Apesar da preocupação com as taxas adotadas pelos EUA, segmentos econômicos gaúchos consideram benefício competitivo frente a outros países
Os Estados Unidos são um dos principais parceiros comerciais do Rio Grande do Sul. No ano passado, os norte-americanos compraram 1,834 bilhão de dólares em produtos gaúchos, principalmente metal, tabaco, calçados, alimentos, máquinas, móveis e celulose, o que representou 8,4% do total exportado pelo Estado em 2024. A notícia de que o governo de Donald Trump irá taxar em 10% o que é vendido pelo Brasil causou tanto incerteza, como um “alívio”, porque o percentual de impostos não foi maior.
“É uma sistemática de comércio exterior que perdurava por muitos anos, desde o pós-guerra. Tinham regras e agora tivemos uma ruptura. É um momento histórico e de muita apreensão sobre o que vai acontecer”, destacou o economista-chefe da Fiergs, Giovani Baggio, lembrando também a perspectiva positiva. “De certa forma, ficou barato para o Brasil. No relativo, fomos menos taxados do que outros países. Podemos até ganhar relativamente com isso.”
Para Baggio, é difícil ainda mensurar o impacto, pois ainda há dúvidas de como ocorrerão as cobranças. “Estamos esperando um detalhamento maior por parte do governo americano e buscando entender se as tarifas são adicionais em relação àquelas que já existem”, disse. Há a possibilidade de setores que já têm tratados ficarem de fora da penalização tarifária.
O diretor de Comércio Exterior da Federasul, Rodrigo Velho, também disse que é cedo para avaliar o impacto às exportações gaúchas, principalmente porque é difícil prever como os outros países irão reagir às medidas dos EUA. “Todo o comércio internacional está diante de um grande desafio. Estamos tentando entender se será um problema ou uma oportunidade em outros mercados”, observou, ressaltando que a maneira como o governo brasileiro reagirá deve influenciar toda a dinâmica comercial.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta quinta-feira, que o país vai tomar “todas as medidas cabíveis” diante da decisão dos norte-americanos. Afirmou que o governo irá defender as empresas brasileiras, “tendo como referência a lei da reciprocidade econômica”, aprovada pelo Congresso. “Defendemos o multilateralismo e o livre comércio. E responderemos a qualquer tentativa de impor um protecionismo que não cabe mais hoje no mundo”, continuou.
Calçados
A indústria calçadista brasileira tem nos EUA seu principal destino internacional. No primeiro bimestre de 2025, as exportações do setor para os Estados Unidos somaram 1,93 milhão de pares e 37,17 milhões de dólares. Atualmente, 21% de toda a receita gerada pelas exportações nacionais são provenientes dos Estados Unidos.
Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a tarifa para produtos brasileiros pode abrir uma janela de oportunidades diante do imposto maior anunciado para concorrentes asiáticos. Por outro lado, o imposto elevado para os grandes produtores mundiais também pode provocar uma inundação de calçados daquele continente em mercados importantes para o Brasil e até mesmo no doméstico.
O presidente-executivo da entidade, Haroldo Ferreira, citou que o pacote de tarifas anunciado, por exemplo, taxa a China em mais 34%, o Vietnã em mais 46% e a Indonésia em mais 32%. “São tarifas muito mais elevadas do que as aplicadas para o Brasil, o que pode tornar o nosso calçado mais competitivo nos Estados Unidos. Por outro lado, além de a medida diminuir o consumo naquele país, também deve fazer com que os asiáticos busquem alternativas para desovar sua produção. E, entre essas alternativas, certamente teremos o próprio mercado brasileiro e países para onde exportamos nossos calçados”, avalia.
“Por isso, torna-se ainda mais importante a adoção de mecanismos antidumping contra Vietnã e Indonésia, para evitar concorrência desleal no varejo brasileiro”, explica. Segundo ele, o problema já foi levado para o governo federal e agora será reforçado com as autoridades.
Correio do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário