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quarta-feira, 14 de julho de 2004

A desigualdade intelectual

Radiografia da desigualdade
Estudo classifica participação de países na produção científica mundial. Brasil é 23º

A produção científica de ponta é marcada por uma esmagadora assimetria entre os países do mundo. Um grupo de 31 nações – incluindo o Brasil – é responsável por 98% dos artigos mais citados em revistas especializadas nos últimos anos. Os outros 162 países do globo respondem por apenas 2% desses artigos. A desigualdade é ainda mais impressionante se considerarmos apenas oito países de maior produção científica: esse grupo concentra 84,5% dos artigos mais citados.
A conclusão é de um levantamento publicado em 15 de julho na revista Nature, em que David Ling, da Agência de Ciência e Tecnologia do Reino Unido, compara e analisa a participação de cada país na produção científica mundial. O britânico levou em conta dados relativos ao período entre 1993 e 2002, compilados pelo Thomson ISI, instituto responsável por reunir informações sobre mais de 8000 periódicos publicados em 36 línguas.
A análise de King se concentrou nos 31 países responsáveis por praticamente toda a ciência de ponta no mundo – definida como o grupo de 1% de artigos de cada especialidade mais citados por ano. A lista é encabeçada pelos Estados Unidos, que têm participação em 62,76% dos artigos mais citados. Completam o 'top-10 da ciência' Reino Unido, Alemanha, Japão, França, Canadá, Itália, Suíça, Holanda e Austrália.
Com a participação em apenas 0,5% dos artigos mais citados, o Brasil aparece na 23ª posição, atrás de China (19º), Coreia do Sul (20º), Polônia (21º) e Índia (22º). A lista com os 31 países de maior produção científica conta com um único representante africano: a África do Sul, na 29ª colocação. Na 30ª posição, o Irã é o único país do mundo islâmico.
A participação brasileira é um pouco mais significativa se considerado o total de artigos publicados nos periódicos indexados. Nesse ranking, o país ocupa 17ª colocação, com participação em 1,21% do total de artigos. Mas a posição do país poderia ser bem mais baixa se tivesse sido usado um critério que medisse a transformação do conhecimento científico em tecnologia e inovação – como o número de pacientes, por exemplo. Em levantamento recente da ONU para avaliar as realizações tecnológicas de 72 países, o Brasil ficou na 43ª posição.
Embora receba críticas, o critério adotado por King – número de artigos publicados em periódicos indexados e número de citações – é o mais utilizado em estudos para medir a participação relativa na produção científica mundial. O britânico considera que o amplo volume de artigos considerados no levantamento possa compensar eventuais distorções provocadas pelo critério de avaliação.
Em seu artigo, King especula sobre as razões por trás da disparidade entre países constatada: “O desenvolvimento econômico sustentável nos mercados globais altamente competitivos requer um engajamento direto na geração de conhecimento”, diagnostica. “Mesmo melhoras modestas na saúde pública, saneamento básico, alimentação e transporte requerem capacidade em engenharia, tecnologia, medicina, negócios, economia e ciências sociais que estão além do alcance de mutos países.”

Fonte: Bernardo Esteves
Ciência Hoje Online

14/07/2004