióticos. Era o levé em masse, o levante em massa, que segundo consta teria engajado 500 mil homens para irem acudir as fronteiras ameaçadas. Esse acontecimento foi o primeiro evento da guerra moderna, da guerra total, no qual a população inteira é envolvida no conflito. O povo da França havia declarado guerra aos reis da Europa, aos reis do mundo. Mal sabiam que erguiam-se em armas para uma campanha que iria se estender por mais de vinte anos e que só esmoreceria em Waterloo, quando da derrota de Napoleão em 1815.

O hino da revolução

Ainda em julho, chegou à Paris um importante reforço, o batalhão federal de Marselha, cujo hino – o Canto de Guerra para o Exército do Reno – composto por um oficial engenheiro de nome Rouget de Lisle, tornou-se a famosa Marselhesa, o Te Deum da Revolução de 1789. Entrementes, o rei Luís XVI foi acusado de conspiração. A ira do povo aumentava. Estava clara a associação dos exércitos invasores com a posição do rei. Se eles vencessem, se a contrarrevolução conseguisse tomar Paris, a repressão sobre as massas seguramente seria exemplar.

A Convenção Nacional

A dez de agosto, uma multidão invadiu o Palácio das Tulherias, obrigando a família real a refugiar-se na Assembleia Legislativa, que ocupava o pavilhão central das Tulherias. Houve combates. A guarda suíça, defensora do palácio real, lutou para defendê-lo até ser aniquilada pela multidão insurgente. No mesmo dia, os deputados suspenderam o rei e decidiram, inspirados nos revolucionários americanos, eleger uma Convenção Nacional com amplos poderes. Era o fim da monarquia. Não demorou para que entre os próprios revolucionários duas tendências se afirmassem, a dos jacobinos e a dos girondinos. Se na época da Assembleia Nacional as expressões gauche - “esquerda” - é aplicada aos pró-republicanos e aos democratas radicais, e droite - “direita” - aos defensores da monarquia, na Convenção Nacional elas servem para designar os jacobinos e os girondinos.

Jacobinos e girondinos

Os jacobinos tinham esse nome derivado do seu local de encontro, o Convento de S. Jacques, em Paris. Com o tempo, o clube dos jacobinos tornou-se uma poderosa facção revolucionária, compostas pelos democratas mais ardentes e pelos revolucionários mais radicais, que terminaram de formar dentro do eclético corpo do jacobinismo militante, outras tendências, como a dos Cordelliers e a dos Feuillants. Politicamente eles representavam a massa dos sans-culottes, os setores mais pobres da sociedade francesa, os trabalhadores jornaleiros e parte considerável da classe média dos jornalistas, dos advogados e pequenos profissionais que, com o rugir da revolta, assumiram as posições mais extremadas. Inicialmente os jacobinos aceitaram a monarquia constitucional, mas depois, especialmente depois da fuga do rei, foram os mais ardorosos defensores de uma república revolucionária. Os seus líderes mais representativos foram Maximilien Robespierre, um parlamentar vindo de Arras; Georges Danton, o maior tribuno da revolução depois de Mirabeau; Louis Saint-Just, um jovem orador que encarnou os extremismos dos jacobinos; e Georges Couthon.
Os girondinos, por sua vez, eram os deputados de um departamento do interior da França, a Gironda, área próspera da costa atlântica, tendendo a representar os interesses comerciais e a visão do mundo da burguesia ilustrada, que oscilava entre a monarquia constitucional e a república. A posição deles a favor da conciliação com a monarquia levou à perdição quando a França foi invadida e encontraram-se os documentos comprometedores da ação do rei. Os mais representativos deles eram o deputado Brissot e o Ministro Roland, em cuja casa, o salão da mme. Roland, reunia-se à elite revolucionária dos girondinos.

Fonte: História por Voltaire Schilling