A alta dos preços no atacado deve trazer um impulso de curto prazo à arrecadação federal. Esse efeito, no entanto, deve ter vida curta e perder força no segundo semestre, momento em que o governo será pressionado a achar soluções para um buraco de aproximadamente R$ 100 bilhões em receitas necessárias para cumprir com a regra fiscal em 2026.
A avaliação é do Santander, para quem as primeiras leituras de arrecadação do início de 2025 mostram que o ritmo de crescimento da arrecadação permaneceu robusto a despeito da desaceleração econômica em vigor e da perspectiva de que a atividade esse ano será puxada majoritariamente por setores pouco tributados – agropecuária em especial.
“Essas receitas extras trazem algum conforto para primeiro e segundo trimestres, mas existem desafios para a segunda metade do ano. Não apenas a agenda legislativa relacionada às medidas do lado da receita, mas também a compensação pela isenção do Imposto de Renda para pessoas que recebem até R$ 5 mil e também as medidas que vão olhar a necessidade de fazer um superávit primário de 0,25% do PIB em 2026”, afirma o economista Ítalo Franca. “Provavelmente, esse debate vai se dar em um momento de arrefecimento da arrecadação.”
Com base na expectativa de um IGP-M mais alto – que passou de 5,8% para 6,5% – o banco espera agora que o chamado deflator do PIB de 2025 alcançará 6,4% – acima da previsão oficial da Fazenda, de 6,3%.
Nas contas de Franca, cada ponto adicional de deflator significa um acréscimo de R$ 12 bilhões em arrecadação. Assim, somente essa última atualização implica outros R$ 16 bilhões em receita.
Uma variação mais alta dos IGPs afeta positivamente as contas públicas através de dois canais. Um deles é o desempenho de algumas receitas, particularmente do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), que historicamente seguem de perto o comportamento dos preços no atacado.
O segundo canal é do deflator do PIB – indicador que desconta a alta de preços para calcular o desempenho real da economia. Quanto mais alto, maior é o PIB nominal e, portanto, de outras receitas sensíveis à atividade.
Adicionalmente, se o deflator é maior do que o IPCA, que corrige as despesas primárias do governo, a arrecadação cresce a uma velocidade superior a dos gastos e o resultado primário e a dívida como proporção do PIB também melhoram.
Em fevereiro, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) subiu 1,06% e acumulou alta de 8,4% em doze meses. A projeção do Santander é que o indicador em doze meses chegue a marcar 9,7% antes de encerrar o ano em 6,5%.
“Acreditamos que o pico de alta das commodities em reais deve ocorrer até abril ou maio, mas é possível que continuem ocorrendo surpresas altistas adiante, dado que a depreciação do real começou em abril do ano passado e ainda não foi inteiramente repassada”, diz o responsável pelo cenário de inflação do banco, Adriano Valladão. “Neste caso, a ajuda ao deflator e à arrecadação se amplia porque há grande correlação entre o preço das commodities em reais e as surpresas no IGP.”
Ele ressalta ainda que o choque de preços vem, em sua maior parte, da desvalorização cambial registrada em 2024, mas não contabiliza a esticada do dólar no fim do ano passado, quando a moeda americana ultrapassou a barreira dos R$ 6,00. “Esta acabou ficando pelo caminho porque o câmbio já cedeu à média do quarto trimestre”, afirma. As informações são do jornal Valor Econômico.
O Sul
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