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quinta-feira, 3 de outubro de 2024

Como está a retomada de Porto Alegre cinco meses depois da enchente histórica

 Capital dos gaúchos ainda convive com marcas da cheia de maio enquanto busca retomar também, entre tantos setores, as estruturas públicas, praças e parques

Marcas da enchente de maio seguem presentes no Centro Histórico de Porto Alegre cinco meses depois 

Moradores fora de casa, abrigados em barracas ou em estruturas provisórias, agências bancárias e empresas fechadas. As marcas da enchente de maio, que completa cinco meses nesta quinta-feira, vão além da linha barrenta com mais de 1 metro de altura estampada na parede de imóveis em regiões atingidas. Passados cerca de 150 dias da maior tragédia climática, a cidade ainda convive com o drama, mas, gradualmente, apresenta sinal de recuperação.

Entre os locais públicos que passam por um cuidado especial para serem retomados estão as praças e parques. Segundo o Escritório da Reconstrução na Capital, são 134 espaços em recuperação após a enchente de maio, com valor de investimento em cerca de R$ 47 milhões. Segundo a pasta, todas as praças e parques que passaram por algum serviço de recuperação já estão em operação, apesar da necessidade de obras complementares. Dez locais seguem em obras ou com projetos em andamento, como no Marinha do Brasil e no Trecho 3 da Orla do Guaíba.

Na zona Norte, um dos principais espaços públicos disponíveis para os moradores é o Parque Mascarenhas de Morais, que presencia aos poucos o retorno da vida animal. Além de um local de lazer para a população, o parque é também um refúgio para uma grande variedade de aves, como garças e quero-queros. Muito atingido pela enchente e marcado por semanas pela lama que sobrou da cheia do Guaíba e do rio Gravataí, o parque ficou meses sem receber as aves.

Entretanto, nas últimas semanas, elas voltaram a chamar o Mascarenhas de Morais de lar, inclusive gerando novas vidas no local. Moradora da Vila Farrapos, Juliana Godoy, de 34 anos, utiliza o parque como espaço de caminhada todos os dias e celebrou o retorno das aves como um simbolismo da recuperação do espaço. Além da limpeza geral, o local recebeu pintura do mobiliário, novas telas de cercamento nas quadras, troca de saibro e manutenção dos equipamentos de prática esportiva.

“Agora já é possível ver a revitalização do parque. Os animais já retornaram e tudo está voltando aos poucos. Ainda não está como a gente gostaria que estivesse, pois ainda tem algumas áreas alagadas. Mas ele já ajuda bastante na nossa volta à normalidade, seja para fazer caminhada, apreciar os pássaros no final da tarde, e para a gente ter um espaço de lazer, com tranquilidade e segurança”, relatou a moradora.


Renascimento no fogo e na água

Além das praças e parques, outro dos espaços públicos da Capital que mais foi atingido pela cheia foi o tradicional Mercado Público de Porto Alegre, no coração do Centro Histórico. Completando 155 anos de fundação nesta quinta-feira, o local segue como símbolo do recomeço, com a maioria das bancas já tendo retomado as atividades, mas com alguns espaços fechados desde então. E a história de renascimento de um de seus permissionários se assemelha à do Mercado Público.

Se, em julho de 2013, o segundo andar do centro de compras ardeu em chamas, o mesmo aconteceu em julho de 2022 com a Zimmer Pet Store, uma agropecuária com quase 50 anos de fundação. Após quase dois anos com atividades suspensas em função de um incêndio de grandes proporções no imóvel onde antes funcionava, na avenida Júlio de Castilhos, a loja decidiu recomeçar em abril deste ano, desta vez como permissionária no Mercado Público.

Menos de três semanas depois, o Guaíba avançou e alagou o sonho da reabertura. Renascida do fogo, a Zimmer agora precisou renascer também da água. “É bem difícil. Quando nós perdemos toda nossa empresa no incêndio, não sabíamos mais se seria possível retornar. Mas é a nossa vida e a nossa história. Eu cresci nesse negócio. Meus filhos cresceram nesse negócio e trabalham aqui. Essa é a nossa vida e não vamos desistir”, contou Roberto Zimmer, 58 anos, proprietário da loja.

Segundo ele, apesar das dificuldades apresentadas, o Centro Histórico tem apresentando melhores condições para a retomada econômica da região. Entretanto, ele aguarda pela retomada de outras estruturas, como a estação Mercado do Trensurb, para um maior movimento de clientes. “Nós somos resilientes e esperançosos. Nós precisamos do movimento de pessoas aqui na área Central. Mas estamos esperançosos que esse movimento volte nos próximos meses”, finalizou.


Limpeza da enchente deve encerrar em novembro

Iniciada assim que a água baixou na Capital, a operação de limpeza da cidade deve ser concluída até a metade de novembro, segundo o diretor-geral do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), Carlos Alberto Hundertmarker. Passados cinco meses da enchente, o órgão já contabilizou 130 mil toneladas de entulhos descartadas pelas pessoas afetadas. Além disso, dos nove bota-espera criados em Porto Alegre, Hundertmarker aponta que cinco já foram encerrados e outros três estão em processo de limpeza do terreno.

“Até o momento, recolhemos 130 mil toneladas de resíduos da enchente. Destes, 90 mil toneladas já foram destinadas para aterros e 40 mil toneladas ainda estão divididas entre os bota-espera. Mas a limpeza da cidade passa por uma série de etapas. Não é apenas recolher o lixo. É preparar a cidade para voltar ao normal. A nossa previsão é encerrar todo o planejamento de limpeza da enchente nos próximos 40 dias”, citou Hundertmarker, que também destacou o trabalho de limpeza realizado na Capital, com raspagem do lodo e remoção de areia, principalmente na região das Ilhas.

Ainda conforme o diretor-geral do DMLU, muito do avanço nas últimas semanas para a retirada dos entulhos que estavam nos terrenos de bota-espera ocorreu em função da liberação de dois aterros sanitários, um em Santo Antônio da Patrulha e outro em Minas do Leão, para a destinação dos resíduos, após imbróglio envolvendo o antigo aterro para onde o lixo era destinado, em Gravataí. Hundertmarker também citou que toda a operação de limpeza da enchente não causou prejuízos aos trabalhos de rotina do departamento.


Avanços na recuperação nos últimos 30 dias

Uma das principais estruturas que foram retomadas em Porto Alegre entre o quarto e o quinto mês depois da enchente foi a malha ferroviária. Ainda em operação parcial, as viagens do Trensurb, que antes eram feitas apenas entre as estações Canoas e Novo Hamburgo, retornaram à Capital até a estação Farrapos. No local, os usuários que precisam se deslocar ao Centro Histórico ainda precisam utilizar o sistema de ônibus fretados pela empresa pública, assim como para quem está na região Central e precisa utilizar o metrô.

Já a grande expectativa para os próximos 30 dias está no retorno das operações do Aeroporto Internacional Salgado Filho. Parte da pista precisou passar por obras de recuperação para a retomada de voos, que deverá ocorrer no dia 21 de outubro. Após, outra parte da pista passará por obras durante a madrugada, para permitir o retorno completo, incluindo voos internacionais, ocorrerá em 16 de dezembro.



Correio do Povo

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