Avanço da doença, inclusive em países fornecedores, favorece oferta nacional da proteína, com possibilidade de ampliar bons resultados de 2024
Depois de encerrar 2024 com crescimento de 3% no volume das exportações de carne de frango, o Brasil poderá registrar novo aumento nos embarques no decorrer de 2025 em razão do avanço dos casos de influenza aviária mundo afora. A previsão, sem “celebrar a desgraça alheia”, é do presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin. De acordo com o dirigente, há possibilidade de o Brasil complementar a produção e exportação de outras nações que hoje enfrentam a patologia.
“É natural que, havendo um aumento, como temos hoje, de casos em Portugal, França, Alemanha, Itália, Inglaterra, Ucrânia, Polônia e Estados Unidos, o Brasil seja chamado a exportar mais”, disse Santin, salientando que alguns desses países desempenham papel importante no abastecimento do mercado mundial.
“A Polônia é uma grande exportadora. A França é exportadora. Lá, aves foram vacinadas e, mesmo assim, infectadas pela influenza aviária”, acrescentou. No final de dezembro, no Japão, houve a confirmação do 19º surto da gripe aviária, que resultou no abate de cerca de 50 mil frangos.
Santin destaca a sanidade atingida pelo Brasil e pelo continente em relação à patologia.
“Só temos (casos de gripe aviária) em aves silvestres e de fundo de quintal”, diz o presidente da ABPA.
De acordo com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), entre 2022 e 2024 foram realizadas 3.662 investigações para avaliar possíveis focos de gripe aviária no país, com 1.014 amostras coletadas. No total, foram identificados 166 focos, todos relacionados a aves silvestres ou de subsistências e mamíferos silvestres (leões marinhos). Dos resultados positivos, seis ocorreram no Rio Grande do Sul.
O único caso que atingiu aves de destinação comercial ocorreu em julho do ano passado, em um aviário em Anta Gorda, no Vale do Taquari, com animais contaminados pela Doença de Newcastle. Em outubro, 90 dias depois de exterminado o foco, a Organização Mundial de Saúde Animal reconheceu o fim do surto no Brasil.
“Não é à toa que crescemos mais de 3% (em 2024, na comparação com 2023) no volume de exportação de carne de frango. Agora, as primeiras parciais do ano mostram que a manutenção de médias acima de 400 mil toneladas por mês deve acontecer em janeiro, começando do ano de uma maneira bem positiva”, comemora Santin.
Mais grave
Os Estados Unidos enfrentam a crise mais grave. No último fim de semana, o estado da Geórgia e o Serviço de Inspeção de Saúde Animal e Vegetal do Departamento de Agricultura do país confirmaram um diagnóstico positivo de gripe aviária em operação comercial. Foi a primeira vez que isso ocorreu desde o início do surto nos EUA, em 2022, informou uma autoridade de agricultura da Geórgia, conforme a Agência Estado. A Geórgia se destaca como umas das principais regiões dos Estados Unidos na produção de carne de frango e de ovos.
No dia 6 de janeiro, o estado da Louisiana registrou a primeira morte humana associada ao vírus H5N1 desde que a gripe aviária começou a se alastrar pelo planeta, em 2020. A vítima foi um homem com mais de 65 anos, que sofria de outras doenças, segundo informou a Agência Estado.
O presidente da ABPA explicou que os Estados Unidos trabalham com os mesmos aparatos e utilizam as mesmas técnicas adotadas no Brasil para combater a doença. Há uma diferente importante, no entanto, em relação à captação de águas.
“Lá tem algo que evitamos no Brasil, que é buscar água em lagos abertos. Temos de pegar água só de locais enclausurados, poços fechados onde não há possibilidade de uma ave silvestre infectada ter acesso. Ela deixa o vírus num receptáculo de água, que depois é dividido com aves industriais. Nos Estados Unidos, isso é mais comum”, afirma Santin.
Correio do Povo
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