A Ditadura Jacobina e o
Termidor
Radicalização e
terror
No dia
21 de setembro de 1792 a Convenção Nacional aboliu a realeza e
instaurou a república a república revolucionária. Luís XVI perdia
o título de majestade e passava a se chamar Luís Capeto, ou cidadão
Capeto. Submetido ao julgamento, foi condenado à guilhotina e
supliciado no dia 21 de janeiro de 1793.
O
tratamento cerimonioso, como o de monsieur ou madame
ficava dispensado. Proclamou-se a república. Doravante, os franceses
teriam direitos iguais, tratando-se todos como citoyen,
cidadãos. Até aos bens nascidos era recomendado que não
ostentassem vestígios de posição social, sendo de bom tom andar
pelas ruas com algum emblema qualquer com as cores da revolução, o
azul, o branco e o vermelho.
O
significado da morte dos reis
Desaparecida
a monarquia, a Convenção Nacional, um corpo imenso com mais de 700
parlamentares, passou a governar por comitês. Os mais importantes
eram os da Salvação Pública e da Segurança Geral, com poderes
políticos e policiais. Dez meses depois da execução do rei, com
grande presença da multidão, em outubro de 1793, guilhotinaram a
odiada rainha Maria Antonieta. As mortes das duas cabeças coroadas
selaram em definitivo qualquer possibilidade do novo regime vir a
conciliar com o passado ou com os demais monarcas europeus,
horrorizados com o que aconteceram com os Bourbons. Sem poder voltar
atrás, os revolucionários só poderiam seguir a diante. Para onde?
Ninguém de boa fé poderia saber.
Ao mesmo
tempo, a Convenção encaminhava um novo projeto para substituir a
Constituição monárquica de 1791, que desaparecera junto com a
cabeça de Luís XVI no cesto colocado logo abaixo da lâmina
ensanguentada da guilhotina. Uma comissão se encarregou de redigir a
nova Carta republicana, aprontada em 24 de junho de 1793.
As
festas cívicas
A
revolução de 1789, em larga parte inspirada pelas concepção de
Jean-Jacques Rousseau, adepto da instituição da religião cívica
para formar o espírito solidário do cidadão com a coletividade
republicana, esmerou-se em proporcionar desfiles patrióticos em
homenagem à federação e à celebração dos mártires da causa
popular. Além disso, criaram-se faixas tricolores com as cores da
revolução, o azul, branco e vermelho, que tornaram-se as
componentes da bandeira francesa, e incontáveis hinos exaltando a
coragem do povo em enfrentar os constantes desafios.
Os
regimentos que se deslocavam para as frentes de batalha eram
despedidos por fanfarras e por chuvas de flores e beijos das jovens
republicanas que assim estimulavam a valentia dos bravos
revolucionários que partiam em defesa da França. Impressionantes
eram ainda os cortejos fúnebres, onde os corpos dos caídos eram
sepultados com enorme acompanhamento, tendo ao fundo o toque surdo
dos tambores em luto. Merecem igual registro o translado dos restos
mortais de Voltaire e depois de Rousseau para o Panteão, prédio
adaptado pela revolução para acolher os que inspiraram os ideais de
1789, e demais mártires da causa. Tudo isso excitava a fantasia
revolucionária e produzia a sinergia necessária, na qual a vontade
geral se fundia num só corpo, o país, a nação francesa.
A
Festa do Ser Supremo
“razão,
filha da Natureza
E mãe
da Verdade,
Com os
raios de claridade pura
Circunda
a Liberdade
E que
sua companheira fiel,
A
igualdade, conserve junto dela
A
felicidade e as virtudes.”
Cidadão Holier – Ode à Razão
O mais sensacional dos desfiles cívicos, porém, foi o da
consagração ao L'Être Suprême, a Festa do Ser Supremo,
mandada organizar por Robespierre para combater as procissões
religiosas durante a campanha da descristianização. No centro da
espetacular parada, toda ela concebida por Jacques-Louis David, o
cenógrafo da revolução, um carro conduzia uma bela atriz
simbolizando a deusa da razão. Cerimônia nitidamente pagã,
viram-na como o gesto de ruptura definitiva da Revolução de 1789,
com o catolicismo e a religião em geral, e o ato inaugural, no
terreno simbólico, do surgimento do moderno Estado secular.
Napoleão, bem mais tarde, reviu a política da França para com a
Igreja Católica, selando uma paz com o papado por meio de um
concordata, assinada em 1807.
Fonte: História, Voltaire Schilling