terça-feira, 25 de março de 2025

Dólar fecha em queda a R$ 5,70, com dados fracos dos EUA e tom duro da ata do Copom

 O real apresentou o melhor desempenho entre as principais moedas globais

O real apresentou o melhor desempenho entre as principais moedas globais | Foto: Marcos Santos / USP Imagens / CP


O dólar apresentou queda firme na sessão desta terça-feira, 25, e até esboçou fechar abaixo R$ 5,70 em dia marcado por recuo da moeda americana no exterior, após dados mais fracos da economia dos EUA. O real apresentou, ao lado dos pesos chileno e colombiano, o melhor desempenho entre as principais moedas globais, em meio a relatos de fluxo estrangeiro para ações domésticas e ao tom duro da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), com aceno à continuidade do aperto monetário.

"A ata demonstra que o ciclo de alta não está completo. A Selic deve ir para cerca de 15% e rodar nesse nível por bastante tempo", afirma o gestor de macro da Az Quest, Gustavo Menezes. "Isso garante um período relevante de diferencial de juros expressivo, o que dá sustentação ao real".

Com mínima a R$ 5,6729, o dólar à vista terminou o dia cotado a R$ 5,7092, em queda de 0,75%, interrompendo uma sequência de três pregões de alta, em que havia acumulado valorização de 1,85%. Em março, a moeda apresenta recuo de 3,50%, o que leva a uma desvalorização de 7,62% no ano. Na ata, o Copom afirma que optou por três sinalizações a respeito da condução da política monetária.

Em primeiro lugar, dada a desancoragem das expectativas de inflação, julgou "apropriado indicar que o ciclo não está encerrado".

Em razão da defasagem do aperto monetário, indicou que a próxima alta da Selic não será de 1 ponto porcentual e, por último, afirmou que a magnitude do ciclo será "ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta". "A ata teve um tom mais duro do que o adotado no comunicado da decisão e permite a interpretação de que pode haver restrição monetária por mais tempo", afirma o diretor de Pesquisa Econômica do Banco Pine, Cristiano Oliveira, que projeta Selic em 14,75% no fim do ciclo, com alta de 75 pontos em maio, mas ressalta que pode revisar seu cenário para incorporar nova elevação em junho.

Taxas de juros

A ata do Copom do Banco Central, em que o colegiado reiterou a percepção de um cenário "mais adverso" para a inflação e reforçou o compromisso com o combate à alta de preços e com a continuidade no aperto da Selic, abriu espaço para que as taxas dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI) subissem.

A alta ocorreu mesmo diante de recuos no dólar e nos juros dos Treasuries, que na primeira etapa do pregão chegaram a empurrar as taxas para o território negativo. Os especialistas chamaram atenção particularmente ao parágrafo 10 da ata, em que o Copom diz que as expectativas de inflação "elevaram-se novamente em todos os prazos", mostrando "desancoragem adicional" e um cenário "mais adverso" para os preços.

No mesmo trecho, o colegiado acrescenta: "o cenário de convergência da inflação à meta torna-se mais desafiador com expectativas desancoradas para prazos mais longos e exige uma restrição monetária maior e por mais tempo do que outrora seria apropriado". Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, aponta que o recado neste trecho do documento é que o Copom está preparado para fazer mais aperto monetário e por mais tempo.

Segundo ele, a ata confirmou uma visão um pouco mais "hawkish" - propensa a altas de juros - do que o comunicado publicado na última quarta-feira. León Santiago Lucas, head de renda fixa da Ville Capital, também avalia que o Copom demonstrou na ata um conservadorismo maior do que no comunicado. Ele mencionou que o mercado segue atento à discussão sobre a isenção do Imposto de Renda (IR) e aos efeitos da proposta, que pode estimular o consumo e piorar o quadro fiscal se as medidas de compensação forem diluídas no Congresso - ambos fatores que aumentam as chances de a Selic permanecer elevada. A taxa do contrato de DI para janeiro de 2026 subiu a 15,115%, de 15,028% no ajuste anterior. A taxa para janeiro de 2027 aumentou a 15,055%, de 14,891%, e a taxa para janeiro de 2029 avançou a 14,795%, de 14,643%.

Estadão Conteúdo e Correio do Povo

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