Coordenador afirmou que projeto voltará com um trabalho ainda maior, mas que precisará de ajuda da comunidade
Após o período de luto por acidente no Paraná, iniciativa terá continuidadeO tempo virou em Pelotas nesta quarta-feira. O clima nublado substituiu o céu azul sem nuvens dos dias anteriores. No dia após o velório das nove vítimas do acidente no Paraná, apenas uma pessoa estava na sede Aníbal Vidal, onde funciona o projeto “Remar para o Futuro”: o instrutor Felipe Fonseca, que emocionado disse que Oguener era seu amigo de infância.
“Vim aqui espontaneamente para arrumar os remos no lugar, para sentir um pouco disto aqui. Minha primeira experiência de entrar na água foi com ele”, contou Fonseca, atuante na Academia Tissot.
Apesar do momento ser de recolhimento e luto, envolvidos no projeto sinalizaram a continuidade das atividades do projeto.
O prédio onde funciona a sede estava fechado. “Talvez eu tenha sido o primeiro aluno, apesar de que, naquela época, ele não era professor, era simplesmente um remador também”, relembrou, acrescentando que tinha 13 anos quando iniciou no Clube Náutico Gaúcho, e Tissot 19. “Depois de todos aqueles anos, ele assumiu a academia e eu fui trabalhar com ele.”
Fonseca contou que remava até 2020, quando parou, retornando há apenas um mês e meio. “É tudo muito recente, difícil de processar. Sobre o futuro, precisamos pensar. Ainda não sei o que dizer”.
"Vamos avançar e fazer um trabalho ainda maior”
Em quase 10 anos, o Projeto Remar Para o Futuro já recebeu mais de 150 jovens. Um dos coordenadores da iniciativa é o professor Fabrício Boscolo. Em uma publicação em uma rede social ele garantiu a continuidade do projeto e agradeceu as mensagens de carinho.
“É um momento de muita dor e estamos vivendo intensamente o nosso luto, ao mesmo tempo temos recebido muitas vibrações positivas e mensagens de carinho e incentivo”, agradeceu. Ele disse se sentir responsável pela continuidade da iniciativa.
“O Remar para o Futuro não vai parar. Nós ressurgiremos, vamos avançar e fazer um trabalho ainda maior, mas para isto precisamos de muita ajuda”, concluiu.
Prefeita de Pelotas conta como nasceu a ideia do “Remar para o Futuro”
A prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, passou muitas horas destes três últimos dias em circulação, primeiramente no Aníbal Vidal e depois no Centro Português. Já em seu gabinete, ornado de inúmeras referências históricas, ela disse que o “Remar para o Futuro” é apenas um dos diversos projetos esportivos apoiados pela Administração, além de ações de dança, taekwondo e vôlei. “Poderíamos fazer uma secretaria municipal do Esporte, mas este assunto está dentro da Educação por acreditarmos que poderíamos investir mais”, afirmou Paula.
Pela regra orçamentária, 25% da arrecadação dos municípios deve ser destinada à área educacional. “Os alunos do projeto também eram de nossas escolas. O ‘Remar para o Futuro’ caiu como uma luva para nós, porque já tínhamos algo semelhante na área da dança. A ideia era esta: o poder público coloca recursos, buscamos pessoas com talento e disposição e damos uma oportunidade que eles não teriam normalmente”, acrescentou a prefeita, justificando que modalidades como o remo “são caras”, e, portanto, o Remar seria uma importante porta de entrada.
O “Remar para o Futuro” iniciou em 2015, quando Paula, vice-prefeita na época, soube da ação por meio de Ricardo Leite, irmão do então prefeito Eduardo Leite, hoje governador, Oguener e a Universidade Federal de Pelotas (Ufpel).
“Nos reunimos e fiquei muito empolgada. Vi que havia consistência no projeto. Divulgamos nas escolas e fizemos uma seleção, com muitos interessados”, afirma ela. A partir daí, o “Remar para o Futuro” ganhou tração e exportou diversos talentos da modalidade para eventos nacionais.
Um convênio foi assinado, e hoje há um termo de fomento, no qual a Prefeitura auxilia com cerca de R$ 136,6 mil anuais, em pagamentos mensais, que dá direito a três viagens de participação em competições. Porém, a ida e volta de São Paulo na semana passada foi patrocinada por uma emenda impositiva de R$ 30 mil do vereador Jone Soares (PSDB).
Oguener, por sua vez, foi descrito tanto por Paula como por Fonseca como alguém “visionário”, que sabia enxergar oportunidades e virtudes em seus alunos. A chefe do Executivo, em fim de mandato, disse também acreditar que, por se tratar de um plano de município, e não de governo, o projeto deva continuar, embora o momento seja de compreender a tragédia.
“Período de luto, recolhimento e reflexão”
A reitora da Ufpel, Isabela Andrade confirmou a continuidade do projeto. Ela conta que ontem (terça-feira) conversou brevemente com o ministro dos Esportes, André Fufuca, que esteve em Pelotas, com a prefeita Paula Mascarenhas, e com o professor Fabrício Boscolo.
“Todos nós estamos muito sensíveis com tudo que ocorreu, mas falamos sobre a continuidade do projeto, com todo apoio e respaldo que pudermos dar. A prefeitura, o governo do Estado e o Ministério dos Esportes se colocaram à disposição para ajudar a manter o projeto vivo”, garante.
Para Isabela, isto é necessário por aqueles que se foram lutando e representando o “Remar Para o Futuro” fora da cidade e pelo que estão na cidade e que enxergam como uma forma de futuro. “Sabemos que nossos atletas sonham com uma olimpíada, que eles têm potencial e que vale o investimento, por isso vamos buscar parcerias e apoio, pois sozinho não se faz nada”, opina.
Ela acredita que o projeto é de sucesso, porque une vários esforços, universidade, prefeitura, Remo Tissot, Centro Português. “São várias pessoas que entendem o potencial não só esportivo mas social que a iniciativa representa. Muda toda uma comunidade, famílias, vizinhos. O período é de luto, recolhimento e reflexão, mas em breve retomaremos o diálogo para que este importante projeto continue”, garante.
Momento de luto na cidade
Uma das grandes questões é a recuperação emocional dos envolvidos no projeto e de toda uma cidade após a tragédia. A coordenadora do setor de saúde e qualidade de vida da universidade, Carolina Anderson Bunde, esteve no local do velório e conversou com algumas famílias. Para ela, é necessário respeitar o momento de luto, pois nem todas estão prontas para conversar sobre tudo que ocorreu.
“Cada um sente de uma forma. Passado o momento de luto, tem que ser feito um acompanhamento de profissionais de saúde, se assim desejarem, para amenizar todo o sentimento deste momento difícil. Tudo é muito rápido e intenso. É necessário que se respeite o momento deles. Todos os adultos e crianças merecem acolhimento, seja nas escolas que estudam ou em seus locais de trabalho”, sugere.
Correio do Povo
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