segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

Hamas denuncia proposta de Trump de “limpar” a Faixa de Gaza

 Bassem Naim, membro do gabinete político do Hamas, afirmou que os palestinos "frustrarão" a proposta de Trump



O Hamas e o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, denunciaram neste domingo, 26, a proposta do americano Donald Trump de "limpar" a Faixa de Gaza e transferir seus habitantes para o Egito e a Jordânia. O ministro de extrema direita do governo israelense Bezalel Smotrich disse, no entanto, que essa era uma "excelente ideia", e que os palestinos poderiam "estabelecer novas e boas vidas em outros lugares".

Após mais de 15 meses de conflito na Faixa de Gaza, um cessar-fogo teve início no último dia 19. Trump comparou a Faixa de Gaza, devastada pela guerra e imersa em uma severa crise humanitária, a um "lugar de destruição", e afirmou ter conversado com o rei Abdullah II da Jordânia e que esperava falar com o presidente egípcio Abdel Fatah al Sissi.

"Estamos falando de 1,5 milhão de pessoas, e simplesmente limparemos tudo isso. Ao longo dos séculos, houve muitos, muitos conflitos naquele local e, não sei, algo precisa acontecer", disse Trump a bordo do avião presidencial. "Gostaria que o Egito levasse as pessoas e gostaria que a Jordânia levasse as pessoas", sugerindo que a medida poderia ser "temporária ou de longo prazo".

Em reação às declarações de Trump, o ministro das Relações Exteriores da Jordânia, Ayman Safadi, reiterou a rejeição de seu país à proposta. "Nossa rejeição ao deslocamento dos palestinos é firme e não mudará. A Jordânia é para os jordanianos e a Palestina é para os palestinos", disse o chanceler.

Seu colega do Egito reiterou "o apoio constante" do país à permanência "do povo palestino em sua terra", e criticou "tudo o que afete os seus direitos inalienáveis, colonização, anexação de terras, despovoamento por deslocamento ou promover a transferência dos palestinos de seu território, seja temporária ou permanente".

A Liga Árabe criticou "as tentativas constantes de tirar os palestinos da sua terra". "O deslocamento forçado e a expulsão de pessoas de sua terra só podem ser chamados de limpeza étnica", manifestou o secretariado-geral da organização.

"Crimes de guerra"

De acordo com Bassem Naim, membro do gabinete político do Hamas, os palestinos "frustrarão" a proposta americana. "Assim como eles frustraram todos os planos de deslocamento e terras alternativas por décadas, nosso povo também frustrará tais projetos", afirmou.

A Jihad Islâmica considerou que a proposta de Trump "alimenta crimes de guerra". "Essa proposta é enquadrada como incentivo a crimes de guerra e crimes contra a humanidade, ao forçar o nosso povo a deixar sua terra", onde a maioria dos 2,4 milhões de habitantes foi repetidamente deslocada pela guerra.

Mahmoud Abbas, rival do Hamas, movimento que assumiu o poder na Faixa de Gaza em 2007 e expulsou a Autoridade Palestina, condenou "qualquer projeto" de deslocamento dos habitantes de Gaza. Trump também anunciou que vai autorizar a entrega de bombas de 900 quilos a Israel, uma medida que foi suspensa pelo seu antecessor, Joe Biden.

A medida foi saudada por Netanyahu, que agradeceu a Trump em uma mensagem de vídeo por "manter sua promessa de dar a Israel as ferramentas necessárias para se defender, derrotar nossos inimigos comuns e garantir um futuro de paz e prosperidade".

O ministro israelense das Relações Exteriores, Gideon Saar, também saudou esta "nova demonstração das qualidades de liderança" do presidente americano, dizendo que "a região é mais segura quando Israel tem o que precisa para se defender". Trump pressionou as partes em conflito para concluir o acordo de cessar-fogo que entrou em vigor no último domingo, com uma primeira troca de três reféns israelenses, que receberam alta do hospital neste domingo, por 90 prisioneiros palestinos.

Trégua em três fases

O ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro deixou 1.210 mortos do lado israelense, a maioria civis, de acordo com uma contagem baseada em dados oficiais. Um total de 251 pessoas foram sequestradas naquele dia. Destas, 87 seguem mantidas como reféns, das quais 34 foram mortas, de acordo com o Exército.

A ofensiva de represália de Israel na Faixa de Gaza deixou pelo menos 47.306 mortos, a maioria civis, além de 111.483 feridos, de acordo com novo balanço do Ministério da Saúde do Hamas divulgado neste domingo. A primeira fase do acordo de cessar-fogo deve durar seis semanas e permitirá a libertação de um total de 33 reféns contra cerca de 1.900 prisioneiros palestinos.

Nesta etapa inicial, planeja-se negociar as modalidades da segunda fase, que deve permitir a libertação dos últimos reféns, antes da última, que prevê iniciar o processo de reconstrução de Gaza e o retorno dos corpos dos reféns que morreram em cativeiro. No sábado, um desentendimento de última hora não permitiu que centenas de milhares de residentes começassem a retornar ao norte de Gaza, conforme planejado. Israel justificou sua recusa em deixá-los passar acusando o Hamas de violar o acordo ao não libertar Arbel Yahud, uma civil israelense.

O Hamas afirma que ela está viva e que a acusação de Israel é um "pretexto" para o não cumprimento do acordo. Duas fontes palestinas disseram à AFP que Yahud será libertada em questão de dias, possivelmente na sexta-feira.

AFP e Correio do Povo

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