Estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA) é que 70 mil novos casos sejam diagnosticados em 2025
Neste mês, o foco das campanhas de saúde está na prevenção ao câncer de próstata com as ações do Novembro Azul. Conforme o Instituto Nacional de Câncer (INCA), este é o segundo câncer mais comum entre os homens brasileiros, estando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. O INCA estima que cerca de 70 mil novos casos devem ser diagnosticados em 2025. Apesar do número, mais de 90% dos casos são curáveis quando diagnosticados precocemente.
Um dos especialistas no assunto no Rio Grande do Sul, o médico urologista Andrei Cardoso Centeno, explica que o surgimento de técnicas inovadoras nos últimos anos têm facilitado o tratamento de pacientes diagnosticados com câncer de próstata. Segundo o profissional, que é formado em Medicina pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel) e é membro das Europeia (EAU) e Brasileira (SBU) de Urologia, a área viveu uma “explosão de novas tecnologias”, principalmente relacionadas com o cuidado durante o tratamento.
“O exame de sangue (PSA) e o toque retal existem desde a década de 1990 e foram os primeiros exames que iniciaram esse período de investigação. Só que, nos últimos anos, vivemos um crescimento de novas técnicas. Eu cito a cirurgia robótica como uma das principais, impactando diretamente nos desfechos do tratamento”, contou.
Centeno detalhou que, neste tipo de procedimento, o cirurgião controla os braços do robô através de uma câmera e de um joystick (controle). “Desta forma, o profissional controla de uma forma muito precisa, eliminando o tremor e tendo uma visão aumentada em até 20 vezes. É possível usar instrumentos mais delicados, fazer movimentos suaves e, assim, preservar estruturas que são nobres, fazer reconstruções urinárias mais apuradas, facilitando o tratamento”, completou.
Outro avanço tecnológico destacado pelo médico está relacionado com o desenvolvimento de medicamentos que controlam o avanço do câncer, já com a doença espalhada. “Felizmente esses estudos são cada vez mais frequentes e mostram que mesmo o paciente que está com a doença espalhada consegue viver muitos anos e com uma qualidade de vida muito boa, coisa que há cerca de 10 anos não acontecia”, reforçou.
Enfrentamento do fator cultural
A busca pelo rastreamento e diagnóstico precoce do câncer de próstata no Brasil enfrenta tabus presentes na sociedade, especialmente entre os homens. Centeno, que é coordenador da Residência Médica de Urologia do Hospital São Lucas da PUCRS, aponta que o enfrentamento deste fator cultural é o principal desafio a ser superado.
“Os homens acabam não procurando tanta assistência preventiva. O habitual é procurar quando algum sintoma aparecer ou algum problema específico do trato urinário. E muitas vezes isso pode ser um pouco tardio para um diagnóstico e um tratamento curativo do câncer. Entretanto, quando diagnosticado no início acaba sendo bem efetivo, só que em algumas vezes o paciente tem uma jornada um pouco mais longa, principalmente via saúde pública. Neste caso, há ainda os desafios de acesso e de continuidade no tratamento”, contou.
Para ele, a melhor forma de enfrentamento deste tabu cultural relacionado com o câncer de próstata é a informação. “Acho que essa é a melhor forma de quebrar esse preconceito. É com a informação que a gente vai explicar de fato que o homem não vai deixar de ser menos homem por priorizar o cuidado com a sua saúde ao fazer o exame físico que eventualmente precise fazer, no caso, o toque da próstata. Trata-se de um exame básico e que tem um resultado bastante importante para a longevidade masculina”, reforçou.
Fatores de risco e a importância do rastreamento
Entre os principais sinais de alerta para que o homem tem para fazer rastreamento a partir de exames frequentes é a predisposição genética em função do histórico familiar. Centeno destaca que o paciente precisa atento não apenas para casos de câncer de próstata, mas também de outros tipos da doença. Além disso, ele aponta outros fatores de risco como tabagismo, a obesidade e etnia, pois o câncer de próstata é mais comum e mais agravado em negros.
“Pacientes que tem o pai ou o irmão, ou seja, familiar de primeiro grau com câncer de próstata também têm um fator de risco aumentado. Mais recentemente, nos últimos cinco anos, a gente sabe que quem tem histórico familiar de câncer de mama, câncer de pâncreas e câncer de ovário também pode conferir um risco aumentado e desenvolvimento de câncer de próstata. Ou seja, durante a consulta a gente aborda essas informações e isso acaba nos levando a fazer alguns rastreamentos um pouco mais intensivos”, contou.
A orientação é que homens a partir dos 45 anos procurem um urologista para realizar a prevenção e o rastreamento anual. Caso o homem possua histórico familiar, a investigação deve iniciar mais cedo, por volta dos 40 anos. O rastreio inclui a avaliação do exame PSA e pode incluir o toque de próstata. Entretanto, Centeno reforça que o rastreamento não previne o câncer, mas é essencial por auxiliar no diagnóstico precoce, evitando que o tumor se espalhe para outros órgãos.
Próstata, prevenção, sintomas e tratamento
A próstata, órgão onde o tumor pode se formar, é uma glândula presente nos homens próximo ao reto, abaixo da bexiga e que envolve a parte superior da uretra. Na fase inicial da doença, normalmente o câncer de próstata é assintomático. Quando apresenta, os mais comuns segundo o médico são dores na lombar, dificuldade em urinar, sangue na urina ou demora para começar e terminar de urinar, além de dores ósseas. Isso ocorre em função do aumento do tamanho do órgão. Centeno conta que algumas ações podem ser feitas de forma a prevenir o câncer de próstata.
“Primeiro é importante ter uma dieta equilibrada, que seja rica em fibras, em vegetais e em proteína, evitando a gordura saturada. Cessar o tabagismo também é uma medida muito importante não só para o câncer de próstata, mas para evitar diversos outros tipos de câncer. A gente sabe também que os pacientes obesos, quando diagnosticados com câncer de próstata, evoluem pior do que os que não são obesos. E a mais importante todas é a atividade física, pois quando o paciente é diagnosticado com câncer, há maior chance dele viver mais e com mais qualidade quando ele pratica atividades físicas”, reforçou.
Além disso, o médico ressalta que o tratamento varia de acordo com cada caso. Conforme o estágio da doença, algumas pessoas diagnosticadas podem precisar de intervenção cirúrgica oncológica, com métodos minimamente invasivos como a cirurgia robótica e a laparoscopia, além da radioterapia ou outras formas de tratamento. Em casos com metástase, ou seja, com o tumor se espalhando para outros órgãos, podem ser realizados tratamentos paliativos, aliados com radioterapia e tratamento hormonal.
Correio do Povo
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