Candidata petista quer conquistar eleitores de Juliana Brizola para tentar virada sobre Melo
Dezesseis anos depois, Maria do Rosário (PT) irá disputar novamente o segundo turno das eleições para a prefeitura de Porto Alegre contra um candidato do MDB. Com 26,28% dos votos, a candidata petista ficou em segundo lugar na corrida, atrás do prefeito Sebastião Melo, com 49,72%. Como indicavam os levantamentos, Rosário desbancou os demais candidatos. Entre eles, Juliana Brizola (PDT), que ficou em terceiro lugar com 19,69% dos votos.
Na reta final da campanha, o movimento do “voto útil” para candidata pedetista chegou a assustar interlocutores da campanha de Rosário, uma vez que Juliana aparecia como a única que venceria Melo em um eventual segundo turno.
Agora, o movimento é inverso e caberá a Rosário tentar conquistar os 136.755 eleitores de Juliana. A candidata já afirmou que irá buscar o apoio da pedetista e essa foi a principal tônica do discurso da petista após a apuração. “A partir desse momento nossa prioridade é o diálogo, a mão estendida, é o respeito ao programa de Juliana Brizola, a responsabilidade diante das ideias de seu vice também, dr. Thiago, que fez um belíssimo trabalho nesse primeiro turno”, afirmou a candidata em pronunciamento animado após a confirmação dos votos.
No discurso, focou no eleitor que não foi votar. Diante de mais de 30% de abstinência, Rosário fez um apelo. “Nessa hora, a cidade não está decidindo apenas quatro anos. Depois da tragédia que nós vivemos e diante das dificuldades administrativas que Porto Alegre vive, a próxima administração abrirá no período de dez, quinze anos, um projeto de desenvolvimento da cidade. Então, o meu convite às pessoas é para que possamos mostrar ao Brasil um segundo turno com muito mais eleitores e eleitoras indo para a urna. Nós ainda temos um grande número de abstenções, e a democracia é também exercida quando a pessoa percebe que o direito de voto é o seu direito de se posicionar diante da sociedade.”
Enquanto as urnas iam fechando, o clima era de festa no comitê da Cidade Baixa. Em segundo lugar durante toda apuração, os números foram consolidando a certeza que a candidatura tentou transparecer ao longo de toda campanha.
Vencida a primeira batalha, Rosário tem 20 dias para convencer o eleitor de que ela é a melhor opção para comandar a cidade. Tarefa que ganha uns tons a mais de dificuldade considerando os altos índices de rejeição que a deputada carrega. Dentro do comitê, todas as fichas estão nessa segunda fase, uma vez que o entendimento é o de que a campanha adota um tom mais democrático, uma vez que o tempo de propaganda no rádio e na TV é o mesmo para os dois candidatos – no primeiro turno, a coligação de Melo garantiu a ele cinco minutos, enquanto Rosário teve dois minutos.
“O segundo turno é uma nova eleição. Com tempo igual de televisão, o contato é direto com o adversário e vamos exigir as respostas que não foram dadas no primeiro turno”, diz Rosário. Com isso, será possível explorar nos programas um tom diferente e com críticas mais incisivas contra o prefeito.
Boa parte da estratégia de campanha de Rosário se deu na tentativa de tentar diminuir a rejeição da candidata, desde adotar o “Maria” até mostrar mais o seu trabalho com direitos humanos e sua vertente cristã. Outra imagem que se precisava reforçar era de que Rosário era a candidata de Lula.
A presença do governo federal e sua “boa interlocução”' com Brasília foram constantemente trabalhadas nos discursos e nas próprias propostas da candidata. Na reta final, ainda que não tenha vindo para Porto Alegre para fazer campanha, Lula chegou a gravar uma mensagem diferente das genéricas adotadas para os outros candidatos, a fim de impulsionar a candidatura da correligionária.
Assim, com poucos minutos nos programas eleitorais gratuitos e duas mensagens a se passar, sobrou para os aliados os ataques mais incisivos a Melo. A equação parece ter sido equilibrada na reta final e surtido efeito. Agora, Rosário, que há dezesseis anos atrás, perdeu a eleição de 2008 para José Fogaça (MDB), vê o cenário se repetir, mas trabalha para que o resultado das urnas não seja o mesmo de anos atrás.
Correio do Povo
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