sexta-feira, 4 de abril de 2025

Setores avaliam possíveis vantagens ao mercado do RS com as tarifas de Trump

 Apesar da preocupação com as taxas adotadas pelos EUA, segmentos econômicos gaúchos consideram benefício competitivo frente a outros países



Os Estados Unidos são um dos principais parceiros comerciais do Rio Grande do Sul. No ano passado, os norte-americanos compraram 1,834 bilhão de dólares em produtos gaúchos, principalmente metal, tabaco, calçados, alimentos, máquinas, móveis e celulose, o que representou 8,4% do total exportado pelo Estado em 2024. A notícia de que o governo de Donald Trump irá taxar em 10% o que é vendido pelo Brasil causou tanto incerteza, como um “alívio”, porque o percentual de impostos não foi maior.

“É uma sistemática de comércio exterior que perdurava por muitos anos, desde o pós-guerra. Tinham regras e agora tivemos uma ruptura. É um momento histórico e de muita apreensão sobre o que vai acontecer”, destacou o economista-chefe da Fiergs, Giovani Baggio, lembrando também a perspectiva positiva. “De certa forma, ficou barato para o Brasil. No relativo, fomos menos taxados do que outros países. Podemos até ganhar relativamente com isso.”

Para Baggio, é difícil ainda mensurar o impacto, pois ainda há dúvidas de como ocorrerão as cobranças. “Estamos esperando um detalhamento maior por parte do governo americano e buscando entender se as tarifas são adicionais em relação àquelas que já existem”, disse. Há a possibilidade de setores que já têm tratados ficarem de fora da penalização tarifária.

O diretor de Comércio Exterior da Federasul, Rodrigo Velho, também disse que é cedo para avaliar o impacto às exportações gaúchas, principalmente porque é difícil prever como os outros países irão reagir às medidas dos EUA. “Todo o comércio internacional está diante de um grande desafio. Estamos tentando entender se será um problema ou uma oportunidade em outros mercados”, observou, ressaltando que a maneira como o governo brasileiro reagirá deve influenciar toda a dinâmica comercial.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, nesta quinta-feira, que o país vai tomar “todas as medidas cabíveis” diante da decisão dos norte-americanos. Afirmou que o governo irá defender as empresas brasileiras, “tendo como referência a lei da reciprocidade econômica”, aprovada pelo Congresso. “Defendemos o multilateralismo e o livre comércio. E responderemos a qualquer tentativa de impor um protecionismo que não cabe mais hoje no mundo”, continuou.

Calçados

A indústria calçadista brasileira tem nos EUA seu principal destino internacional. No primeiro bimestre de 2025, as exportações do setor para os Estados Unidos somaram 1,93 milhão de pares e 37,17 milhões de dólares. Atualmente, 21% de toda a receita gerada pelas exportações nacionais são provenientes dos Estados Unidos.

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), a tarifa para produtos brasileiros pode abrir uma janela de oportunidades diante do imposto maior anunciado para concorrentes asiáticos. Por outro lado, o imposto elevado para os grandes produtores mundiais também pode provocar uma inundação de calçados daquele continente em mercados importantes para o Brasil e até mesmo no doméstico.

O presidente-executivo da entidade, Haroldo Ferreira, citou que o pacote de tarifas anunciado, por exemplo, taxa a China em mais 34%, o Vietnã em mais 46% e a Indonésia em mais 32%. “São tarifas muito mais elevadas do que as aplicadas para o Brasil, o que pode tornar o nosso calçado mais competitivo nos Estados Unidos. Por outro lado, além de a medida diminuir o consumo naquele país, também deve fazer com que os asiáticos busquem alternativas para desovar sua produção. E, entre essas alternativas, certamente teremos o próprio mercado brasileiro e países para onde exportamos nossos calçados”, avalia.


“Por isso, torna-se ainda mais importante a adoção de mecanismos antidumping contra Vietnã e Indonésia, para evitar concorrência desleal no varejo brasileiro”, explica. Segundo ele, o problema já foi levado para o governo federal e agora será reforçado com as autoridades.



Correio do Povo

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