sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Bloqueador de sinal: equipamento usado para “desligar” caixas de som na praia é ilegal no Brasil

 Turista argentino viralizou nas redes ao “desligar” diversas caixas de som na praia ao apertar um botão


O vídeo em que um turista argentino “desliga” o som de todas as caixas de som próximas a ele em uma praia brasileira viralizou nas redes sociais nos últimos dias. Acontece que o uso deste tipo de bloqueador de sinal eletrônico é ilegal no Brasil, e tem histórico de estar associado a crimes como o roubo de carga. Especialista entrevistado pelo Correio do Povo explica como o aparelho funciona e por que pode ser pergoso.


Como o bloqueador funciona?

Conhecido internacionalmente como Jammer, este tipo de dispositivo não desliga as caixas de som próximas, mas interrompe a ligação bluetooth (sem fio) entre o celular que processa e a caixa de som que toca a música.

“Essa interferência ocorre porque ele emite um sinal muito forte na mesma frequência do bluetooth, gerando um ruído, que impossibilita que o aparelho celular que emite a música seja compreendido pela caixa de som para que toque a música recebida. Na ausência de comunicação, a caixa fica muda”, explica Thiago Ayub, diretor de tecnologia na Sage Networks.

Ayub faz uma analogia com uma conversa entre duas pessoas: “Imaginemos duas pessoas conversando em tom normal de voz. Elas se escutam e se entendem mutuamente. Agora, ao lado delas, liguemos um paredão de caixas de som, desses típicos usados em um show feito em grandes estádios. Essas duas pessoas não se entenderão mais, a comunicação é interrompida”, compara.

Além da música, contudo, a interferência causada pelo aparelho é generalizada, ou seja, tudo que utiliza a mesma frequência para comunicação pode parar de funcionar, não podendo o usuário escolher no que interferir.

Portão de garagem acionado por controle remoto, telefone sem fio, câmeras de monitoramento e principalmente o WiFi (a internet sem fio), são alguns dos recursos que podem ser bloqueados.

Histórico de uso no crime

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul apreendeu Jammer em pelo menos cinco ocorrências nos últimos quatro anos. Todos os casos tinham relação com o uso deste tipo de aparelho por quadrilhas que praticavam roubo de carga. Segundo a corporação, os bandidos usam das características de interferência e bloqueio no sinal dos localizadores presentes nos caminhões que transportam cargas de alto valor.

A Polícia Civil não confirmou, no entanto, se existem apreensões deste tipo de aparelho no litoral gaúcho e com uso relacionado ao bloqueio de caixas de som.

Qualquer dispositivo jammer é ilegal no Brasil desde 11 de setembro de 2002 pela Resolução Nº 308, da Agência Nacional De Telecomunicações (Anatel). Por entender que o uso deste tipo de equipamento era muito restrito, o tema voltou a ser discutido pela agência em 2021, mas sem resultar em grandes alterações para o usuário comum.

Uso em penitenciárias

Os Jammers não são usados apenas pelo crime ou por quem quer sossego no litoral. Em novembro de 2024, o governo do Estado do Rio Grande do Sul, por meio da Secretaria de Sistemas Penal e Socioeducativo (SSPS), deu início ao funcionamento de um sistema de bloqueadores de sinais de celulares e de wi-fi na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc). Ao todo, 23 unidades prisionais gaúchas receberão esses equipamentos.

Segundo o governo, o objetivo da instalação deste tipo de equipamento é evitar a comunicação entre lideranças e integrantes de grupos criminosos. As instalações dos bloqueadores impedem as ordens para o cometimento de delitos, enfraquecendo, financeiramente, essas organizações.

Correio do Povo

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