Por André Burger
Há poucos dias a Sra. Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração da Magazine Luiza (Magalu), disse “Quem não gostar do Brasil, vá embora dele, mas quem ficar, por favor, pare de falar mal do Brasil”. Esta frase nos remete aos tempos da ditadura militar, período do general Médici, quando o refrão era “Brasil, ame-o ou deixe-o”. O significado é o mesmo, os descontentes devem sair. É um posicionamento típico de pessoas autoritárias querer banir aquelas com visões diferentes das suas e bastante comum em países de regimes autocráticos como Cuba e anteriormente a União Soviética. Nada muito diferente dos bolsonaristas quando diziam para os críticos do governo de Jair Bolsonaro se mudarem para a Venezuela. A visão da Sra. Trajano, e de todos que não admitem conviver com seus antagonistas, é o oposto da vida numa sociedade onde impera a lei e a tolerância. É um comportamento inverso ao que existe nas sociedades abertas conforme a concepção de Popper. Ficou clara a visão antidemocrática e intolerante dessa senhora. Não é de hoje que ela sugere banir os descontentes do Brasil. Em 2014, havia dito a um grupo de empresários que criticavam o governo Dilma: “Está tão ruim? Então vende o negócio e mude de país.”
Chama a atenção que a Sra. Trajano apareça durante os governos do PT para dar palpite sobre economia e política. Ela havia sido do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, nos dois primeiros governos Lula, foi íntima do governo Dilma, quando chegou a ser cotada para um ministério. Agora em Lula 3 voltou ao Conselhão. Defendeu durante os governos petistas as políticas de crédito fácil e apoio às campeãs nacionais que nos levaram, junto com as pedaladas fiscais, a pior recessão da história republicana, culminando com o impeachment da Dilma Rousseff, ao que a Sra. Trajano era contra. Em setembro deste ano, Lula a agraciou, junto com a primeira-dama, Janja, com a medalha de Mérito Osvaldo Cruz pela contribuição à saúde pública, apesar de se desconhecer o que ambas tenham feito pela causa. Interessante que na sua única manifestação pública sobre a Operação Lava-Jato a considerou como inevitável, mas seguiu apoiando Lula.
Ao mesmo tempo que tem um discurso patriótico, a Sra. Trajano sempre esteve próxima dos governos do PT, o que beneficiou a Magazine Luiza com financiamentos subsidiados do BNDES. Mais recentemente, ela foi das fortes defensoras da tributação das importações diretas pela internet, que ficou conhecida como taxação das blusinhas, até fechar um acordo com a chinesa Ali Express. Ambas as atitudes a colocam no nem tão restrito grupo de empresários brasileiros que adoram um apoio governamental para fazer seus negócios prosperarem.
Seus palpites econômicos costumeiramente estão alinhados a discursos desenvolvimentistas, seja professando a ampliação do crédito, seja fazendo coro contra os juros altos. Apesar de competente comerciante, a Sra. Trajano não sabe, ou finge não saber, que crédito governamental fácil impacta o gasto público e que a taxa de juros é um preço e, portanto, alterá-lo artificialmente leva a más alocações econômicas. Foi famosa sua interpelação ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em agosto de 2023, cobrando uma forte queda na taxa de juros, pois a seu ver a inflação estava controlada e não via motivos para manter, na época, a taxa SELIC em 13,75% ao ano. Como sofremos as consequências dessas intervenções no mercado do segundo governo Dilma, as críticas da Sra. Trajano aos juros altos são apenas ressonância do discurso oficial. Em nenhum momento ela se posicionou pela redução do endividamento público ou pela diminuição do tamanho do estado, as verdadeiras causas das altas taxas de juros praticadas no Brasil.
Ao invés de palpitar sobre o que parece não entender, melhor seria que, como presidente do conselho de administração da Magazine Luiza, se preocupasse mais com a empresa. Se olharmos o desempenho da Magalu (MGLU3) na Bolsa veremos que os acionistas não devem estar nada satisfeitos. Sua ação chegou a valer R$ 255,70 em novembro de 2020, o equivalente a U$ 46,62 e hoje (27.12.2024) está cotada a R$ 6,42, ou U$ 1,04. Uma perda significativa de valor para todos que aportaram suas poupanças na empresa acreditando na capacidade de gestão da Sra. Trajano e seu filho, atual CEO da Magazine Luiza.
Apesar da Sra. Luiza Helena Trajano ter aparecido na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo segundo a revista Time, em 2021, seria bom se ela lembrasse a frase de Lewis Carroll no livro Alice no País das Maravilhas: "If everybody minded their own business, the world would go around a great deal faster than it does."
Pontocritico.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário