É o
início do fim do embargo econômico. O presidente Barack Obama e o
ditador Raúl Castro anunciaram ontem o restabelecimento das relações
de Estados Unidos e Cuba. O embargo comercial ao país caribenho, no
entanto, permanecerá, mas poderá acabar logo. As medidas incluem
ações como instalação de uma embaixada americana em Havana e a
revisão da designação dada pelos Estados Unidos a Cuba de “Estado
que patrocina o terrorismo”. Obama também disse que espera um
debate sério no Congresso americano para que levante o embargo que o
país mantém a Cuba, que proíbe a maioria das trocas comerciais. Os
dois países não se relacionavam desde 1962 – mantendo apenas
seções de interesse de nível menor desde 1977.
Obama
disse que a normatização das relações com Cuba encerram uma
“abordagem antiquada” da política externa americana. O
presidente americano afirmou acreditar que os Estados Unidos poderão
“fazer mais para ajudar o povo cubano” ao negociarem com o
governo da ilha. Ele usou uma frase em espanhol durante o discurso:
“Todos somos americanos”.
Em
Havana, Raúl Castro confirmou o retorno das relações diplomáticas
e disse que quer restabelecer os vínculos, especialmente no que se
refere a viagens, correio postal direto e telecomunicações. “Exorto
o governo dos Estados Unidos a remover os obstáculos que impedem os
vínculos entre nossos povos”, disse Castro. Obama e Castro
mencionaram o papel do papa Francisco e do Canadá em facilitar as
negociações entre os dois países.
Dilma
elogia anúncios de Castro e Obama
Paraná –
A presidente Dilma Rousseff elogiou ontem o anúncio da retomada das
relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba após participar
da Cúpula do Mercosul, em Paraná (Argentina). “Acredito que isso
é um marco nas relações da nossa região, mas sobretudo do mundo.
A possibilidade de relacionamento, o fim do bloqueio, o fato de Cuba
ter hoje condições plenas de conviver na comunidade internacional é
extremamente relevante para o povo cubano e, acredito, para toda a
América Latina”, disse.
“Esta
decisão do presidente Obama merece o respeito do nosso povo”. Raúl
Castro, Ditador Cubano.
“Na
mudança mais importante de nossa política, daremos ponto final ao
obsoleto”. Barack Obama,
Presidente dos Estados Unidos.
Americanos e cubanos livres
Washington – Alan Gross, um americano de 65 anos, libertado ontem,
após ter passado cinco anos em prisões cubanas, fez grande parte de
sua carreira no âmbito da ajuda humanitária e desenvolvimento
internacional. A medida inclui a retomada da diplomacia entre Estados
Unidos e Cuba, que também teve a liberação de Gerardo Hernández,
Ramón Labañino e Antonio Guerrero, que estavam nos Estados Unidos.
A ação foi destacada no pronunciamento do ditador Raúl Castro.
Papa festeja no Vaticano
Cidade
do Vaticano – O papa Francisco comemorou ontem, no Vaticano, o seu
aniversário de 78 anos. Inúmeros casais dançaram tango na praça
São Pedro como forma de homenagear o pontífice. No que se refere à
retomada da diplomacia entre Estados Unidos e Cuba, Francisco
expressou grande satisfação pela decisão histórica. Em
comunicado, a Santa Sé confirmou que houve mediação pessoal do
pontífice, e que ele teria enviado cartas para o ditador Raúl
Castro e para o presidente Barack Obama. A nota também confirmou que
o Vaticano recebeu delegações dos dois países no mês de outubro.
Barack Obama agradeceu a mediação do papa Francisco durante o seu
pronunciamento, no qual anunciou o início de um novo capítulo na
relação entre Estados Unidos e Cuba. O papa Francisco designou
ainda, nesta quarta-feira, oito novos integrantes da comissão contra
a pedofilia na Igreja, que agora conta com um total de 17
especialistas.
Retomada das relações
O que foi
O presidente Barack Obama e o ditador Raúl Castro anunciaram o
restabelecimento das relações dos Estados Unidos com Cuba.
