Congressistas ligados ao setor consideram declarações insuficientes diante das críticas à qualidade da carne do Mercosul
Divulgada na manhã desta terça-feira, 26, a manifestação do Carrefour tentando atenuar a crise provocada pelo boicote e críticas à carne do Mercosul dividiu entidades do agronegócio nacional, mas foi rejeitada no Congresso. Parlamentares ligados ao setor consideraram a argumentação insuficiente diante de eventuais prejuízos causados à imagem da commoditie exportada para mais de 160 países.
Em carta enviada ao ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o CEO mundial do Carrefour, Alexandre Bompard, lamentou a confusão gerada com o agro brasileiro, reconheceu a qualidade da carne do país, mas não informou se o grupo vai retomar a compra de carnes do Mercosul pelas unidades francesas.
No dia 20, além de anunciar o boicote comercial às carnes provenientes de Argentina, Paraguai e Uruguai, Bompard colocou em dúvida a segurança sanitária da proteína.
“A carta do Carrefour foi muito fraca dado o estrago de imagem que o CEO do Carrefour produziu”, afirmou o presidente da Câmara dos Deputados, Artur Lira (PP-AL), depois de participar de reunião semanal da Frente Parlamentar da Agropecuária.
“Não adianta ele dar um tapa no rosto em público e pedir desculpa em particular”, disse o deputado Alceu Moreira (MDB-RS).
“Uma cartinha pedindo desculpa, muito mais para salvaguardar o interesse do bolso dos acionistas e do grupo deles do Brasil, não resolve o problema”, acrescentou Alceu Moreira.
Moreira confirmou que conversará com Lira, nesta quarta-feira, sobre a instalação de comissão externa da Câmara, com o objetivo de investigar a atuação do Carrefour no Brasil.
“Não podemos aceitar de bom grado a desculpa colocada pelo Carrefour francês. É uma desculpa protocolar e não responde de fato aos danos causados aos produtos brasileiros lá fora, apesar da importância pífia da França”, avaliou a senadora e ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina (PP-MS).
A senadora lembrou que convidou o embaixador francês, Emmanuel Lenain, a explicar posturas do país em relação ao agronegócio brasileiro na Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Ação internacional
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) anunciou que acionará o escritório de advocacia da entidade em Bruxelas (Bélgica) para avaliar a possibilidade de adotar medidas junto à União Europeia contra o Carrefour.
“Procuraram mostrar uma imagem de que a carne que estamos colocando na Europa não é uma carne de qualidade, não atende os padrões europeus. Isso não é verdade", disse o presidente da CNA, João Martins.
Martins salientou que “o Brasil se tornou o maior exportador do mundo. Não só atendemos Estados Unidos, Europa, Oriente Médio como também China e países asiáticos".
A ação da CNA seria dirigida também contra outras empresas que adotem embarguem produtos brasileiros sob falsa acusação.
“Diante dessa acusação, nos vimos obrigados a buscar nosso escritório em Bruxelas e nosso escritório de advocacia que nos atende em Bruxelas para entrar com as ações devidas para buscar esclarecimento da verdade”, detalhou o presidente da CNA.
O diretor de marketing da Associação Brasileira de Brangus, João Paulo Schneider da Silva, declarou estar “parcialmente satisfeito” com a nova mensagem de Bompard. Para João Paulo, os críticos europeus da agropecuária do Mercorsul deveriam ser obrigados a pesquisar sobre a produção de carnes no Brasil.
“Se eles [os europeus] quiserem parar de comprar não tem problema. Não vai haver um colapso na nossa economia. Mas começar a divulgar inverdades é o que dói. Deveriam ser condenados a dar uma aula sobre como se produz no Brasil”, sugere João Paulo Schneider.
Entre as entidades de representação do agro, a posição favorável à manifestação do Carrefour foi apresentada por Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
“Esperamos que, com isso, as operações da rede francesa sejam restabelecidas”, disse a Abiec em trecho de nota.
A ABPA afirmou haver recebido “positivamente a retratação” e que, junto com seus associados, considera “o tema encerrado”.
Oposição a acordo
O pano de fundo da crise envolvendo o Carrefour e, com menor repercussão, outras empresas francesas, como Danone e grupo sucroalcooleiro Tereos, está relacionado ao acordo comercial entre União Europeia e Mercosul.
Temendo a concorrência da agropecuária do bloco sul-americano, a França se uniu contra a possibilidade de assinatura do tratado. Toda a classe política francesa, da esquerda radical à extrema direita, manifestou oposição ao acordo que está sendo negociado, mas com nuances.
Nesta terça-feira, o governo reiterou sua “firme” oposição ao texto, enquanto prosseguem os protestos agrícolas.
“Toda a produção da França é subsidiada. Então, quando nossos produtos entram com competitividade, por meio de importações de países da União Europeia, prejudica demais os produtores locais. Não é fácil quando tu tens uma produção toda subsidiada e ainda assim não consegue competir. Aí começam a dizer que os produtos brasileiros não seguem as normas”, explica João Paulo.
Correio do Povo
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