- Primórdios
Não obstante a falta
de elementos positivos, admite-se que os primeiros civilizados a
realizarem incursões na região dos Campos Gerais foram Aleixo
Garcia, que comandou a primeira bandeira paulista, em 1526 e, mais
tarde, em 1531, as bandeiras de Pero Lobo e Francisco Chaves.
O terceiro
expedicionário a penetrar a região foi Alvaro Nuñes Cabeza de
Vaca, em 1541, na viagem que realizou da Espanha ao Paraguai, na
qualidade de “adelantado” (governador) daquela província
espanhola na América do Sul.
Trazendo a missão de
tomar posse para a coroa de Castels das terras situadas ao ocidente
da linha limítrofe com as de Portugal, na América, Cabeza de Vaca
apontou em Cananeia, que considerava pôrto espanhol e em São
Francisco, desembarcando a 29 de março de 1541 na Ilha de Santa
Catarina. O 'adelantado' castelhano tomou posse, em nome do rei de
sua pátria, das três localidades visitadas.
Acompanhado de um
contingente de 250 homens de armas, 36 cavalos e alguns índios
“vaqueanos”, Cabeza de Vaca subiu o Itapocu, atravessou à Serra
do Mar, à margem oriental do Campo do Tenente e o rio Iguaçu, nas
proximidades da atual cidade de Araucária.
Trazendo a missão de
tomar posse para a coroa de Castela das terras situadas ao ocidente
da linha limítrofe com as de Portugal, na América, Cabeza de Vaca
aportou em Cananeia, que considerava porto espanhol e em são
Francisco, desembarcando a 29 de março de 1541 ria ilha de Santa
Catarina. O 'adelantado' castelhano tomou posse, em nome do rei de
sua pátria, das três localidades visitadas. Acompanhado de um
contingente de 250 homens de armas, 36 cavalos e alguns índios
“vaqueanos”, Cabeza de Vaca subiu o rio Itapocu, atravessou à
Serra do Mar, à margem oriental do Campo do Tenente e o ria Iguaçu,
nas proximidades da atual cidade Araucária.
Antonio Raposo
Tavares, no segundo ataque que levou a efeito aos 'pueblos' espanhóis
de Vila Rica do Espirito Santo e Ciudad Real del Guaira, transpôs o
rio Paraná, atingindo o 'pueblo' de Santiago Xéres. Em 1636, o
mesmo aguerrido bandeirante, chefiando uma bandeira de 120 paulistas
e mais 1.000 índios tupis, atingiu a localidade de Tapes, em São
Pedro do Rio Grande do Sul. Diz Ellis Júnior que “tomou a bandeira
o caminho do Guaíra, passando pelo Açungui e sertão dos Carijós.
Em que pese a falta de
referência, é livre de dúvida que Raposo Tavares passou pelos
Campos Gerais, na região onde se encontra a legendária cidade da
Lapa. No ano de 1720 Zacarias Dias Côrtes organizou uma expedição
levada aos Campos de Palmas, com resultados satisfatórios e
promissores, tendo feito importantes descobrimentos, com que se
entusiasmou o governo da Capitania de São Paulo, a determinar uma
verificação no caminho para o Rio Grande do Sul. Aliás, a abertura
de uma via de comunicação dessa natureza já havia sido sugerida
pelo sertanista Bartolomeu Paes. Preciso lhes corrigir as
“diretrizes”. Nova bandeira foi levantada, para proceder à
retificaçao, e Manoel Rodrigues da Mota manteve-se no sertão à sua
custa. Deve-se, portanto, a abertura da Estrada do Mota, que tantos
serviços prestou ao povoamento dos Campos Gerais de Curitiba e do
Rio Grande do Sul, ao bravo bandeirante curitibano Manoel Rodrigues
da Mota. Esta denominação foi facilmente alterada, mais tarde, para
“Estrada da Mata”; isso porque, do Rio Negro para o sul, o
caminho atravessava uma região de intensa floresta virgem. A
abertura do caminho foi iniciada em 1730 e concluídas em 1731. O
trecho que aqui recebeu a denominação de Estrada da Mata era apenas
uma parte do histórico Caminho de Sorocaba-Viamão.
