sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Longevidade humana extrema em algumas áreas do planeta é uma farsa, diz cientista

 Saul Justin Newman descobriu que os supercentenários tendem a vir de áreas com problemas de saúde, elevados níveis de pobreza e registros deficientes de dados

A maior parte do que sabemos sobre os seres humanos que atingem idades muito avançadas baseia-se em dados falhos, incluindo a ciência por trás das "zonas azuis", famosas por terem uma elevada proporção de pessoas com mais de 100 anos. A declaração é do pesquisador Saul Justin Newman, da University College London. A península de Nicoya, na Costa Rica, ou a ilha da Sardenha, no Mediterrâneo, são algumas dessas "zonas azuis".

O desejo de viver o maior tempo possível alimentou uma próspera indústria de suplementos alimentares, livros, tecnologia e conselhos para aqueles que querem aprender os segredos das pessoas mais velhas do mundo.

Dados "inúteis"

No entanto, Newman disse que a maioria dos dados sobre idades extremamente avançadas "são inúteis". A pesquisa de Newman, atualmente sob revisão por outros cientistas, analisou dados sobre centenários e supercentenários - que vivem até os 100 e 110 anos - nos Estados Unidos, Itália, Inglaterra, França e Japão.

Ao contrário do que se poderia esperar, ele descobriu que os supercentenários tendem a vir de áreas com problemas de saúde, elevados níveis de pobreza e registros deficientes de dados.

O verdadeiro segredo para a longevidade extrema parece ser "mudar-se para onde as certidões de nascimento são raras, ensinar seus filhos a fraudar aposentadorias e começar a mentir", disse Newman ao receber o Prêmio Ig Nobel, uma versão humorística do Nobel em setembro.

Um exemplo é Sogen Kato, considerada a pessoa mais velha do Japão até que seus restos mumificados foram descobertos em 2010. Havia morrido em 1978. Sua família foi acusada por manter sua aposentadoria por três décadas. O governo decidiu abrir uma investigação que revelou que 82% dos centenários do Japão - cerca de 230 mil pessoas - estavam desaparecidos ou mortos.

"Os documentos deles estão em ordem, eles simplesmente estão mortos", disse Newman. "Em 2008, descobriu-se que 42% dos costarriquenhos com mais de 99 anos tinham "relatado incorretamente" sua idade no censo de 2000", explica o relatório. "Após uma correção parcial dos erros, a zona azul de Nicoya foi reduzida em aproximadamente 90% e a esperança de vida na velhice caiu de líder mundial para "perto do fim da lista"", acrescenta.

Vivos apenas para cobrar

O termo "zona azul" foi usado pela primeira vez em 2004 por pesquisadores referindo-se à ilha italiana da Sardenha. No ano seguinte, o repórter da National Geographic Dan Buettner escreveu uma matéria na qual acrescentava as ilhas japonesas de Okinawa e a cidade californiana de Loma Linda.

Buettner admitiu ao The New York Times em outubro que só incluiu Loma Linda porque seu editor lhe disse: "você tem que encontrar a zona azul nos Estados Unidos". O repórter se uniu a alguns demógrafos para criar a marca de estilo de vida "Blue Zone", e acrescentaram à lista a Península de Nicoya, na Costa Rica, e a ilha grega de Icária.

O pesquisador descobriu dados de 2012 que sugeriam que 72% dos centenários da Grécia estavam mortos ou eram imaginários. "Eles só estarão vivos no dia em que a aposentadoria for recebida", disse Newman.

Vários pesquisadores renomados escreveram uma nota de repúdio no início deste ano, chamando o trabalho de Newman de "ética e academicamente irresponsável". Acusaram Newman de se referir a regiões mais amplas do Japão e da Sardenha, quando na verdade as zonas azuis são áreas menores. Os demógrafos também enfatizaram que "confirmaram meticulosamente" as idades dos supercentenários nas zonas azuis, verificando registros históricos e censos que datam do século XIX.

Newman disse que esse argumento ilustrava seu ponto de vista. "Se você começar com uma certidão de nascimento incorreta, ela será copiada para tudo e você obterá registros perfeitamente consistentes, mas perfeitamente errados", disse ele.

Um relógio para medir a idade

Steve Horvath, pesquisador da Universidade da Califórnia, disse à AFP que criou uma nova técnica chamada relógio do DNA "com o propósito expresso de confirmar alegações de longevidade excepcional". O relógio pode "detectar com segurança casos de fraude grave", como quando um filho assume a identidade dos pais. Mas ainda não consegue diferenciar entre quem tem 115 e 120 anos, explicou.


AFP e Correio do Povo

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