Mostrando postagens com marcador A Essência do Babovismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador A Essência do Babovismo. Mostrar todas as postagens

sábado, 20 de junho de 2015

A Essência do Babovismo

Mesmo tendo fracassado, Babeuf e o seu diretório secreto traçou certas coordenadas para a ação revolucionária que irão se imitadas e seguidas pelos mais diversos agrupamentos de ação que se formaram ao longo da história do movimento socialista e radical europeu e internacional, sendo seguidos por Louis-Aguste Banqui, Vladmir Lenin ou Ernesto “Che” Guevara.
A primeira dessas características é a ideia do substituismo, isto é, o direito que um grupo de homens de ação passa a outorgar-se em agir em substituição às massas apáticas. Considerando-se os portadores de uma vontade popular emudecida e paralisada, atuam como os lugar tenentes delas. Ao tomar o lugar das massas, fazem o que, na sua imaginação, o povo gostaria de fazer. Trata-se da mesma lógica seguida por Lenin na sua concepção da “vanguarda do proletariado”, e a de Che Guevara com a teoria do “foquismo revolucionário”. A segunda dessas características herdadas do babovismo, é um certo descaso para com as chamadas condições objetivas, um desprezo para com a realidade circundante, acreditando que a vontade política em agir, em tomar de assalto o poder, é talvez mais determinante do que o desejo das massas em se insurgir. Para eles o povo sempre é suscetível a ideia de uma revolução, mas encontra-se paralisado por uma série de razões. A terceira, é uma arraigada desconfiança para com os procedimentos democráticos. Como as eleições são incapazes de implantar a tão esperada e anunciada República dos Iguais, os babovistas, e todos aqueles que neles se inspiraram, tendem a menosprezá-las como um instrumento legal e válido para se atingir a comunidade igualitária, ou sequer capaz de distribuir as riquezas.
Chega-se então à derradeira característica do babovismo: o recurso à violência para abolir o império da propriedade e implantar o reino final da igualdade. Um núcleo coeso de homens decididos, imbuídos da justiça, causa que abraçam, tomados por uma vontade inquebrantável, poderá ascender ao poder por meio de um golpe revolucionário e mudar o destino da sociedade, quiçá da humanidade inteira.

Um Paleocomunista

Uma série de críticos marxistas, especialmente no nosso século, viram Babeuf porém com outros olhos. Ao analisarem com mais cuidado o projeto econômico dele (a instituição de uma república igualitária baseada na completa distribuição das terras somadas a uma produção basicamente artesanal), viram-no como um defensor de um programa socialmente arcaico. Alguém que não levara em consideração os avanços tecnológicos e industrias, já bastante visíveis no século XVIII (afinal era o século da máquina a vapor, a era de James Watt), com a formação dos parques fabris e da classe operária. O projeto econômico e social de Babeuf, se aplicado, significaria um retorno a uma sociedade medieval, com suas comunas rurais e sua modesta produção artesanal doméstica, a um formigueiro coletivista enfim, negando assim toda e qualquer filiação com as mais elevadas expectativas de progresso ético e técnico do Iluminismo. Classificaram ele entre os que Marx denominou de “socialistas feudais”, um paleocomunista que não percebera ainda o vigor das novas forças produtivas desencadeadas pela revolução industrial do seu tempo.


Fonte: História por Voltaire Schilling