Ao longo dessa estrada
foram surgindo os “pouso” ou “invernadas” dos tropeiros e
comerciantes de gado com a famosa feira de Sorocaba. Um desses
“pousos” recebeu a denominação de Capão Alto. Co ma abertura
da Estrada da Mata, em 1731, o governo da Capitania de São Paulo
resolveu criar um Registro para cobrança do pedágio do gado que
transitava por aquele caminho, o qual foi instalado à margem do rio
Iguaçu que, por esse motivo, ficou sendo conhecido por rio do
Registro.
II Vila Nova do
Príncipe
O Capão Alto estava
localizado no ponto em que a lenda, um século depois, veio consagrar
a um famoso asceta, quando então passou a chamar-se Gruta do Monge.
Era ali o final da etapa diária para aqueles, que , pela manhã,
deixavam as margens do rio Negro e que, ao anoitecer, buscavam local
próprio para o repouso mereceido. Em torno do Registro, que outra
coisa não era senão um Posto fiscal, foram paulatinamente se
estabelecendo alguns moradores. João Pereira Braga e sua mulher, D.
Josefa Gonçalves da Silva, forma os primeiros a se estabelecerem na
localidade de Capão Alto.
Os primitivos
moradores dedicaram-se às atividades agrícolas, o que contribuiu
para o desenvolvimento da localidade. Em consequência, o antigo
pouso de Capão Alto, em meados do século XVIII, já contava com
regular número de habitantes. Já existia uma capelinha tosca sob a
invocação de Nossa Senhora do Capão Alto, erigida pelos Padres
Carmelitas do Tamanduá, e que teve por primeiro vigário o padre
João da Silva Reis, filho do primeiro casal que chegou à
localidade. A povoação foi elevada à categoria de freguesia no dia
13 de junho de 1797, tendo como padroeiro Santo Antônio. Nessa época
chegou ali o capitão Francisco Teixeira Coelho, de nacionalidade
portuguesa, que se interessou pela localidade, prestando reais
serviços ao seu progresso.
Por ocasião das
expedições para descoberta dos sertões do Tibagi, levadas a efeito
por determinação do tenente-coronel Afonso Botelho de Sampaio e
Souza, estacionou na povoação uma companhia de auxiliares, que
recebeu a inspeção daquele militar a 10 de fevereiro de 1771, tendo
o mesmo providenciado “o mais que era preciso para aumento de nova
Freguesia”. O progresso da freguesia era cada vez mais empolgante,
despertando, por isso, nos povoadores, a esperança de conseguirem a
sua elevação a vila.
Contava já com
“trezentos e tantos fogos”, apresentando aspecto agradável à
vista, com suas ruas bem alinhadas quando, em 1806, o seu comandante
mandou edificar o prédio que deveria servir de Câmara e Cadeia.
Nessa altura, os habitantes do lugar, 'tendo à frente o capitão
Francisco Teixeira Coelho, comandante das funções da freguesia,
passaram procuração ao coronel José de Carvalho e capitão José
de Andrade e Vasconcelos, para que qualquer deles solicitasse ao
governador-geral da Capitania de São Paulo a elevação da freguesia
à categoria de vila, com Justiça Ordinária e Juiz de Órfãos”.
Desempenhando-se da
missão que lhe foi confiada, o coronel José Vaz de Carvalho, como
procurador dos habitantes da freguesia do Capitão Alto, requereu a
graça da ereção da vila no dia 26 de fevereiro de 1806. Em sua
petição alegava, entre outras coisas, a circunstâncias de achar-se
a referida freguesia muito distante da vila de Curitiba, o que
dificultava sobremaneira os negócios forenses.
Lembrava ainda, o
requerente, os limites para o distrito da nova vila, que seriam o rio
do Registro (Iguaçu), com os distritos de Curitiba e Lages, o rio da
Estiva, hoje catarinense. A petição teve despacho favorável,
chegando a notícia da criação da vila à florescente povoação no
dia 6 de junho de 1806.
