No dia em que a Capital comemora 253, conheça quais são os outros três clubes da cidade que foram campeões estaduais
Juntos, Inter e Grêmio somam 89 títulos do Campeonato Gaúcho. É uma diferença abissal para todos os demais campeões estaduais, até porque os clubes que vêm imediatamente abaixo são o Guarany de Bagé e o Cruzeiro, com dois, mas este último tem um título honorífico. Colorados e gremistas, no entanto, não são os únicos representantes de Porto Alegre a terem levantado a taça estadual mais disputada desde 1918.
No dia em que a Capital dos gaúchos comemora 253 anos, o Correio do Povo lembra os títulos gaúchos de outros clubes porto-alegrenses.
AMERICANO
Em 1928, o Campeonato Gaúcho chegava à oitava edição. O Grêmio, com três conquistas, e o Inter, com uma, haviam sido até então os dois únicos representantes da Capital a erguerem a taça. Coube então ao Americano, clube com uma breve história entre 1912 e 1941, deixar esta turma um pouco menos exclusiva. Depois de uma semifinal apertada, onde venceu o Gaúcho por 4 a 3, a decisão foi bem mais tranquila: goleada de 3 a 0 no Bagé e a façanha assegurada.
Apesar do placar dilatado, construído com três gols de Joãozinho, em termos técnicos a partida deixou a desejar. Pelo menos essa foi a avaliação das páginas do Correio do Povo do dia seguinte à decisão daquele Gauchão. "A luta que se deu entre as duas aguerridas esquadras dos clubes Americano e Grêmio de Bagé não foi, positivamente, daquelas que se podem classificar de boas e as jogadas não estiveram mesmo à altura dos créditos desportivos dos dois valorosos campeões", é o que aponta o texto do CP, que ainda completa: "Por qualquer motivo que não atinamos, o jogo decorreu sem grandes lances".
Seja como for, a própria matéria do jornal trata de lembrar o mérito do Americano, que estava conquistando ali no mítico estádio da Baixada, o título mais importante de sua história. "Não há como negar que a vitória deveria de direito e justiça, na tarde de ontem, cobrir de glórias o vitorioso pavilhão. Venceram os locais porque apresentaram melhor conjunto, mais técnica e mais ardor", saúda o CP.
O time campeão do Americano tinha no elenco um nome que entrou para a história do futebol gaúcho. O zagueiro Luiz Luz seria, anos mais tarde, em 1934, o primeiro atleta de um clube gaúcho (jogou ainda pelo Grêmio) a ser convocado para uma Copa do Mundo. A equipe que venceu o Bagé naquele 24 de outubro de 1928 tinha Alegrete, Heitor e Vasco; Nalério, Barulho e De Lorenzi; Fernando, Totte, Hugo, Joãozinho e Victor Hugo.
CRUZEIRO
Tecnicamente, o Cruzeiro ostenta o título de dois Campeonatos Gaúchos. O primeiro, no entanto, não chegou ao final e só foi reconhecido mais de 100 anos depois. Isso porque a primeira edição da competição, em 1918, foi interrompida em função da pandemia da gripe espanhola e a Federação Gaúcha de Futebol (FGF) reconheceu, em 2021, o clube, assim como o Brasil de Pelotas e 14 de Julho, os campeões honoríficos daquela edição. Já em 1929 foi diferente. Em 15 de outubro daquele ano, o clube porto-alegrense venceu na final por 1 a 0 o Guarany de Bagé na Chácara das Camélias, na Capital, e ficou com a taça sem dividir com ninguém.
A vitória cruzeirense se deu em uma final das mais disputadas. Apesar do placar pouco elástico, as páginas do Correio do Povo do dia seguinte à decisão elogiam o nível técnico do encontro. "Os que ali foram na expectativa de assistir a uma partida capaz de fazer vibrar a torcida, devem ter saído de campo satisfeitos, já que o embate foi movimentado, movimentadíssimo", indica o texto.
Em campo, foram dois tempos distintos. Se no primeiro, quem ditou as ações e o ritmo da partida foram os anfitriões, na etapa final a equipe da fronteira reagiu e por pouco não saiu de campo vitorioso. "A reação fez com que os torcedores do clube local passassem maus momentos, pois a cada instante temiam que eles, os visitantes, lograssem lhe arrebatar das mãos o título para a conquista do qual já estavam muito próximos, graças à vantagem conseguida no primeiro tempo", escreve o CP.
Se o nível da partida foi elogiado, a atuação da arbitragem no lance capital, nem tanto. O gol marcado por Nestor nasceu de um pênalti que, de acordo com a matéria do jornal, foi inexistente, uma vez que o defensor não teve a intenção de tocar a bola com a mão. "Não podia, portanto, ter sido uma ‘mão’, voluntária, mormente se tivermos em conta que Avancini, além do mais, vinha se levantando de uma queda que levara por ocasião de um entrevero", aponta o texto.
O Cruzeiro campeão gaúcho de 1929 jogou com Chico, Espir e Hugo; Totte, Emílio e Salatino; Ferreira, Torres, Nestor, Germano e Campão. O técnico era Matturio Fabbi.
RENNER
Afora a Dupla Gre-Nal, o último título do Campeonato Gaúcho conquistado por outra equipe de Porto Alegre remonta à edição de 1954. A taça mesmo só foi erguida no ano seguinte, já que a final foi disputada em 3 de abril de 1955. Foi quando o Renner sagrou-se campeão ao golear o Brasil de Pelotas por 3 a 0, no estádio Tiradentes, que se localizava no bairro Navegantes. Desde aquele resultado, construído com dois gols de Breno e um de Pedrinho, nunca mais outro clube de Porto Alegre que não fosse Grêmio ou Inter venceria um Gauchão.
Da escalação que bateu o time pelotense, dois nomes seriam conhecidos em todo o país. No gol, Valdir de Moraes mais tarde vestiria a camisa titular do Palmeiras entre 1958 e 1968, chegando inclusive à Seleção Brasileira. Já no meio de campo estava ninguém menos do que Ênio Andrade, considerado até hoje um dos maiores técnicos do país, campeão brasileiro pelo Inter (1979), Grêmio (1981) e Coritiba (1985).
A fórmula da competição previa um triangular com turno e returno, mas tanto Renner como Brasil bateram o Ferro Carril duas vezes. E como no primeiro duelo entre ambos houve empate, o último jogo ganhou ares de final. A cobertura do Correio do Povo na época saudou o nível das duas equipes após o jogo. "Entre todas as equipes que disputaram o título estadual, nenhuma apresentou tantos méritos quanto o Renner para ostentar o título. E sua conquista foi mais valorizada com a magnífica atuação do Brasil que, também, apresentou um grande esquadrão", diz trecho da crônica do CP no dia 6 de abril de 1955.
Também a Folha da Tarde foi bastante elogiosa em suas análises do campeão. "Desde o início da temporada, os rapazes do Estádio Tiradentes foram senhores da situação, abatendo, um a um e dia a dia, quantos adversários lhe foram apresentados. E, como se não bastasse tantos triunfos e tantas glórias, o clube dos Navegantes foi chamado a representar o nosso Estado no campeonato brasileiro e os paulistas que digam o quanto sofreram e padeceram, antes de quebrar a fibra e a combatividade dos defensores gaúchos".
Apesar do título, o Renner não duraria muito mais. O clube encerrou as suas atividades em 1957, depois de enfrentar uma grave crise financeira. O time campeão de 1954, treinado por Selviro Rodrigues, entrou em campo no último jogo com Valdir; Orlando e Paulistinha; Bonzo, Léo e Olávio; Pedrinho, Breno, Juarez, Ênio Andrade e Joeci.
Correio do Povo
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