Um dos
mais violentos conflitos internos do Brasil eclodiu dez anos antes da
Revolta de Vila Rica e 79 anos antes da Inconfidência Mineira. Foi a
Guerra dos Mascates, ocorrida em Pernambuco, entre Olinda e Recife.
Encarapitada no topo duma colina em frente ao mar, Olinda era uma
cidade de origem portuguesa. Durante a ocupação holandesa, porém,
os invasores ergueram, nos baixios da colina, a cidade de Recife –
construída num local que lembrava os alagadiços da Holanda. Depois
da Insurreição Pernambucana, em 1645, Recife se manteve mais ativa
do que Olinda. Porto movimentado, local de grandes transações
comerciais, Recife, no entanto, era tido como mero bairro comercial
de Olinda, onde a aristocracia rural- constituída basicamente por
senhores de engenho endividados – continuava vivendo em suas
mansões. Os comerciantes e burgueses recifenses pejorativamente
chamado de “mascates” pelo olindenses, queriam se livrar da
tutela de Olinda e ver seu “bairro” elevado à condição de
vila. Os falidos olindenses, em meio à crescente crise das
exportações de açúcar, lutaram pela manutenção de seus
privilégios, cargos civis e eclesiásticos e não abriam mão de sua
supremacia sobre Recife. No dia 19 de novembro de 1709, porém, o
governador Sebastião de Castro e Caldas decidiu apoiar as
reivindicações dos “mascates” e transformou Recife em vila. Na
noite de 14 de fevereiro de 1710, ergueu o pelourinho na praça
central.
Menos de
um ano depois, em 10 de outubro, quando caminhava pela rua das Águas
Verdes, Castro e Caldas foi baleado por um grupo de encapuzados que
nunca chegou a ser identificado. Mesmo sem provas, o governador
ordenou a prisão de vários senhores de engenho e do próprio
ouvidor de Olinda. Indignada, a elite olindense se insurgiu, atacou
Recife, destruiu o pelourinho e rasgou o foral da criação da vila.
A ação foi feita por homens vestidos de penas e plumas, para
insinuar que se tratava de um “ataque de índios”. O governador
fugiu, mas os recifenses, reagiram e os combates se prolongaram por
três meses. Na tentativa de apaziguar o conflito, o rei de Portugal,
D. João V, nomeou um novo governador para Pernambuco, Félix José
Machado, em outubro de 1711.
A
“nobreza de Pernambuco” (Como se autointitulavam os olindenses)
desarmou-se, fatigada; os “mascates” depuseram as armas,
confiantes. Feitas as pazes, porém, Machado relevou-se partidário
da causa de Recife e, alegando nova conspiração dos olindenses,
prendeu 150 supostos implicados, inclusive Bernardo Vieira de Mello,
ex-governador do Rio Grande do Norte e líder do movimento, favorável
à independência de Pernambuco e à proclamação da república.
Muitos acusados foram executados em Lisboa. Em Pernambuco, vários
nobres fugiram para o sertão. Em 7 de abril de 1714, D. João V
assinou ato régio anistiando os envolvidos. Recife e Olinda passaram
a dividir a honra de sediar a casa do governador.
Fonte:
História do Brasil (1996), página 83.