Cuba libertou o prisioneiro americano Alan Gross e, em troca, três
agentes da inteligência cubana que estavam presos nos Estados Unidos
voltaram à ilha.
Medidas anunciadas
Restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países
Maior facilidade de viagens de norte-americanos a Cuba
Autorização de vendas e exportações de bens de serviços dos
Estados Unidos a Cuba
Autorização para norte-americanos importarem bens de até US$ 400
de Cuba
Início de novos esforços para melhorar o acesso de Cuba a
telecomunicações e internet
O embargo dos Estados Unidos contra Cuba
Existe de forma ampla desde 7 de fevereiro de 1962 e impede a
maioria das trocas comerciais
Por meio de duas leis, uma de 1992 e outra de 1996, proíbe o envio
de alimentos ao país caribenho (exceto em casos de ajuda
humanitária)
Torna passível de punição judicial empresas nacionais e
estrangeiras que tenham relações financeiras com a ilha
Limite de envio de remessas de dinheiro a partir dos Estados Unidos
para o país caribenho foi revisto em 2009, o que permitiu uma
injeção de dinheiro na ilha
Antes, os cubanos nos Estados Unidos podiam vigiar cuba apenas uma
vez por ano e mandar apenas US$ 1,2 mil por pessoa, em dinheiro, para
parentes necessitados
Cuba e Estados Unidos: aproximação histórica
Havana – Cuba e Estados Unidos decidiram, nesta quarta-feira,
restabelecer relações diplomáticas rompidas desde 1961. O anúncio
histórico foi feito, em pronunciamento, pelo presidente dos Estados
Unidos e pelo ditador cubano. Castro havia conversado por telefone
com Obama e acertado a retomada do diálogo. Ele lamentou apenas que
Washington mantenha o bloqueio econômico contra Cuba, imposto em
1962.
A notícia também foi dada pelo presidente Barack Obama na Casa
Branca. “Transmiti instruções ao secretário (de Estado John)
Kerry para que ele inicie de imediato discussões com Cuba”,
afirmou Obama. Em nota oficial, Kerry informou que a subsecretária
para o Hemisfério Ocidental (América Latina e Caribe), Roberta
Jacobson, viajará em janeiro a Cuba.
Já o ex-presidente americano Jimmy Carter afirmou sentir-se
“encantado” com a decisão de Obama e se disse favorável a
eliminar as sanções econômicas na ilha. “Espero que o Congresso
(americano) dê os passos necessários para remover as sanções,
medidas qe comprovadamente forma ineficazes”, citou.
A decisão foi comentada ainda pelo secretário-geral da Organização
de Estados Americanos (OEA), o chileno José Miguel Insulza, que
saudou o histórico anúncio. De acordo com Insulza, as iniciativas
anunciadas “abrem uma via de normalização que não tem mais
volta”. Ele pediu ao Congresso americano que adote “as medidas
legislativas necessárias para suspender o embargo contra Cuba, que
ainda está em vigor”.
A América Latina, ao final da 47ª cúpula, os presidentes do
Mercosul saudaram o restabelecimento das relações diplomáticas
entre Cuba e Estados Unidos, classificando como uma “retificação
histórica” pelo venezuelano Nicolás Maduro. “Estamos vivendo um
dia histórico”, disse Maduro, gerando os aplausos dos presidentes
reunidos na cidade argentina de Paraná, 500 km ao norte de Buenos
Aires. Para Maduro, houve uma “vitória da moral, da ética, da
lealdade e dos valores. Uma vitória de Fidel, histórica para o povo
cubano.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, saudou
calorosamente as decisões de Washington e Havana e ofereceu ajuda da
ONU. “As Nações Unidas estão prontas para ajudar esses dois
países a desenvolver suas relações de boa vontade”, afirmou Ban
Ki-moon.
Em seus discursos, tanto Obama quanto Castro agradeceram ao papa
Francisco pela ajuda que o pontífice deu no processo de aproximação
dos dois países.
Fonte: Correio do Povo, capa e página 16, de 18 de dezembro de 2014.