Gaúcho com história de luta pela reforma agrária foi condecorado em nome do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra recebeu homenagem, que completa 40 anos
Após polêmicas, o líder e um dos fundadores do Movimento dos trabalhadores rurais Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, recebeu a máxima honraria da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul: a Medalha do Mérito Farroupilha.
Pressões de setores de direita do Parlamento gaúcho não foram suficientes para barrar a cerimônia, que ocorreu na sede do Legislativo, em Porto Alegre, no final da tarde desta segunda-feira.
O evento contou com a presença de deputados estaduais e federais gaúchos, além de centenas de assentados e acampados do MST, dentro e fora da Casa: quem não pôde ingressar, por limitação de espaço, acompanhou em um telão voltado para a Praça da Matriz.
Tanto Stédile quanto o autor da proposta de homenagem, o deputado Adão Pretto Filho (PT), fizeram questão de destacar que, apesar de individual, a honraria é destinada ao MST, que completa 40 anos em 2024.
“São 10 anos que o MST é o maior produtor de arroz agroecológico da América Latina, produto sem agrotóxico, preservando a natureza. Nessa emergência climática, era o MST que estava lá, na linha de frente, para acabar com a fome com as cozinhas solidárias”, enalteceu o parlamentar.
Stédile foi além e dedicou a medalha a todos os líderes e movimentos populares desde Sepé Tiaraju, guerreiro guarani morto em 1756 e símbolo da resistência dos povos originários. Afinal, como afirmou durante discurso de cerca de 45 minutos, a reforma agrária clássica, dos camponeses, já é inviável.
“A reforma agrária clássica, que era o sonho de João Goulart (ex-presidente deposto pelo golpe militar de 1964) e Leonel Brizola (ex-governador gaúcho), já é inviável. Nela, havia necessidade de que a burguesia industrial fosse parceira. E ela não quis. Agora vamos para uma outra formulação que chamamos de reforma agrária popular, que necessariamente tem que atender aos interesses de todo o povo. Não é mais camponesa. Essa ficou de fato para o passado. A reforma agrária popular altera os paradigmas e visão de mundo. Não basta produzir alimentos, precisa ser zelador da natureza e evitar as mudanças climáticas” discursou.
Questionado pelo Correio do Povo, ao término do evento, se algum nível de reforma agrária poderia partir do Palácio do Planalto neste terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse não acreditar.
“As reformas agrárias do mundo foram feitos com a conjugação de vários fatores. Um é um governo popular. Infelizmente, o governo Lula é de frente ampla para derrotar os fascistas. Não tem unidade de correlação de forças para ser um governo popular. Digo como análise, não crítica. Independe, inclusive, da vontade de Lula”, lamentou.
“Outro fator é que é necessário ter um grande movimento de mobilização de massas, que não temos no Brasil. Foi por pouco que os fascistas não deram um golpe no dia 8 de janeiro. Onde estava o povo diante da ameaça de golpe? Estava em casa vendo pela televisão”, seguiu.
Além dos 40 anos do MST, a honraria acontece também na semana em que o ex-deputado Adão Pretto, pai de Adão Pretto Filho, completaria 79 anos. O ato ocorreu no Salão Júlio de Castilhos, da Assembleia Legislativa, onde ele foi velado em 2009.
Correio do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário