Senador Humberto Costa, que é presidente interino do PT, adiantou nesta sexta-feira que mudança será uma das apostas para aumentar popularidade de Lula
O presidente nacional interino do PT, senador Humberto Costa (PE), informou nesta sexta-feira que a gestão Lula deverá apostar forte em duas bandeiras ao longo dos próximos meses para recuperar a popularidade e reconquistar a população. Uma delas é a das mudanças propostas pelo governo no imposto de renda (IR), que inclui a ampliação da faixa de isenção para quem ganha até R$ 5 mil mensais e a taxação mínima para quem recebe acima de R$ 50 mil ao mês. A outra é a da redução da jornada de trabalho sem diminuição de salário. Que, por hora, a administração petista não abraçou.
“A ideia é mudar a jornada 6x1 para outro desenho. Apesar de o governo não ter ainda assumido como uma bandeira sua, isso vai acontecer”, garantiu o senador, lembrando que a proposta tem poder de mobilização e de atração da população. Costa avaliou ainda que uma série de obras de infraestrutura e programas já em curso neste ano também vão auxiliar o presidente a recuperar a popularidade, mudando o cenário atual, no qual a desaprovação a Lula só aumenta.
As declarações foram feitas em Porto Alegre, onde o senador está desde a quinta-feira para tratar da relação das conjunturas nacional e estadual com as articulações locais do PT, do cenário eleitoral de 2026 e da preparação para as eleições internas do partido, que acontecerão em julho. Na coletiva de imprensa que concedeu entre reuniões, o ex-ministro considerou que um dos pontos que mais “pesa” hoje para a desaprovação a Lula é o da inflação dos alimentos, mas assinalou que a explicação para o cenário vai muito além.
“Há uma polarização na sociedade, que alguns chamam de cristalização, ela é um dado real. Então, em função disto, uma parte da população pode, todo o dia, receber um pote de ouro, que vai continuar achando que o governo não presta.” Isso também explica, conforme Costa, o fato de Lula manter índices de intenção de voto acima dos 40% ao mesmo tempo em que a avaliação do governo apresenta quedas sucessivas. “Tem uma parcela que é favorável ao Lula e ao PT. E mesmo que não ache o governo maravilhoso neste momento, está disposta a continuar votando nele.” Conforme o senador, dentro deste cenário, a disputa e conquista da preferência dos cerca de 30% que não se identificam nem como petistas/lulistas e nem como de direita ou bolsonaristas, será fundamental.
Ele admitiu, porém, que o governo tem perdido “para a extrema direita” debates públicos em temas que lhe são favoráveis, como as próprias propostas de mudanças no IR. Na sua avaliação, isso justificaria em parte a queda na popularidade. Emendou, ainda, que o terceiro mandato de Lula não teria deixado claro para a população o que recebeu do antecessor, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
“Criamos uma grande expectativa para as pessoas, acho que estamos correspondendo, fizemos muita coisa. Porém, a gente não trabalhou um posicionamento que mostrasse o quanto isso representou. Quando assumimos a primeira vez, lá em 2003, falamos muito mais na herança maldita do FHC. Desta vez, a gente foi muito ‘em passant’ (de leve, de passagem) em relação a tragédia que passamos. Talvez não tenhamos adotado um posicionamento de trabalhar esta questão. Pode ser uma das explicações (para a queda na popularidade de Lula).”
Questionado sobre a dificuldade do PT de encontrar um candidato competitivo para a sucessão de Lula além do próprio presidente, Costa citou nominalmente os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e da Educação, Camilo Santana, como alternativas no PT na hipótese de Lula decidir não disputar as eleições de 2026. E lançou dúvidas sobre a vantagem da proliferação de candidatos no campo da direita. “Em uma eleição, se você tem um polo instalado e colocado, este polo tende a ir para o segundo turno com a primeira colocação. E sabemos que é muito difícil quem chega na frente no primeiro turno não ganhar a eleição. Na direita, você pode dizer que há um espaço de renovação. Mas também é um espaço de divisão. Bolsonaro não será candidato, por conta da inelegibilidade. E, sem ele, a possibilidade de se unirem é muito pequena”, projetou.
Correio do Povo
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