domingo, 12 de janeiro de 2025

Novas regras de imigração põem em risco “sonho canadense” de brasileiros

 Condições para imigrar ficaram mais rígidas em 2024



O Canadá tem fama de receber profissionais estrangeiros de 'braços abertos'. Em 2021, 23% da sua população já era de nascidos fora do país. Esse cenário fez com que muitos, inclusive brasileiros, migrassem atrás do 'sonho canadense'.

Na lista de atrativos, mais segurança, facilidade de imigração, empregos de sobra e pagos em dólar, bons sistemas de saúde e educação, além da alta internacionalização. Mas, nos últimos anos, as regras ficaram mais restritivas.

Até 2023, obter visto de residente permanente no Canadá era bem mais simples do que nos Estados Unidos ou na maior parte da Europa. Bastava ser aceito em instituição de ensino superior canadense para conseguir visto de estudante, o que dava direito a trabalhar meio período.

Após concluir o curso, a permissão de trabalho se estendia para tempo integral por até três anos. Esse tempo geralmente era suficiente para dar início ao processo do 'green card canadense', isto é, o status de residente permanente no Canadá. Esse documento concede ao estrangeiro quase todos os direitos de um cidadão local, com exceção de votar e se eleger para cargos políticos.

As condições para imigrar ficaram mais rígidas em 2024. O número de residentes não permanentes no país triplicou em 3 anos - foi de cerca de 1 milhão em 2021 para 3 milhões no 3.º trimestre de 2024.

A pressão migratória é um dos motivos da renúncia do premiê Justin Trudeau na semana passada. À reportagem, o governo canadense disse que o foco é tornar os atuais residentes temporários permanentes.

Esses imigrantes 'continuarão a apoiar a força de trabalho e a economia sem colocar demandas adicionais' nos serviços sociais, 'já que estão estabelecidos no Canadá com emprego e casa'. No entanto, disse que as universidades atraíram número crescente de alunos, que ficaram 'sem suporte adequado'.

Agora, muitos brasileiros que imigraram recentemente para o Canadá estão voltando. Outros seguem por lá, mas sem saber se os anos e os dólares investidos no plano serão, de fato, compensados.

Plano

Em plano seguido por muitos brasileiros no Canadá, o migrante vai estudando, pode trabalhar meio período (20 horas por semana), e o cônjuge tem direito a visto de trabalho em tempo integral. O filho, a partir dos 4 ou 5 anos, pode ir para a escola pública gratuitamente.

Após a formatura, você tem de um a três anos de visto de trabalho. Nesse período de 4 a 5 anos, o estrangeiro se torna apto a acumular pontos para conseguir um convite para aplicar para a residência permanente canadense.

Ao alcançar pontuação mínima, o estrangeiro pode receber um convite para, caso queira, aplicar para o processo que lhe permite morar no país e usufruir de todo o serviço público.

Fatores como ter familiares no Canadá, oferta de trabalho de empregador canadense ou experiência de trabalho ou estudo prévio no país elevam a pontuação de um candidato. Além disso, as habilidades linguísticas, experiência de trabalho e educação do cônjuge do candidato também contribuem para a pontuação total.

Para receber o visto de estudante, é preciso também comprovar capacidade financeira de se manter, ainda que seja permitido trabalhar. Isso faz com que os candidatos sejam, em sua maioria, pessoas de classes sociais mais altas.

A psicóloga Nina Daccache se mudou para o Canadá no pós-pandemia e tem passado por dificuldades para conseguir a residência permanente. Ela chegou ao país em 2021, com o marido, que foi como estudante, podendo trabalhar meio período.

Ela, como cônjuge do candidato, trabalhou em período integral na área de RH, a mesma em que atuava no Brasil. Após a formatura dele, o casal recebeu permissão para trabalhar no país por mais três anos, até 2026.

Até lá, eles querem o convite para a residência permanente, mas temem que os cerca de US$ 35 mil (R$ 215 mil, na cotação atual) investidos nos últimos três anos sejam perdidos. Um dos motivos foi o aumento da pontuação necessária para tentar residência permanente.

Outro problema é que a regra de migração deixou de privilegiar funcionários que tenham contrato de trabalho com empresa canadense. Antes, se a companhia comprovasse a necessidade de um imigrante para uma vaga específica, o candidato recebia mais pontos - hoje, não mais.

Agora, Nina pretende aumentar a pontuação da família pelo fato de seu marido falar francês, algo valorizado no país. 'Ele já fez a prova de idioma três vezes, mas sempre deixam uma das notas dele 1 décimo abaixo do que ele precisaria para a média necessária para imigração. Continuamos na luta para atingir a nota, investindo bastante dinheiro, já que cada prova custa em média US$ 400, e torcendo para a nota de corte do programa não subir muito até lá', conta.

As restrições à imigração no Canadá começaram em 2024, quando o governo restringiu os vistos de estudante. Foi fixado um limite de emissão desses vistos para estabilizar a entrada no país dentro de 2 anos.

Com menos vistos, reduziu-se também o número de convites para a residência permanente, o que fez com que a pontuação mínima para conseguir a residência subisse muito.

Estadão Conteúdo e Correio do Povo

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