Em regozijo pelo
auspicioso acontecimento, realizaram-se nesse dia solenes festas
populares procedendo-se, na casa da Câmara Municipal, a eleição
dos juízes de paz e vereadores, que deveriam exercer o mandato na
primeira legislatura. Foram eleitos Gabriel da Silva Sampaio, juiz
Presidente; José França, José Vieira e Manoel Maciel, vereadores;
e, João Ferrasores, procurador do Conselho. A povoação tomou então
a denominação de Vila Nova do Príncipe.
Em carta datada de 20
de junho de 1806, o capitão Francisco Teixeira Coelho comunicava ao
Governador de São Paulo a satisfação de que se achava possuído o
povo da vila, pelo atendimento as suas aspirações. Em 1829 chegaram
ao Paraná os primeiros imigrantes alemães, em número de 60
pessoas, que se estabeleceram na antiga Estrada da Mata, dando início
à fundação do Senhor Bom Jesus do Rio Negro, núcleo colonial que
contribuiu de forma notável para o progresso do Paraná. Os colonos
tedescos se compunham de 12 famílias e chegaram à Capela da Estrada
da Mata no dia 6 de fevereiro de 1829.
Durante o seu governo,
Catarina II, da Rússia, que era de origem germânica, promoveu o
desenvolvimento de uma colonização alemã de grandes proporções,
às margens poéticas do Volga. A grande Czarina deu todo o paoio a
essa colonização, porém, em 1877, o novo Czar revogou as
disposições de Catarina II, passando a oprimir os alemães com
impostos e serviço militar obrigatório.
Foi assim que naquele
ano, da população alemã do Volga, que atingia vinte mil
habitantes, partiu a primeiro grupo de imigrantes, com destino às
terras livres do Brasil. Em aqui chegando, esses colonos escolheram
para seu estabelecimento um lugar no planalto paranaense, nas
proximidades da então Vila Nova do Príncipe.
Os núcleos coloniais
fundados pelos alemães do Volga, em território do atual município
da Lapa, foram denominados Mariental, Johannisdorf, Wirmond e outros.
Esse núcleos progrediram rapidamente e, dentro em breve, surgiram
diversos outros localizados no planalto paranaense. Documentos
históricos merecedores de fé informam que já em 1829, à época da
fundação do núcleo alemão da Estrada da Mata, alguns imigrantes
se estabeleceram na Vila Nova do Príncipe, dedicando-se aos
trabalhos da construção da estrada. Aos poucos esse número foi
aumentando. O patriarca da família alemã da Lapa foi Eugênio
Westphalen, farmacêutico, natural de Berlim, que chegou ali em 1830.
Homem culto e trabalhador, chefe de família numerosa, Eugênio
Wetphalen deu notável contribuição ao progresso e desenvolvimento
da vila.
- Guerra dos Farrapos
Durante a Guerra dos
Farrapos, a Lapa constituiu-se em ponto de concentração das forças
legais, principalmente, quando José Garibaldi invadiu Santa
Catarina, em 1843.
Com a criação da
Província do Paraná, em 1853, e sua consequente organização
judiciária, a Vila do Príncipe passou a ser o 5º termo judiciário
e policial da comarca de Capital, sendo-lhe jurisdicionada a
freguesia do Rio Negro, que já contava com 421 fogos, uma população
de 1884 habitantes e dois eleitores para o colégio da Vila do
Príncipe.
Por decreto nº 1.418,
de 16 de agosto de 1854, foi criado o juízo Municipal e de órfãos
da vila, sendo nomeado primeiro o juiz o Dr. Manoel de Barros
Wanderley Lins que, ao que tudo indica, não assumiu o cargo.
A 30 de maio de 1870,
Vila Nova do Príncipe foi elevada à cabeça de comarca, deixando,
assim, de ser termo judiciário de Curitiba. A instalação da nova
comarca ocorreu a 11 de junho de 1871, pelo seu primeiro juiz de
Direito, Dr. Antônio Cândido Ferreira de Abreu.
Em 1872, Vila Nova do
Príncipe recebeu foros da cidade, passando a denominar-se cidade da
Lapa, nome por que era conhecida a povoação desde os princípios de
sua história, mas que não era adotado oficialmente.
Após a proclamação
da República, por Decreto número 28, do Governo do Estado do
Paraná, foi instalada a primeira Intendência Municipal e a Câmara,
que ficou constituída pelos senhores Eduardo Alberto de Andrade
Wirmond, Presidente; Francisco Manoel da Silva Braga,
Vice-Presidente; e Olympio Westphalen, Tobias Cardoso Moreira, João
Pacheco dos Santos Lima. Dr. Cândido Ferreira e Américo Pereira de
Rezende, vogais.
- Revolução Federalista
A cidade da Lapa tem
uma página épica de sua história, nas lutas que ali se
desenrolaram por ocasião da Revolução Federalista, no ano de 1894.
No início daquele
ano, a parte sul do município foi invadida pelas tropas
revolucionárias rio-grandenses. Então, de um momento para outro, a
pacífica e calma cidade campesina foi transformada em autêntica
praça de guerra, onde, por vários dias seguidos, se verificaram
sangrentos acontecimentos. Os exércitos revolucionários sob o
comando de Gumercindo Saraiva, vitoriosos nas campinas do Rio Grande
do Sul, depois de haverem conquistado grande parte do território
catarinense, tencionavam apoderar-se das unidades legalistas,
apossando-se de Curitiba. E já no dia 27 de dezembro de 1893, vários
piquetes do inimigo apareciam nas proximidades de Lapa, que contava
com uma guarnição de pouco mais de 700 homens.
Visando obstar a
marcha vitoriosa do inimigo, a general Argolo organizou uma Divisão
do Exército de 1800 homens, para defender o Paraná, lutando contra
as hostes de Gumercindo e Aparício Saraiva. Essa Divisão ficou
constituída de quatro brigadas mistas, ficando a primeira, segunda e
quarta na cidade de Lapa, e a terceira em Tijucas, na encruzilhada,
sob o comando do coronel Adriano Pimentel. Em virtude de ordens do
Comando Geral, alguns dias depois, o grosso das tropas governistas
era desfalcado. Diversos efetivos partiram para Tijucas, Ambrósios e
Paranaguá, a fim de reforçar as guarnições dessas cidades. Outros
destacamentos guerrilhavam o inimigo no Campo do Tenente, Várzea e
Rio Negro.
Finalmente, a 15 de
janeiro de 1894, apresentaram-se frente à cidade de Lapa, as hostes
federalistas, compostas por um efetivo de cerca de 1200 homens,
surgindo pela estrada do Rio Negro.
As forças legais, sob
o comando do bravo general Antonio Ernesto Gomes Carneiro, logo que
os revolucionários se aproximaram numa distância de quatro
quilômetros, romperam fogo de artilharia. Imediatamente os exércitos
inimigos estenderam as linhas de atiradores, flanqueada por numerosa
cavalaria e responderam à saudação com tiros de quatro canhões
Krup.
Poucas horas após
cessava o primeiro combate e, de lado a lado apresentava-se os
contentadores para a batalha que seria travada no dia seguinte. Ainda
durante esse dia, os atacantes canhonearam por diversas vezes os
legalistas, que não puderam responder ao fogo inimigo, dando pouca
distância em que se achavam da Praça e por medida de economia. No
dia 17 de janeiro, pela manhã, partiu para Curitiba o capitão Lauro
Müller, a fim de se entender com o comandante do Distrito sobre o
concerto de um novo plano de defesa.
Logo após a partida
do trem, que se movimentou com grande velocidade, os revolucionários
romperam cerrado fogo contra a praça, realizando, imediatamente, um
ataque pela retaguarda, pois durante a noite haviam contornado a
cidade, ocupando posições no alto da Gruta do Monge. A peleja foi
renhida durante todo o dia, sendo mantidas pelos defensores todas as
posições que ocupavam. Do dia 18 a 21 continuou o ataque de lado a
lado, tendo os legalistas, construído trincheiras em diversas ruas
da cidade, que se achava completamente sitiada.
A 22 continuou o
combate, tendo os revolucionários descido para as matas entre a
Gruta do Monge e a cidade, ocupando posições também atrás do
Cemitério. As 7 horas da manhã desse dia, três cavaleiros desceram
do Monge, exibindo uma bandeira branca, para parlamentarem. Intimados
a pararem à distância, não atenderam, recebendo, por isso, uma
saraivada de balas que os obrigou a regressar.
Em represália,
romperam os atacantes cerrada fuzilaria contra a Praça. Mas, como a
demora do sítio roubava aos revolucionários o tempo de que tanto
precisavam para outras conquistas, cessaram eles o fogo por alguns
instantes, enquanto José Loureiro e Artur Balster, negociantes em
Curitiba, procuravam servir de intermediários, evitando o
derramamento de sangue. O general Gomes Carneiro, comandante da
Praça, porém, não os recebeu, fazendo-os retornar ao local de
origem.
Novamente recomeçou a
renhida peleja, ocupando os sitiantes à Estação Ferroviária, o
Cemitério Municipal e o Engenho Lacerda, enquanto os sitiados se
recolhiam às trincheiras. Mas não puderam ainda os revolucionários
contar com a vitória. Os sitiados, encorajados pelo admirável valor
do seu comandante, iniciaram a reconquista dos pontos tomados pelo
inimigo. Clementino Paraná, à frente das forças do Regimento de
Segurança, assaltou e conquistou a Estação; Inacio Costa expulsou
os sitiantes das matas da direita. O número de baixas foi elevado de
parte a parte.
De 23 a 26 foi diário
e de sol a sol o bombardeio de Lapa pelos quatro canhões Krup dos
atacantes. A defesa foi reduzida em seu raio e limitada às zonas de
trincheiras. O inimigo ocupou a Rua das Tropas e o Alto da Lapa.
De 28 de janeiro a 1º
de fevereiro, a cidade, exposta aos tiros dos sitiantes, foi
inclementemente batida. Em qualquer das ruas o trânsito se tornou
perigoso. “Não raro viam-se caírem feridos ou mortos aqueles que,
por necessidade do serviço ou por atos comuns de imprudência,
transitavam por elas”.
De 2 a 6 de fevereiro,
os atacantes consolidaram suas posições e mantiveram seguido
tiroteio. A 7, já o inimigo tiroteava dos quintais da Rua da Boa
Vista, e as forças, muito numerosas, atacavam todos os flancos da
cidade.
“Trava-se então
renhido e mortífero combate, no qual os contendores, se não
chegaram ao uso da arma branca, fuzilavam-se, entretanto, apenas
separados por cercas de tábuas que dividiam os quintais ou fechavam
os lances de rua onde não existiam casas”.
Serra Martins dirigia
os setores de um lado da cidade e Joaquim Lacerda, os de outro lado:
Gomes Carneiro, a cavalo, estava em toda a parte, dando o exemplo e
animando a resistência. Foi assim que apareceu na trincheira erguida
no cruzamento da Rua das Tropas com a da Boa Vista entre as casas de
Francisco de Paula e do coronel João Pacheco, onde a fuzilaria
estava dizimando a guarnição. Apenas chegara, uma bala de fuzil
inimigo o prostrou gravemente ferido. Foi recolhido à casa próxima,
do professor Pedro Fortunato de Souza Magalhães, onde ficou em
tratamento, aos cuidados do Dr. João Cândido Ferreira, médico da
segunda Brigada.
O duelo entre a
trincheira e os atacantes recrudesceu. Os patriotas lapeanos, do
Batalhão Floriano Peixoto, Henrique José dos Santos e alferes
Fidêncio Guimarães, comandante e subcomandante desse setor, quase
que ao mesmo tempo caíram mortos. O alferes aluno Gustavo Leblon
Régis, que manobrava, com eficiência, um canhão Krup, era posto
fora de combate, gravemente ferido.
Mortos ou feridos,
caíram todos os defensores da heróica e fatídica trincheira.
Calou-se, finalmente, o canhão. Emudeceram as carabinas. Pela
trincheira, defendida agora pelos mortos, ia passar triufante o
inimigo. Mas, num supremo instante apareceram para combater ao lado
deles, o coronel Lacerda, o major Menandro Barreto e o capitão
Sisson, com reforços de patriotas lapeanos e do 17º de Infantaria
de Linha.
E o canhão rimbombou
de novo. E as carabinas estalaram outra vez, no ritmo agônico dos
tiroteios, num suremo esforço de defesa da praça e da legalidade.
As casas da Rua Boa Vista começaram a ser invadidas pelo inimigo.
Numa luta fratricida e feroz, caíam de parte a parte, dezenas de
combatentes.
No fragor de um desses
assaltos, tombou, atingindo por uma bala, o Dr. José Amintas de
Barros, Comandante do Batalhão Floriano Peixoto e que havia sido
promovido ao posto de tenente-coronel na véspera desse dia aziago.
Noutro setor é
mortalmente ferido pelo coronel Cândido Dulcídio Pereira, ídolo
dos seus soldados e comandante do Regimento de Segurança. A luta foi
por todos os lados árdua e mortífera. Mas a vitória era das armas
inimigas. Daí resultaram, desânimos e deserções. A causa da
defesa perdia entusiasmo e esperanças. Reinava o fatalismo quase em
desalento.
No dia 8 de fevereiro
os soldados do Regimento de Segurança foram informados da morte do
seu bravo comandante, coronel Dulcídio Pereira. Foi preciso
antecipar o seu enterramento, para que os soldados voltassem aos seus
postos.
Findava-se, também,
quase à mesma hora, o general Gomes Carneiro, comandante-geral da
Praça.
A situação era
extremamente grave. Havia, contudo munição e víveres para mais
alguns dias. Diante disso, reunidos todos os comandantes de unidades,
o coronel Lacerda propôs que assumissem todos o compromisso da
honra, de defender a cidade, até que se esgotassem os últimos
recursos.”De pé, braços estendidos e mão sobrepostas, - foi essa
promessa solenemente feita”.
No dia 10, a notícia
da morte do general Gomes Carneiro era conhecida de todos. A
desolação foi geral. O cadáver do grande herói, envolto na
bandeira do 17º Batalhão de Infantaria, foi sepultado na sacristia
da Matriz de Lapa. Na manhã do dia 11, um emissário dos sitiantes
trouxe um ofício do general Laurentino Pinto Filho, comandante do 2º
Corpo do Exército Revolucionário, dirigido ao coronel Joaquim
Lacerda, propondo a capitulação. Já então a impressão geral era
a de que, a resistência se tornara impossível e a derrota rondava
as fortificações da cidade. O ofício foi assinado. Terminou assim
a histórica resistência que à pequenina e pacífica cidade de Lapa
trouxe o galardão de heroica e legendária.
- Século XX
Em 1895, foi fundada a
colônia Antônio Olinto, na fertilíssima região compreendida entre
as águas dos rios Negro e Iguaçu, próximo a sua confluência.
Com a criação do
município de Rio Negro, foram alterados os limites do município,
que perdeu a zona compreendida entre os rios Várzea e Negro,
passando a servir de divisa uma linha que partindo do rio Palmito,
pelas fraldas orientais da serra do Quicé, vai alcançar as
cabeceiras do ribeirão Vermelho, por onde segue até a sua
confluência com o rio Várzea.
Depois do acordo que
dirimiu as questões de limites entre os Estados do Paraná e Santa
Catarina, ficando o município de Rio Negro com uma pequena área,
foi ainda desmembrado do município de Lapa extenso território de
1.000 quilômetros quadrados que foi incorporado ao município de Rio
Negro.
Em 1955, o distrito de
Contenda, uma de suas mais antigas colônias formada quase que
exclusivamente por imigrantes polacos, foi elevado à categoria de
município, motivo por que foi Lapa ainda uma vez desmembrada.
Fonte: Lapa – Cidade
Histórica