sexta-feira, 21 de março de 2025

Deputados do RS dizem ser difícil taxação dos ‘mais ricos’ passar no Congresso

 ‘Esse projeto de Robin Hood não funciona aqui na Câmara’, diz Alceu Moreira. ‘Quem ganha mais de R$ 50 mil não vai ficar pobre se contribuir mais’, rebate Maria do Rosário.



No embalo das últimas declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), de que é “impossível” o projeto que amplia a isenção do Imposto de Renda (IR) passar pelo Congresso sem alterações, deputados da bancada gaúcha na Casa também apostam nisso. Alceu Moreira (MDB) é um deles.

“Esse projeto de Robin Hood não funciona aqui na Câmara (dos Deputados)”, afirmou o deputado, em referência à proposta de compensação do Planalto, que prevê o pagamento de uma alíquota mínima de IR pelos contribuintes mais ricos para suprir a perda de arrecadação decorrente das isenções.

Segundo o deputado, “não há garantia” de que a compensação prevista pelo governo gere a arrecadação necessária. Por isso, a “heterogeneidade” da Casa vai, “com certeza”, resultar em alterações, afirmou Alceu. A equipe econômica do governo prevê a perda de R$ 25 bilhões com as mudanças, mas estima que as compensações com a tributação dos mais ricos podem chegar a R$ 34 bilhões.

O deputado Pompeo de Mattos (PDT) já tem até sugestão de mudança: rediscutir a linha de corte para os impostos. Hoje, o projeto enviado pelo governo prevê a cobrança de um imposto mínimo para quem ganha mais de R$ 50 mil por mês (R$ 600 mil ao ano). A previsão é que essa taxa começará com uma alíquota baixa, próxima a zero, e subirá gradativamente até 10% para quem ganhar mais de R$ 100 mil ao mês (R$ 1,2 milhão ao ano).

A ideia de Pompeo é aumentar essa faixa de R$ 50 mil e taxar os “ricos e super ricos” – que, na visão do deputado, não estão incluídos no valor proposto pelo governo. “O único ente no Brasil que vive de renda e não paga imposto de renda é o banco”, afirmou, ao defender que essas instituições têm que ser taxadas, inclusive por “não produzirem”. O deputado ainda acredita que, ao aumentar essa faixa de cobrança, ficará mais fácil o trânsito da proposta dentro da Câmara.

Enxergando esse movimento, a base deve se organizar para fazer passar a proposta original e impedir que uma “tentativa de deixar livre” quem ganha acima dos R$ 50 mil passe. Inclusive valendo-se do discurso de necessidade de compensação em função do equilíbrio fiscal – narrativa empregada pela oposição, que acusa o governo de descontrole nas contas públicas.

“É natural que quem ganha mais comece a se mobilizar contra, mas quem ganha mais de R$ 50 mil não vai ficar pobre se contribuir mais. Não vai deixar de se alimentar, não vai deixar de fazer uma viagem. Não há prejuízo para quem ganha mais”, defendeu a deputada Maria do Rosário (PT). “O projeto cria um sistema para desonerar a classe média baixa e é preciso que quem ganha acima de R$ 50 mil amplie sua contribuição.”

Quanto às exigências da oposição, que defende que a compensação deve vir do corte de gastos do próprio governo, Fernanda Melchionna (PSol) rebate: “Quando a extrema-direita fala em cortar gastos, fala em cortar direitos”. Além disso, governistas também devem valer-se do apelo popular da matéria, uma vez que a tabela do imposto de renda não é atualizada há anos. Melchionna pretende que, aprovado o projeto, também seja possível avançar em mais assuntos visando a justiça tributária, como a taxação das grandes fortunas.

Como o texto determina que as alterações no IR começam a valer a partir de 2026, o projeto pode ser aprovado até o fim do ano. No entanto, a expectativa é a de que a medida vá à votação no fim desse semestre ou início do próximo. Uma comissão especial deve ser criada para debater a matéria.

Correio do Povo

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