segunda-feira, 4 de novembro de 2024

Seis meses após a maior enchente do RS: desafios da reconstrução

 Porto Alegre e municípios do Estado ainda convivem com vestígios da maior tragédia climática do Rio Grande do Sul


Por Rodrigo Thiel

Seis meses. Há 180 dias, na manhã de 3 de maio, o Rio Grande do Sul amanhecia para aquele que seria um dos dias mais terríveis de sua história. A água, tão essencial para a vida, tomou conta de casas, empresas e espaços públicos. Passado todo esse período, ainda há a necessidade de reinvenção e de reconstrução para que vidas voltem ao normal no Estado. Em Porto Alegre, enquanto é celebrado o retorno de estruturas como o Trensurb e o Aeroporto Salgado Filho, empresários locais comemoram aos poucos a possibilidade de voltar a atuar no mercado.

Um destes casos é o do veterinário Alexandre Pezzi, de 59 anos, que viu sua clínica, localizada há mais de duas décadas na avenida A. J. Renner, no bairro Humaitá, ser destruída pela água no dia 3 de maio. Junto com a esposa, Jaqueline Pezzi, de 58 anos, ele decidiu se reinventar para voltar a atender. Ainda em junho, o casal adquiriu uma van e, após reformas e adequações, está desde o início de outubro realizando consultas e procedimentos de forma móvel, tanto no Humaitá como em outros bairros da Zona Norte da Capital.

Moradores de Alvorada, o casal viu sua única fonte de renda e a grande parte da sua clientela ser afetada pela cheia. “Estávamos ali há mais de 25 anos. Hoje tu passa pelo Humaitá e Farrapos e vê casas onde as pessoas não voltaram. Muita gente perdeu tudo, inclusive seus bichos. Então essas pessoas também precisam se refazer, comprar móveis novos. E aí que surgiu a ideia do atendimento móvel, podendo atuar não só naquela região”, relatou o veterinário e empresário.

No consultório móvel, Alexandre e Jaqueline realizam coletas de materiais para laboratórios, consultas, vacinas, serviços de imagem, ultrassom e muitos procedimentos. Entretanto, Pezzi reforça que a van é um suporte para o serviço prestado. “O atendimento mesmo é feito mesmo dentro da residência dos clientes. Mas aqui eu tenho tudo, como medicamentos e materiais especiais de laboratório. Cheguei a atender de carro, mas tinham limitações. E estamos até nos surpreendendo com a aceitação da van. Muita gente nos procura. Sou formado há 35 anos. Eu sou veterinário, não sei fazer outra coisa. Então isso foi uma reinvenção do meu próprio negócio”, completou.

Para o casal, essa mudança nos rumos do negócio após a enchente ajudou inclusive a angariar novos clientes. “A gente já tinha um bom nome no mercado e as pessoas gostaram muito desse novo formato, pois a gente consegue atender a um nicho de pessoas que têm dificuldade de locomoção ou que têm cães grandes, que dificilmente conseguiriam levar o animal para o consultório. Com a van, a gente consegue dar um atendimento de qualidade para esse pet”, citou Pezzi.

“Já que a água levou tudo, esse foi o jeito que deu pra não parar de trabalhar. E está sendo extremamente divertido, pois as pessoas nos parar na sinaleira para tirar fotos. Foi a maneira que encontramos para recomeçar”, reforçou a esposa Jaqueline. Ela relembrou ainda que, durante a enchente, atuaram de forma voluntária no abrigo montado no Porto Seco, também na Zona Norte. Entretanto, ao retornarem à clínica, que era alugada, depararam-se com um cenário de tristeza.

“Só voltamos ao consultório no dia 27 de maio. Estava uma bagunça. Parecia que haviam ligado um liquidificador dentro. Tudo jogado pelos cantos. Livros da minha época de faculdade foram destruídos. Um deles era a primeira edição, de 1925. Não conseguimos reaproveitar nada da clínica. De lá, restaram os animais, que eram nossos e ficavam por lá. A gente conseguiu retornar no sábado, dia 4 de maio, e salvamos eles. Agora estão todos na nossa casa, em Alvorada”, finalizou o veterinário.

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Correio do Povo

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