domingo, 8 de dezembro de 2024

PDT-RS projeta encruzilhadas do partido para próximos anos em seminário

 Debates analisaram rumo ideológico do partido, choque de gerações e preparação para o novo ciclo eleitoral, mirando o pleito geral de 2026



As eleições terminam e seus reflexos passam a ser imediatamente observados. Após conhecidos os resultados das urnas no pleito municipal deste ano, o PDT gaúcho convocou um seminário, realizado entre a sexta-feira e este sábado, para refletir sobre o desempenho nas disputas por câmaras e prefeitura e sobre o futuro do partido.

Na Câmara Municipal de Porto Alegre, os principais quadros da sigla no Estado participaram de uma imersão no presente e na história pedetista, com várias reuniões em eixos temáticos considerados prioritários, para iniciar um novo ciclo após as eleições.

Dentre os eixos que conduziram o seminário, estão ampliação da base partidária; comunicação e estratégia; política de alianças e reforma partidária; finanças partidárias; e planejamento e organização partidária.

O pano de fundo desses debates, porém, foi o rumo ideológico do PDT, o choque de gerações que ocorre internamente na legenda e a preparação para o novo ciclo eleitoral, mirando o pleito geral de 2026.


Trabalhismo de centro

O PDT caminha rumo ao centro, buscando se afastar dos polos ideológicos e se reconectar com o trabalhismo. Lideranças do partido entendem que os campos da direita e da esquerda já estão “ocupados” e que o grande vencedor das eleições 2024 foi o centro.

O debate ideológico também envolve um choque geracional. Novos quadros da juventude do partido tomaram a fala durante o seminário para cobrar posições mais claras do PDT em temas nacionais, bem como para criticar alianças com o PL de Jair Bolsonaro, mas também com o PT de Lula.

Evitar ser “puxadinho da extrema-direita” ou “puxadinho do PT” foram expressões que se repetiram ao longo das manifestações.

“Os jovens estão muito mais ligados ao trabalhismo antigo, às vezes, do que os próprios (quadros) mais antigos”, reflete Romildo Bolzan Júnior, presidente estadual recém eleito para voltar à prefeitura de Osório.

“O partido é de centro-esquerda. Ocasionalmente há a necessidade de alianças. Mas o partido tem um legado trabalhista de centro-esquerda. Se há uma corrente política em todos os segmentos políticos do Brasil, é o trabalhismo. Acho que o termo correto seria humanista”, discorreu.

“Essa polarização prejudica: 58% do povo brasileiro não quer nem Lula, nem Bolsonaro. Temos que caminhar com uma política de alianças com o centro, porque a esquerda está ocupada e a direita também. Temos que compor com o centro, que foi o grande vencedor da eleição”, afirmou o secretário Gilmar Sossella, titular da pasta do Trabalho no governo Eduardo Leite (PSDB).

O PDT também faz parte do governo Lula, a nível nacional, e conta com alianças com o PL em alguns municípios gaúchos. Questionado se não faltaria maior clareza ideológico, Romildo afirma que “Estar no governo Leite não quer dizer nada. Estar no governo do PT não quer dizer nada. O que importa são os legados”.

Ao se posicionar contrário à escala de trabalho 6x1, e ressaltando que é autor da proposta para uma escala 5x2, o deputado federal Pompeo de Mattos reflete: “Como dia Alberto Pasqualini, trabalho e capital são como irmãos siameses: um não vive sem o outro. Eu digo que trabalho e capital são da mesma família. O trabalho é o pai, que vem primeiro, e o capital é o filho”

Para ele, o choque de gerações é natural. “Em toda a sociedade (está havendo choque de gerações). É natural. Esses embates nos fortalecem”, opina.

Em 2026, foco será nas proporcionais

O foco do partido nas eleições de 2026 devem ser as eleições para a Assembleia Legislativa e a Câmara dos Deputados. O PDT busca manter a base em Brasília e tem meta ambiciosa para o Legislativo estadual.

“Nosso foco é fazer a melhor nominata de deputados estaduais e federais da história do PDT, para voltarmos a eleger três deputados federais e sete ou oito deputados estaduais. É possível. Se nesse contexto, surgir um nome projeto, vamos analisar”, projetou Pompeo de Mattos.

“Tenho a impressão que toda a estratégia partidária está voltada para a formação de uma grande participação em chapas proporcionais”, corroborou Bolzan.

Sossella vê o cenário eleitoral com candidaturas postas. “Temos que reforçar nossas candidaturas de deputado estadual e federal. O quadro já está muito claro na majoritária do RS. Já temos uma candidatura de direita, uma de esquerda e uma de centro. Será que tem espaço para uma quarta candidatura?”, questiona o secretário.

Internamente, há a tendência de o PDT integrar uma coalizão de centro que buscará a sucessão do governador Eduardo Leite (PSDB).

Um dos pontos sensíveis para 2026 é a cláusula de barreira, fator que determina acesso a recursos partidários e eleitorais, tempo de propaganda e presença em dentes em eleições, dentre outras questões.

Porto Alegre deve ter eleições em 2025

Não há executiva constituída do partido em Porto Alegre, onde hoje o PDT atua com uma comissão provisória. A projeção é de que, em 2025, possa haver realização de eleições internas para a definição de um presidente municipal.

“Nossa ideia é organizar a base partidária municipal a partir de convenções. Onde não tem, forçar a barra para que o partido se organize. Aqui em Porto Alegre, inclusive, faz parte da agenda do ano que vem fazer eleições para a executiva municipal”, explica Bolzan.

O PDT porto-alegrense foi assunto nesta semana, quando o vereador Márcio Bins Ely ensaiou movimento para a legenda ingressar no governo Sebastião Melo (MDB) e provocou reações internas.

Romildo avaliará permanência

Romildo Bolzan avaliará sua permanência na presidência estadual do PDT. A partir de 1º de janeiro de 2025, será prefeito de Osório. A depender das demandas do município, poderá ter que deixar o cargo.

“Vou examinar, na medida das dificuldades lá. Se uma situação ou outra ficar prejudicada, vou abrir mão da presidência”, afirmou.

Ele já foi presidente estadual do PDT ao mesmo tempo do que prefeito de Osório, mas argumenta que, à época, tinha um partido mais estruturado.

Correio do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário