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sábado, 6 de junho de 2015

A Revolução Francesa e a Educação

O homem livre que se conduz por si mesmo necessita de mais luzes do que o escravo que abandona sua conduta a um outro.” Condorcet,1792

Um dos temas mais fascinantes colocados pela revolução de 1789 foi a questão da educação popular. De certa forma até hoje ainda se tenta, particularmente nos países do Terceiro Mundo, levar adiante o programa dos revolucionários franceses, especialmente o do filósofo Condorcet.

A Declaração e a educação

É bom lembrar que a ideia de que todos nós, independentemente de sexo, religião, raça, nascimento ou situação social, devemos ter acesso à mesma educação foi um dos mais significativos e duradouros legados da Revolução Francesa de 1789. Chegar a ela, a essa conquista, realmente não tem sido fácil, mas o primeiro passo foi inquestionavelmente dado pela proclamação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 26 de agosto de 1789, e reafirmado por uma outra declaração de dirietos, a de 1793, em seu artigo 22.

O fim dos jesuítas

A discussão dos destinos e raio da abrangência da instrução pública deu-se de forma extremamente polêmica, bem antes dos acontecimentos de 1789,. Remontou há trinta anos antes, aos tempos em que se dera a batalha entre os que defendiam a expansão da autoridade real e os inacianos, fazendo com que os primeiros conseguissem com que a Companhia de Jesus fosse finalmente proibida de possuir escolas na França. Em 1762, um decreto real interditou seus colégios, fazendo com que mais de 600 prédios administrados pelos padres jesuítas passassem ao controle dos notáveis locais.

Rousseau e La Chalotais

Como que prenunciando o vigoroso debate que se seguiria, naquele mesmo ano Jean-Jacques Rousseau fizera publicar seu ensaio pedagógico – Emílio – em que se propunha, além do abrandamento dos castigos físicos nas escolas, um retorno às chamadas virtudes naturais. Mas o que causou mais sensação na época foi um livro de La Chalotais, um pedagogo que há anos vinha lutando para tornar o ensino uma atividade exclusivamente secular. La Chalotais, no entanto, não desejava estendê-lo ao povo inteiro. Ensino estatal sim, mas apenas para as classes abandonadas, chegando até condenar os Frèves Ignorantins, integrantes do baixo clero francês, que ensinavam os rudimentos do alfabeto aos trabalhadores e aos pobres em geral.

Reações contra o ensino público

Segundo ele, ensinar as letras aos operários e camponeses seria desviá-los das tarefas que a natureza e a ordem social haviam determinado para eles! … Foi o que bastou para que ninguém menos do que Voltaire, um elitista assumido, se congratulasse com o pedagogo, pois, para o grande escritor, as luzes não eram para “alfaiates e bodegueiros”, mas sim um apanágio da aristocracia pensante.
Mais radical ainda foi o cura de Lisieux, o padre Réguis que em seus sermões arengava contra a inutilidade de esclarecer os trabalhadores; “saber ler e escrever”, dizia ele do seu púlpito, “não os ensinará a melhor lavrar a terra, não irá lhes melhorar os costumes, nem lhes tirar a malícia […] nem os torna mais dóceis ao seu pastor, nem os torna mais virtuosos e mais cristãos”. Louvem-se, no entanto, alguns professores jansenistas (dissidência católica), como Jean-Baptiste Crévier, que contra-argumentava terem sido os “Evangelhos escritos para serem lidos” e que a fé seria reforçada por aqueles que tinham o domínio dos princípios cristãos expressos nos livros.