sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Ibovespa interrompe série positiva e cai 0,73%; dólar registra leve baixa

 Moeda norte-americana fechou o dia a R$ 5,6596

Na semana, o Ibovespa ainda sobe 0,62%, com perda no mês a 0,78% 

Em sessão sem catalisadores para estender a série positiva, o Ibovespa operou na contramão de Nova York e fechou em baixa de 0,73%, aos 130.793,41 pontos, após três ganhos seguidos. Hoje, saiu de máxima na abertura aos 131.715,84 pontos e, no pior momento, operou abaixo dos 130 mil, a 129.901,94. Enfraquecido após o vencimento, ontem, de opções sobre o índice, o giro caiu a R$ 17,8 bilhões.

Na semana, o Ibovespa ainda sobe 0,62%, com perda no mês a 0,78% - no ano, cede 2,53%. Entre as ações de maior peso e liquidez, poucos nomes conseguiram se descolar do sinal do Ibovespa nesta quinta-feira, como Itaú (PN +0,20%) e Bradesco (ON +0,45%, PN +0,66%). Vale ON, a principal ação do Ibovespa, cedeu hoje 2,53%, após ganho de 1,91% na sessão anterior.

A ação da mineradora foi impactada pela forte correção nos preços da commodity, em queda de 6% em Dalian, na China, e de mais de 4% em Cingapura, ante a frustração do mercado em relação à falta de medidas de estímulo adicionais na economia chinesa. Analistas da ANZ Research observam que a queda nos preços do minério de ferro está ligada à coletiva de imprensa do Ministério da Habitação da China, reporta a jornalista Beatriz Capirazi, do Broadcast.

Na coletiva, o ministério focou medidas para impulsionar o setor imobiliário, mas não anunciou valores específicos para estímulo fiscal, o que desapontou investidores. Petrobras, por sua vez, com a ON em baixa de 0,47% e a PN, de 0,75%, no fechamento, não acompanhou a leve recuperação do petróleo, que subiu hoje após quatro sessões no negativo.

Na ponta perdedora do Ibovespa, destaque para Hapvida (-3,63%), Yduqs (-3,59%) e Hypera (-3,06%). No lado oposto, BRF (+2,66%), Marfrig (+2,54%) e Brava (+2,21%). 'O Ibovespa cedia mais forte pela manhã, mas moderou a perda à tarde, em melhora favorecida pela redução da alta observada na curva de juros e pela relativa estabilidade no câmbio', aponta o analista da CM Capital Rafael Lage.

Em direção ao fim da tarde, o dólar mudou de direção e fechou o dia em leve baixa de 0,10%, a R$ 5,6596, perto da mínima da sessão, de R$ 5,6585. 'Depois de subir cerca de 1,7% nos últimos dias, o Ibovespa virou hoje para queda, chegando a devolver mais da metade dessa alta somente no dia de hoje.

Houve frustração quanto à possibilidade de novos estímulos da China ao setor imobiliário, o que fez com que o minério de ferro em Dalian chegasse a ficar abaixo de US$ 100 por tonelada pela primeira vez em três semanas', diz o analista da Melver Inácio Alves. 'A elevação dos juros de longo prazo no Brasil também teve efeito negativo sobre empresas de setores cíclicos e de consumo, contribuindo para o desempenho desfavorável da Bolsa' nesta quinta-feira, enfatiza o head da mesa de renda variável e sócio da GT Capital, Anderson Silva, acrescentando uma dimensão doméstica às dúvidas do mercado com relação ao fator China e o efeito que produzirá sobre a demanda global por commodities, que afetam diretamente carros-chefes da B3 como Vale e Petrobras.

Dessa forma, quase na mesma proporção, a sessão foi negativa tanto para as ações com sensibilidade a juros e exposição à economia doméstica, como as de consumo (ICON -0,79%), quanto para as correlacionadas a preços e demanda formados no exterior, como as de materiais básicos (IMAT -0,61%).

Dólar

O dólar inverteu o sinal nos últimos minutos, passando a ceder por causa de um movimento de ajuste. Operadores do mercado mencionaram que o nível de R$ 5,65 que a divisa sustenta por três pregões é considerado elevado e que não houve novidades no noticiário doméstico fiscal.

Mais cedo o câmbio foi pressionado pelo cenário externo, como a nova decepção do mercado com a China e uma bateria de dados mais fortes da economia americana. No segmento à vista, o dólar caiu 0,10%, a R$ 5,6596.

Às 17h44, o contrato para novembro recuava 0,28%, a R$ 5,6620. Já o DXY, que mede a moeda americana contra seis rivais fortes, fechou em alta de 0,20%, a 103,795 pontos. O especialista em câmbio da Manchester Investimentos, Thiago Avallone, afirma que o movimento está atrelado a um ajuste, em que 'é natural que o dólar ande de lado, pois está em patamar muito elevado'.

Além disso, a preocupação doméstica - o quadro fiscal brasileiro - seguiu sem novos desdobramentos, abrindo espaço para uma realização. Para o consultor econômico da plataforma de transferências internacionais Remessa Online, André Galhardo, o potencial alívio no câmbio está atrelado ao fato de que o governo recentemente tem dado indicações de que realizará um ajuste fiscal pelo lado das despesas, o que traria maior sustentação para o arcabouço fiscal.

Reportagem especial do Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) nesta quinta-feira mostrou que desde a virada de setembro, o dólar acumula alta de 4% ante o real e, na visão de participantes do mercado, a pressão tende a elevar as projeções de câmbio para o fim de 2024, ainda que possa haver um alívio em relação ao nível de R$ 5,65 alcançado recentemente. Ainda assim, a apreciação do real não foi exceção. Entre as oito principais divisas de emergentes e exportadores de commodities, só três se desvalorizaram em relação ao dólar: a mais expressiva foi o peso chileno, que caiu cerca de 1%, enquanto o mercado aguarda a decisão de política monetária do país, marcada para após o fechamento.

Pela manhã a divisa americana chegou a tocar os R$ 5,6880. Galhardo, da Remessa Online, considera que o elemento mais importante de pressão sob o real nesta quinta-feira foi a China, que 'novamente decepcionou com a ausência de informações mais completas sobre as medidas de estímulo, o que impacta na cotação do minério de ferro'.

Outro ponto de pressão para o real diz respeito aos dados benignos de emprego, varejo, indústria e construção dos Estados Unidos. 'Dados fortes nos EUA saíram pela manhã e isso mostra economia resiliente, o que acaba tirando chance de um comportamento mais agressivo no corte da taxa de juros lá fora. Isso acaba favorecendo ainda mais a moeda americana', pondera o especialista em câmbio da Manchester.

Hoje o Banco Central Europeu (BCE) reduziu as taxas de juros pela terceira vez seguida, o que também aumenta a atratividade do dólar.

Juros

Os juros futuros desaceleraram o ritmo de alta nesta tarde, fechando perto dos ajustes de ontem, com o mercado dando sinais de algum cansaço no movimento de desmontagem de posições vendidas que prevaleceu em boa parte da sessão. O risco fiscal continuou comandando a dinâmica da curva, que hoje também esteve submetida à pressão vinda dos Treasuries, com dados da economia americana surpreendendo positivamente. O leilão de prefixados do Tesouro foi considerado ruim, ainda que com demanda integral nos papéis mais longos, mas a taxas salgadas que chegaram a 13% nos vencimentos intermediários.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 12,65%, de 12,64% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 ficou em 12,80%, de 12,81%. O DI para janeiro de 2029 terminou a 12,84%, de 12,83%. No fim do dia, prevaleceram fatores técnicos de correção de parte de excessos recentes.

'O fiscal continua sentado no banco do motorista', ilustrou o economista-chefe da Porto Asset, Felipe Sichel, para explicar o papel predominante que as preocupações com as contas públicas têm tido nestas últimas três sessões de alta das taxas. Após o mercado ter ontem reagido mal ao projeto de exclusão das estatais do Orçamento encaminhado ao Congresso, o economista disse que as questões relativas ao fundo da aviação anunciadas hoje também pressionaram os DIs. 'E, como um adicional, ainda tem o fato de que a curva de juros nos Estados Unidos também está apresentando abertura e aumento na inclinação, essencialmente relacionado à perspectiva de que a economia lá está mais forte', comentou.

O governo enviou ao Congresso a proposta que destina R$ 4 bilhões em recursos do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac), o socorro financeiro às empresas aéreas, em montante R$ 2 bilhões menor do que o que chegou a ser anunciado pelo Ministério de Portos e Aeroportos, de R$ 6 bilhões. No exterior, a decisão do Banco Central Europeu (BCE) de reduzir os juros em 25 pontos-base, amplamente esperada, não empolgou o mercado local, que foi mais influenciado pela reação de Wall Street aos indicadores americanos.

As vendas do varejo acima do previsto e a inesperada queda nos pedidos de auxílio-desemprego fortaleceram apostas de manutenção do juro pelo Federal Reserve em novembro, embora a de corte de 25 pontos ainda seja majoritária. O estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves, afirma que os dados reforçam a percepção de que a economia dos EUA está vivenciando um 'soft landing', com desaceleração gradual da inflação, mas mantendo uma atividade econômica firme.

'Como resultado, as apostas em cortes mais agressivos na taxa de juros diminuíram, levando a ajustes nas curvas após as recentes quedas nos yields', disse. Ultimamente, os DIs têm ignorado eventuais alívios na curva americana, mas mostram sensibilidade ao movimento contrário, de abertura. Sichel explica que o fator externo é 'só um adicional' porque o fundamental está relacionado à perspectiva fiscal doméstica.

'Tanto é que a curva aqui no Brasil começou o dia abrindo, antes da divulgação das vendas no varejo lá fora', lembra. Na gestão da dívida pública, o Tesouro reduziu os lotes de prefixados nos leilões ante os da semana passada, mas com risco para o mercado parecido aos anteriores. Chamam a atenção as taxas de 13% para as LTN 2028 e 2030, acima até das NTN-F, entre 12,83% e 12,85%, que por serem de prazo mais longo têm um risco maior.

Mesmo com taxas salgadas, o Tesouro não conseguiu colocar toda a oferta de 7 milhões de LTN, vendendo 5,650 milhões. O lote de 1,050 milhão de NTN-F saiu integral, mas com taxas no pico do ano e piores do que a marcação da Anbima, segundo o especialista em renda fixa Alexandre Cabral. 'Voltamos a ver a taxa de juros beirando 13,00%, é péssimo! Gringo comprando Brasil, mas pedindo taxa demais', comentou.

Estadão Conteúdo e Correio do Povo

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