Em 31 de março de 1964, o comandante da Academia, general Emílio Garrastazu Médici, após reclamações dos generais Costa e Silva e Kruel, decidiu empregar os cadetes em adesão ao deslocamento para o estado da Guanabara, desencadeado em Minas Gerais, por tropas do Exército e da Polícia Militar (onde eu me localizei como membro do "Destacamento Tiradentes"). Por ilustração histórica relevante, diga-se que em novembro de 1935, o então coronel Mascarenhas de Moraes, comandante da Escola Militar do Realengo, não trepidou um instante em comandar os seus cadetes contra os traidores da Pátria, por ocasião da covarde e traiçoeira Intentona Comunista. E 29 anos depois, em 31 de março de 1964, o general Médici determinou igualmente o emprego do Corpo de Cadetes, passando a integrar o II Exército, de São Paulo, contra o mesmo inimigo solerte, internacionalista, materialista e atéeu. Esses dois grandes brasileiros se tornariam vultos nacionais, alçados que foram aos píncaros da história-pátria! Acrescente-se que os cadetes que ocupavam uma Posição Defensiva (PD) nas alturas de Barra Mansa (RJ), lá não se encontraram para separar dois Exércitos na iminência de um confronto fratricida, como se disse e diz, infundadamente, alhures. Em absoluto!! A AMAN era a Vanguarda do II Exército e, completamente aprestada, partiu para o combate, que felizmente, não houve...
Em 1985, quando eu era instrutor/professor de História Militar na Academia, elaborei uma alentada monografia de título "A Participação da AMAN na Revolução de 31 de Março de 1964", hoje sob custódia da Seção de Geografia e História Militar daquele estabelecimento militar de ensino. Nela são descritos, de maneira abrangente e minudente, tudo o que aconteceu na Academia Militar, antes, durante e logo depois do período conturbado em comentário. A obra foi mencionada, encomiasticamente, pelo saudoso general Geisi Ferrari, que ainda capitão, comandou o Curso de Infantaria nas elevações em que os cadetes se instalaram defensivamente.
O presidente Lula, anos atrás, em depoimento ao escritor Ronaldo Costa Couto, em "Memória Viva do Regime Militar", declarou: "Naquela época, se houve eleições, o Médici ganha. E foi no auge da repressão política mesmo, o que a gente chama de período mais duro do regime militar. A popularidade dos Médici no meio da classe trabalhadora era muito grande. Ora, por quê? Porque era uma época de pleno emprego".
A propósito, gostaria de indicar a leitura do livro "Memórias de Nossa Vida Acadêmica - 1963 a 1965", referente à "Turma IV Centenário da Cidade do Rio de Janeiro", de 1965, trazido a lume no ano de 2020 e lançado solenemente na Academia. A inédita e mui preciosa obra, de 2000 exemplares em sua primeira edição, foi organizada pelo General de Divisão Reformado Luiz Henrique Moura Barreto e Tenente-Coronel Reformado Reinaldo Granato. A atuação dos jovens cadetes no ano de 1964 e em numerosos outros episódios vívidos daquela unida e coesa Turma estão entesourados no magnífico livro, relicário de memória histórica, que enriquece, sem dúvidas e exponencialmente, não apenas a História da AMAN, mas também a nossa bela História Militar. Para, outrossim, entender-se o que foi a nossa Contrarrevolução, mister se faz a leitura, entre outros, dos livros "Tinha que Ser Minas", de autoria do general Carlos Luís Guedes e "Memórias: A Verdade de Um Revolucionário", do general Olímpio Mourão Filho, publicado pelo saudoso historiador Hélio Silva, após a morte do general e o pedido dele. Assim como os vários tomos editados da "História Oral do Exército Brasileiro" alusivos à Revolução de 1964.
E que não nos amedrontemos com a atoarda infame e ferina dos inimigos internos e não cedamos às suas intenções diabólicas. Eles hão de passar, mas o Brasil e suas Forças Armadas ficam, pois são eternos. Continuamos a insistir, persistir e não desistir na litania da divulgação de nossos ideais democráticos, tão bem compreendidos em 1964. Já dizia o eminente e saudoso historiador José Honório Rodrigues, em que pese os seus posicionamentos ideológicos de esquerda: "As Forças Armadas nasceram com a Nação Brasileira: nada se fez e nada se faz sem elas. E não é pela fragilidade das outras instituições".
Sim, pois quando um povo entra a esquecer, nos prazeres fugacíssimos da vida, dos fatos marcantes de sua Gesta, dos seus personagens mais salientes, daqueles que mais se sublimaram pelo saber, pela santidade, pelo heroísmo ou pelo martírio, ninguém deve maravilhar-se de vê-lo, um dia, desagregado, desvirilizado, desmoralizado, e, ainda por maior desdita, escravizado por falsos líderes e por outros povos. É a lição triste da História, "a mestra da vida, a mestra das mestras".
Não apenas por tudo o que antes foi gasto, outra vez, como exclamado no artigo anterior:
Salve 31 de março de 1964!!
Coronel Veterano de Infantaria e Estado Maior Manoel Soriano Neto
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