Afirmação é do tenente-coronel Luiz
Porto, diretor de estratégia da SSP
Ao analisar os indicadores da
criminalidade do primeiro semestre deste ano no Rio Grande do Sul, o
tenente-coronel Luiz Dulinski Porto, diretor do Departamento de
Gestão de Estratégia Operacional da Secretaria de Segurança
Pública do Estado (DGEO/SSP), aponta as drogas e a impunidade como
“os grandes vetores da criminalidade”. Segundo o oficial, o
trafico de entorpecentes é acompanhado de “outros crimes” com os
roubos e assassinatos. O narcotráfico, avalia o tenente-coronel,
atrai os jovens da periferia, que vislumbram neste crime uma maneira
de ganhar dinheiro rapidamente. “É um modelo que se reproduz
exponencialmente desde a década de 1980”, explicou. Porto afirma
que a expectativa de vida desses jovens, via de regra, não vai além
de 25 anos.
Em relação à impunidade, o
problema está sobretudo na lei, considerada pelo policial militar.
“Para cada dez pessoas presas, nove retornam às ruas”, lamenta.
Segundo Porto, a situação poderia ser amenizada se pelo menos
metade dos presos ficasse no sistema carcerário mais tempo. Segundo
ele, apenas a Brigada Militar prendeu 65 mil pessoas nos primeiros
seis meses deste ano. “São fatores alheios à vontade dos
policiais”, observa Mesmo assim, o oficial destaca o esforço dos
policiais militares e civis no combate à criminalidade, mesmo com as
dificuldades enfrentadas.
Conforme os indicadores de
criminalidade da SSP, no primeiro semestre deste ano, os homicídios
dolosos (crime cometido com a intenção de matar) tiveram uma queda
de 2,2% em relação aos seis primeiros meses de 2014. No caso de
latrocínio (roubo seguido de morte), a redução foi de 22,9%,
levando-se em conta o mesmo período. O oficial estima que cerca de
60% dos homicídios estão relacionados ao tráfico de drogas. “O
número pode ser até maior”, diz, assinalando que o assassinato
sempre é um crime complexo, mas causa impacto na sociedade.
Os roubos em geral, incluindo ataques
a bancos cresceram 21,7% (comparando primeiro semestre de 2014 com
2015). No comparativo do mesmo período em relação ao roubo de
veículos, houve um aumento de 17%. Este último, comenta Porto,
poderá ser interrompido com o projeto de lei que regulamentará os
desmanches e a venda de peças.
Indicadores
de criminalidade no Rio Grande do Sul
Primeiro
semestre
|
2013
|
2014
|
2015
|
Roubos
de veículos
|
6.164
|
6.756
|
7.907
|
Furtos
de Veículos
|
8.507
|
9.397
|
9.686
|
Roubos
|
26.114
|
30.005
|
36.540
|
Furtos
|
83.250
|
89.130
|
81.191
|
Homicídios
Dolosos
|
966
|
1.214
|
1.187
|
Latrocínios
|
66
|
74
|
57
|
Fonte: SSP/RS – Números referentes
ao primeiro semestre de cada ano
Tráfico
tem mais ocorrências
No
RS, o número de ocorrências envolvendo tráfico de drogas subiu
cerca de 4%, passando de 4.759 no primeiro semestre de 2014 para
4.951, levando em conta o mesmo período deste ano. Os casos de posse
de entorpecentes tiveram queda de 5,1%. Foram 6.694, em 2014, e 6.352
no primeiro semestre deste ano. Os delitos relacionados a armas e
munição caíram de 3.910 para 3.790.
“A cada dez presos, nove retornam
às ruas em seguida”.
Luiz Dulinski Porto
Tenente-coronel
Casos de estelionato diminuíram
O
levantamento dos indicadores de criminalidade aponta que os casos de
estelionato ficaram em 7.516 ocorrências nos primeiros seis meses
deste ano, enquanto 8.734 casos deste tipo de crime foram registrados
no mesmo período de 2014, em todo o RS. A extorsão mediante
sequestro teve cinco ocorrências no primeiro semestre deste ano. Em
2014, no mesmo período, foram 19 casos.
Números
de PMs não é o ideal
Entidades da BM alertam para o grande
número de solicitações de ida para a reserva que está ocorrendo.
“Mais de 1,4 mil PMs pediram para ir para a reserva no primeiro
semestre deste ano”, calcula Leonel Lucas, presidente da Abamf.
Conforme a Brigada Militar, o número de PMs estava em torno de 20,5
mil no primeiro semestre deste ano. O ideal, de acordo com as
entidades de classe, seria 35 mil brigadianos. Para Aparício
Santellano, presidente da ASSTBM, existe necessidade de investimento
na segurança pública.
Lucas prevê um quadro preocupante.
Segundo ele, os índices de criminalidade tendem a subir, sobretudo
devido à falta de recomposição do efetivo. Santellano constata que
os criminosos têm cada vez mais se confrontado com os PMs nas ruas
devido à atual conjuntura.
Necessidade
de investimento na área
O
presidente da Ugeirm Sindicato, Isaac Ortiz, também aponta o
recrudescimento da criminalidade como consequência do
contingenciamento do governo, que cortou as horas extras, entre
outros investimentos na área. Segundo o dirigente, as operações da
Polícia Civil ficaram comprometidas e os agentes não querem mais
ficar de sobreaviso sem pagamento.
Para o presidente da Ugeirm
Sindicato, os criminosos estão ficando mais ousados. “Quando o
policial não está na rua, quem ocupa o espaço é o criminoso”,
resume Ortiz. O policial entende que poderá ocorrer um aumento maior
da criminalidade se investimentos não forem retomados na área de
segurança.
Fonte: Correio do Povo, página 20 de
20 de setembro de 2015.