A longa exposição de fatos e
circunstâncias sobre o que é direito e o que é imoral identifica a
tragédia da corrupção. Não há normas de conduta. Se há um
direito irrecusável e respeitado em todos os tempos e sob todos os
regimes, é o direito da decência, da honra, da dignidade, da
moralidade, do caráter, da ética. Direito de todos é dever de
todos. Mais dever que direito. Para os de bem, direito.
Positivamente, nesta “baixa-maior” de valores que é o
oficialismo brasileiro da atualidade, tudo está certo como em certos
espelhos bizarros que refletem as imagens às avessas. Júlio Verne
descreve, em um de seus romances, uma terra onde um sábio fez a
experiência de determinado gás que transformava todos os cérebros.
O sintoma lembra-nos o mal de que padecem nossos poderes
governamentais superiores. O destempero é controlado, e por isso não
é maior o estrago, porque há consciência de que prevalece em nosso
espírito comunitário a certeza de que a maioria de nós faz sua
vida à luz e ao calor do sol da honestidade.
A grande fortuna do homem é o
próprio nome, patrimônio familiar que se transmite íntegro aos
descendentes. O mal que nos atinge tem seus dias contados, é nossa
esperança. Não há de estar muito longe este dia de libertação.
Jamais a falta de escrúpulos prevaleceu. A história não falhará
em nosso tempo. Chegará o momento dos movimentos de rotação
implacável! Os primeiros sinais de convicção já estão sendo
sentidos pela opinião pública.
O passado se fez presente, nas lições
de um gaúcho inesquecível, João Neves da Fontoura: “Os que
desgovernavam o nosso país subverteram a tábua dos valores morais,
oficializaram a hipocrisia como norma de conduta, destruíram as
nações do bem e do mal, canonizaram a duplicidade em virtude
pública. Estadistas de pequenas cabotagem, nenhum deles possui o
senso da política de alto-mar e larga travessia a que se referia
Ortega y Gasset” (“Acuso!”, 1932). O Brasil está mais uma vez
regelado pela invernia da corrupção. Músculos endurecidos pela
descrença aguardando que a primavera od aqueça com um calor novo,
restaurando a esperança e a vida.
Professor de Direito
Fonte: Correio do Povo, edição de 23
de agosto de 2015, página 2.