Ao longo dos últimos anos, o Brasil tem visto a sua relevância encolher entre os países emergentes como destino de investimentos internacionais. Gestores de recursos têm redirecionado sua atenção para a Ásia, em especial Índia e Taiwan. Um termômetro que aponta para essa perda de relevância do Brasil é o índice Morgan Stanley Capital International (MSCI) Emerging Markets (mercados emergentes), que vem caindo consistentemente. No último rebalanceamento do índice, em novembro, a participação do Brasil foi de 4,5%. No auge, no fim de 2009, o País chegou a responder por 16,3%.
Composto por papéis de companhias de 24 países, o MSCI serve de referência na estratégia de alocação de recursos para investidores, gestores de ativos e tomadores de decisão financeira em todo o mundo. Na prática, a queda da representatividade no índice significa redução do potencial de receber investimentos (o que o Brasil não pode prescindir), explica Michel Frankfurt, chefe da corretora de ações do Scotiabank.
O MSCI de mercados emergentes é construído com base no valor de mercado das empresas ajustado pela quantidade de ações disponíveis para os investidores comprarem. Os papéis de companhias de países com controle de capital, como é o caso da Argentina, não são contabilizados. Da América Latina, México, Chile, Peru e Colômbia fazem parte do índice.
O Brasil ainda é a quinta economia com mais relevância na composição do índice de emergentes. No rebalanceamento de novembro, a China seguia na liderança com 26,99%, seguida por Índia (19,93%), Taiwan (18,88%) e Coreia do Sul (9,73%).
“O Brasil tem corrido o risco de ser mais ignorado pelos investidores globais. Quando (essa participação) chega próximo de 4%, se transforma num tamanho em que o investidor já começa a poder deixar (o país) de lado, não precisa prestar tanto atenção e ter times dedicados para olhar o mercado”, diz Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP Investimentos.
Assim como a brasileira, a economia chinesa já teve uma representatividade maior – já alcançou 40%. No início dos anos 2000, o gigante asiático chegou a crescer acima de dois dígitos por vários anos, impulsionando a atividade econômica global. Hoje, porém, tem dificuldade para entregar a meta de crescimento de 5%.
A Índia tem se beneficiado de um crescimento consistente. Os dados mais recentes do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que a economia indiana deve crescer 7% em 2024 e manter um ritmo de alta do Produto Interno Bruto (PIB) de 6,5% nos próximos cinco anos. Em 2011, a relevância indiana no índice de emergentes era de aproximadamente 6%. Até 2020, sua participação não chegava a 10%. E Taiwan, outro polo de atração de capitais, se destaca pelo fortalecimento das companhias de tecnologia.
Queda do Brasil
A perda de participação brasileira foi influenciada tanto por fatores externos quanto internos.
No lado externo, o menor crescimento da China contribuiu para uma queda do patamar dos preços das commodities em relação ao pico registrado na virada da década passada. O Brasil é um grande exportador de produtos básicos, como soja, petróleo e minério de ferro. Portanto, o comportamento do valor das commodities sempre tem um impacto na Bolsa de valores brasileira e no câmbio.
“O crescimento do Brasil para o seu pico foi resultado do boom das commodities, que reforçou o avanço da Bolsa brasileira e também o câmbio nesse período”, diz José Maria da Silva, coordenador de alocação e inteligência na corretora Avenue. “A reversão desse ciclo levou, consequentemente, à queda da Bolsa e à desvalorização cambial, que impactaram o peso do Brasil (no índice).”
Como fator interno, há uma grande incerteza com relação às contas públicas do País. E essa dúvida só cresceu depois da apresentação do pacote de contenção de gastos e do projeto de isenção do Imposto de Renda para as pessoas que ganham até R$ 5 mil. As medidas foram consideradas aquém do que o País precisa para controlar o aumento da dívida pública.
Além disso, o País pode ter uma perda bilionária na arrecadação com a mudança no IR, embora a equipe econômica tenha apontado a taxação de brasileiros que ganham mais de R$ 50 mil por mês como uma contrapartida.
O grande nó é que a leitura do pacote fiscal também foi política, e a avaliação é a de que a equipe econômica saiu derrotada com o projeto de isenção de IR num momento em que o Brasil precisa de um ajuste das contas públicas para garantir a sobrevivência do arcabouço fiscal e impedir o crescimento do endividamento – considerado alto para uma economia emergente. (Estadão Conteúdo)
O Sul
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