Em todo o Rio Grande do Sul, a taxa de abstenção durante o primeiro turno foi de 23,69%, um resultado similar a uma eleição realizada durante a pandemia
Desde a manhã desta quarta-feira, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RS) passa a promover o seminário "A Abstenção nas Eleições Municipais de 2024: causas, consequências e desafios". Os debates envolverão diferentes agentes da sociedade, com três dias de programações.
A abertura do evento foi realizada no plenário do tribunal, com a presença de diversas autoridades importantes dos Poderes do Rio Grande do Sul. Já nesta largada, diferentes motivos foram apontados para o elevado nível das abstenções. Afinal, Porto Alegre foi a capital recordista no quesito durante o pleito de 2024. No segundo turno, foram 34,83% de eleitores ausentes. Ou seja, quase 382 mil pessoas deixaram de comparecer às urnas.
Em todo o Estado, a taxa de abstenção durante o primeiro turno foi de 23,69%, um resultado similar a uma eleição realizada durante a pandemia. No pleito municipal de 2020, o número de abstinentes já havia crescido 53% no RS em comparação com 2016, de 15,47% há oito anos para 23,67% há quatro anos.
A possibilidade, que já era preocupação do TRE antes do pleito, acabou por se confirmar. “Um Estado como o nosso, sabidamente politizado, que tem toda uma trajetória política invejável, com extraordinário políticos, por que as pessoas estão deixando de votar? A partir disso surgiu a necessidade de realizar um seminário”, discursou o presidente da Justiça Eleitoral gaúcha, desembargador Voltaire de Lima Moraes.
Um dos motivos identificados por Voltaire foi a tragédia climática de maio de 2024. “O cenário era devastador. Várias Zonas Eleitorais atingidas. A nossa sede, inclusive. Tivemos que, de uma hora para outra, nos mobilizarmos fortemente para enfrentar este cenário jamais visto. Vários urnas eletrônicas foram atingidas”, disse.
Vice-governador do Estado, Gabriel Souza (MDB) discorreu sobre um sentimento de desilusão com a política. “Temos, nos últimos anos, a questão do desgaste da democracia liberal. Não sobre o sistema de voto, mas um arranjo mais complexo previsto na nossa Constituição. A democracia liveral parecia ser o sistema mais evoluído que a humanidade atingiu, mas que quase sempre causa desilusões” afirmou.
Prefeito reeleito na capital recordista de abstenções, Sebastião Melo (MDB) apontou uma série de motivações para a questão. “Há uma crise na democracia representativa no mundo inteiro. Não há um sistema perfeito. São tantas causas para a desilusão do eleitoral que deveríamos fazer vários seminários. Começo pelos partidos políticos, que perderam muito essa questão do coletivo, das suas fundações, se abre partido mais fácil do que microempresa. É um pragmatismo”, criticou.
“As redes sociais nos trouxeram muitos benefícios, mas nos trouxeram muita estupidez. As pessoas querem decisões impossíveis. A polarização também é uma das razões”, completou Melo.
O presidente da Assembleia Legislativa, deputado estadual Pepe Vargas (PT), analisa que o aumento da abstenção reduz a credibilidade dos eleitos: “Tivemos pesquisas que demonstram que o grau de confiança na democracia está um pouco maior do que estava há alguns anos atrás, como 2018, 2017. Mas a abstenção eleitoral, de fato, aumentou muito. Se a democracia se exerce pela soberania popular, e uma parcela do soberano não comparece para votar, a legitimidade dos eleitos não deixa de existir, mas sem sombra de dúvidas diminui”.
Correio do Povo
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