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sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A desgraça da corrupção, por Jarbas Lima

A longa exposição de fatos e circunstâncias sobre o que é direito e o que é imoral identifica a tragédia da corrupção. Não há normas de conduta. Se há um direito irrecusável e respeitado em todos os tempos e sob todos os regimes, é o direito da decência, da honra, da dignidade, da moralidade, do caráter, da ética. Direito de todos é dever de todos. Mais dever que direito. Para os de bem, direito. Positivamente, nesta “baixa-maior” de valores que é o oficialismo brasileiro da atualidade, tudo está certo como em certos espelhos bizarros que refletem as imagens às avessas. Júlio Verne descreve, em um de seus romances, uma terra onde um sábio fez a experiência de determinado gás que transformava todos os cérebros. O sintoma lembra-nos o mal de que padecem nossos poderes governamentais superiores. O destempero é controlado, e por isso não é maior o estrago, porque há consciência de que prevalece em nosso espírito comunitário a certeza de que a maioria de nós faz sua vida à luz e ao calor do sol da honestidade.
A grande fortuna do homem é o próprio nome, patrimônio familiar que se transmite íntegro aos descendentes. O mal que nos atinge tem seus dias contados, é nossa esperança. Não há de estar muito longe este dia de libertação. Jamais a falta de escrúpulos prevaleceu. A história não falhará em nosso tempo. Chegará o momento dos movimentos de rotação implacável! Os primeiros sinais de convicção já estão sendo sentidos pela opinião pública.
O passado se fez presente, nas lições de um gaúcho inesquecível, João Neves da Fontoura: “Os que desgovernavam o nosso país subverteram a tábua dos valores morais, oficializaram a hipocrisia como norma de conduta, destruíram as nações do bem e do mal, canonizaram a duplicidade em virtude pública. Estadistas de pequenas cabotagem, nenhum deles possui o senso da política de alto-mar e larga travessia a que se referia Ortega y Gasset” (“Acuso!”, 1932). O Brasil está mais uma vez regelado pela invernia da corrupção. Músculos endurecidos pela descrença aguardando que a primavera od aqueça com um calor novo, restaurando a esperança e a vida.

Professor de Direito



Fonte: Correio do Povo, edição de 23 de agosto de 2015, página 2.