quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Brics aprova adesão de 13 países, sem Venezuela, apesar da visita de Maduro

 Apesar de contar com apoio de Rússia e China e de ter viajado a Kazan, Maduro viu seu plano de entrar no bloco vetado pelo presidente Lula



Os países do Brics formalizaram nesta quarta-feira, 23, a criação de uma nova categoria de associação e definiram uma lista de 13 países que serão convidados como parceiros, deixando de fora a Venezuela. Apesar de contar com apoio de Rússia e China e de ter viajado a Kazan, o ditador Nicolás Maduro viu seu plano de entrar no bloco vetado pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.

A versão oficial do governo Lula é que o Brasil não patrocinou novas adesões, nem as vetou. Questionado sobre a Venezuela, o chanceler Mauro Vieira afirmou que a questão não foi discutida explicitamente entre os líderes.

"A discussão foi sobre critérios e princípios que vão orientar a ampliação futura do Brics”, disse Vieira. A lista de países será decidida mais adiante, segundo ele. “A presidência russa fará consultas com cada um dos dez membros e depois anunciaremos os países” - a lista total seria composta de 33 países.

Nos bastidores, porém, diplomatas envolvidos nas tratativas indicaram que o Brasil de fato vetou a Venezuela. Segundo negociadores, eles receberam instruções de Lula e de seu assessor especial, Celso Amorim. Ambos estão incomodados com o comportamento de Maduro e de seus aliados chavistas.

O ditador venezuelano realizou ontem uma reunião com o presidente russo, Vladimir Putin, e ganhou um afago. “A Venezuela é um dos parceiros confiáveis da Rússia na América Latina e no mundo todo”, disse Putin. O chavista respondeu. “A Venezuela está no caminho do Brics.”

Membros

Kazan foi a primeira cúpula após a expansão do Brics, no ano passado. Participaram do encontro Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul (antigos membros), Arábia Saudita, Egito, Etiópia, Emirados Árabes e Irã (novos membros). O Brasil assume a presidência rotativa em 1.º de janeiro, quando serão incorporados mais 13 países como “parceiros”.

Estadão teve acesso à “lista consolidada de parceiros”. São eles: Argélia, Belarus, Bolívia, Cuba, Indonésia, Malásia, Casaquistão, Usbequistão, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda e Vietnã.

O chanceler brasileiro afirmou que é contra um “aumento desmedido” do Brics, que tem pouca densidade institucional.

Reforma da ONU

A declaração final da cúpula de Kazan incluiu novamente uma defesa da reforma institucional da ONU. “Reafirmamos nosso apoio a uma reforma abrangente das Nações Unidas, incluindo Conselho de Segurança, com o objetivo de torná-lo mais democrático, representativo, eficaz e eficiente, e de aumentar a representação dos países de África, Ásia e América Latina, incluindo os países do Brics.”

O documento final assinado ontem apresentou uma pequena diferença com relação à declaração da cúpula de Johannesburgo, no ano passado, que citava nominalmente Brasil, Índia e África do Sul - desta vez, os três foram substituídos pelo termo genérico “países do Brics”.

A mudança pode significar que a rivalidade regional, que por muito tempo travou a reforma da ONU, chegou ao Brics. Em 2005, o Brasil formou o G-4, ao lado de Alemanha, Japão e Índia, para atuar em conjunto pela reforma do Conselho de Segurança.

A manobra, porém, não avançou em razão do contra-ataque diplomático de rivais: México, Argentina, Itália, Espanha, Coreia do Sul e Paquistão criaram um grupo batizado de “Unidos pelo Consenso”, que barrou a reforma.

Agora, o entrave viria de Egito e Etiópia, recentemente aceitos como membros do Brics, que questionam especificamente a entrada da África do Sul no Conselho de Segurança. Em setembro, durante a Assembleia-Geral da ONU, pela primeira vez uma reunião de chanceleres terminou sem um comunicado conjunto por causa de objeções dos governos egípcio e etíope.

Estadão Conteúdo e Correio do Povo

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