quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

UE sob pressão das provocações dos gigantes da tecnologia

 Após eleição de Trump, bloco tem optado por se mostrar cauteloso no enfrentamento de grandes grupos tecnológicos americanos



Diante dos recentes anúncios de gigantes da tecnologia dos EUA, como o X e a Meta, alinhados com Donald Trump, a UE tem o desafio de demonstrar que possui as ferramentas legais e políticas para se defender.

Mediante duas ferramentas, a lei de Mercados Digitais e a de Serviços Digitais, a UE conta, desde 2024, com um importante arsenal para frear os abusos de poder e a difusão de conteúdos ilegais de desinformação.

No entanto, após a eleição de Donald Trump para um novo mandato nos EUA, a UE tem optado por se mostrar cautelosa no enfrentamento de grandes grupos tecnológicos americanos.

Inicialmente, foi o bilionário Elon Musk, proprietário da rede X e futuro ministro de Trump, que lançou ataques virulentos contra os líderes europeus.

Mark Zuckerberg, proprietário da Meta (Facebook e Intagram), juntou-se a ele ao sugerir que a legislação europeia equivale a "censura".

O próprio Trump também se manifestou ao ameaçar a Dinamarca, que faz parte da UE, quando, na última terça-feira, não descartou a possibilidade de uma ação militar para anexar a ilha da Groenlândia.

Nesta quarta-feira (8), a Comissão saiu de seu silêncio inicial para reagir timidamente. Por um lado, ela negou qualquer ideia de censura da UE e, por outro, limitou-se a comentar que as ameaças de Trump à Groenlândia são muito "hipotéticas".

Em um aberto desafio à UE, Musk tem em sua agenda para a próxima quinta-feira uma conversa online com a líder do partido de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), apenas um mês antes das eleições legislativas no país.

Perante esta situação, o chefe da diplomacia da França, Jean-Noël Barrot, disse que a UE deve "acordar" e reagir para defender os países do bloco com mais firmeza.

Caso a UE não o faça, disse ele, será necessário devolver aos próprios países do bloco a capacidade de reagir.Por sua vez, o chefe do governo da Espanha, Pedro Sánchez, apontou que Musk (que ele não identificou pelo nome) estava atacando "abertamente" as instituições, além de despertar o "ódio".

Sánchez disse que "o homem mais rico do planeta" lidera uma "internacional reacionária" que "ataca abertamente nossas instituições, incita ao ódio e pede abertamente apoio aos herdeiros do nazismo na Alemanha nas próximas eleições".

"Proteger nossas democracias"

A cautela da Comissão contrasta com a agressividade que mostrou em dezembro com a rede TikTok, de origem chinesa, contra a qual abriu uma investigação por supostamente permitir desinformação durante eleições na Romênia.

"Devemos proteger nossas democracias de todas as formas de interferência estrangeira", declarou a então presidente da Comissão, Úsula von der Leyen, ao anunciar a investigação.

"Não queremos confrontar de frente Trump e Musk porque temos medo das reações", comentou Alexandre de Streel, especialista em legislação digital no Think Tanl Cerre.

O diretor-geral da entidade Repórteres sem Fronteiras (RSF), Thibaut Bruttin, defendeu o empenho da UE de regulamentar a operação das plataformas digitais.

"A promoção da verdade não é uma censura e a regulamentação democrática não é um obstáculo ilegítimo", disse Bruttin.

Na opinião de Bruttin, "Zuckerberg segue o movimento iniciado por Musk no X e jura fidelidade à ideologia de Trump, enterrando o jornalismo em favor de uma concepção absolutista da liberdade de expressão".

Para Umberto Gambini, da consultora Foward Global, se a Comissão abre agora uma investigação contra Musk, "colocaria mais lenha na fogueira" ainda.

De acordo com várias fontes, o gabinete de Von der Leyen congelou recentemente o anúncio de uma multa contra a Apple por práticas anticompetitivas para não prejudicar as relações com os Estados Unidos.

AFP e Correio do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário