A Assembleia Legislativa da França – eleita após a dissolução
da Assembleia Nacional Constituinte – organizou a defesa, apelando
para a mobilização das forças populares. Por todo o país ecoou o
grito La patrie em danger!, “a Pátria em Perigo!” A
proclamação encaminhada por Brissot dizia: “Tropas numerosas
avançam as nossas fronteiras. Todos os que têm horror à liberdade
se armam contra a nossa Constituição. Cidadão! A pátria está em
perigo.”
Milhares de voluntários se apresentaram para formar os regimentos
patrióticos. Era o levé em masse, o levante em massa, que
segundo consta teria engajado 500 mil homens para irem acudir as
fronteiras ameaçadas. Esse acontecimento foi o primeiro evento da
guerra moderna, da guerra total, no qual a população inteira é
envolvida no conflito. O povo da França havia declarado guerra aos
reis da Europa, aos reis do mundo. Mal sabiam que erguiam-se em armas
para uma campanha que iria se estender por mais de vinte anos e que
só esmoreceria em Waterloo, quando da derrota de Napoleão em 1815.
O hino da revolução
Ainda em julho, chegou à Paris um importante reforço, o batalhão
federal de Marselha, cujo hino – o Canto de Guerra para o
Exército do Reno – composto por um oficial engenheiro de nome
Rouget de Lisle, tornou-se a famosa Marselhesa, o Te Deum da
Revolução de 1789. Entrementes, o rei Luís XVI foi acusado de
conspiração. A ira do povo aumentava. Estava clara a associação
dos exércitos invasores com a posição do rei. Se eles vencessem,
se a contrarrevolução conseguisse tomar Paris, a repressão sobre
as massas seguramente seria exemplar.
A Convenção Nacional
A dez de agosto, uma multidão invadiu o Palácio das Tulherias,
obrigando a família real a refugiar-se na Assembleia Legislativa,
que ocupava o pavilhão central das Tulherias. Houve combates. A
guarda suíça, defensora do palácio real, lutou para defendê-lo
até ser aniquilada pela multidão insurgente. No mesmo dia, os
deputados suspenderam o rei e decidiram, inspirados nos
revolucionários americanos, eleger uma Convenção Nacional com
amplos poderes. Era o fim da monarquia. Não demorou para que entre
os próprios revolucionários duas tendências se afirmassem, a dos
jacobinos e a dos girondinos. Se na época da Assembleia Nacional as
expressões gauche - “esquerda” - é aplicada aos
pró-republicanos e aos democratas radicais, e droite -
“direita” - aos defensores da monarquia, na Convenção Nacional
elas servem para designar os jacobinos e os girondinos.
Jacobinos e girondinos
Os jacobinos tinham esse nome derivado do seu local de encontro, o
Convento de S. Jacques, em Paris. Com o tempo, o clube dos jacobinos
tornou-se uma poderosa facção revolucionária, compostas pelos
democratas mais ardentes e pelos revolucionários mais radicais, que
terminaram de formar dentro do eclético corpo do jacobinismo
militante, outras tendências, como a dos Cordelliers e a dos
Feuillants. Politicamente eles representavam a massa dos
sans-culottes, os setores mais pobres da sociedade francesa,
os trabalhadores jornaleiros e parte considerável da classe média
dos jornalistas, dos advogados e pequenos profissionais que, com o
rugir da revolta, assumiram as posições mais extremadas.
Inicialmente os jacobinos aceitaram a monarquia constitucional, mas
depois, especialmente depois da fuga do rei, foram os mais ardorosos
defensores de uma república revolucionária. Os seus líderes mais
representativos foram Maximilien Robespierre, um parlamentar vindo de
Arras; Georges Danton, o maior tribuno da revolução depois de
Mirabeau; Louis Saint-Just, um jovem orador que encarnou os
extremismos dos jacobinos; e Georges Couthon.
Os girondinos, por sua vez, eram os deputados de um departamento do
interior da França, a Gironda, área próspera da costa atlântica,
tendendo a representar os interesses comerciais e a visão do mundo
da burguesia ilustrada, que oscilava entre a monarquia constitucional
e a república. A posição deles a favor da conciliação com a
monarquia levou à perdição quando a França foi invadida e
encontraram-se os documentos comprometedores da ação do rei. Os
mais representativos deles eram o deputado Brissot e o Ministro
Roland, em cuja casa, o salão da mme. Roland, reunia-se à elite
revolucionária dos girondinos.
Fonte: História por Voltaire Schilling